2ª Parte
O MUNICÍPIO DE SÃO
MIGUEL DO PASSA QUATRO
CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO
Creio que a
população inteira tem consciência de que vamos enfrentar grandes dificuldades
nesse início de administração. Estamos começando do nada.
Perguntaram-me
se a Prefeitura tinha pelo menos uma vassoura, ou uma caneta, ou uma cadeira.
- Como, se não
existe nem Prefeitura? - foi a minha resposta
Capítulo I
O PERÍODO ENTRE A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO E
SUA INSTALAÇÃO (09/01/88 - 01/01/89)
1. A Lei da Emancipação
Há dois pontos que precisam ser considerados na lei da
emancipação: primeiro, o texto apresenta erro grosseiro, quando omite o
Município de Cristianópolis na confrontação, ao sul, com o Ribeirão Matoso;
segundo, o número de vereadores fixado em sete pelo artigo terceiro foi
aumentado para nove pela Constituição Federal de 1988.
Eis a lei da emancipação, na íntegra, publicada no
Diário Oficial do Estado:
“LEI
Nº 10.432, DE 09 DE JANEIRO DE 1988
Dispõe sobre a criação do Município
de SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO e dá outras providências.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DE GOIÁS decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º - Fica transformado em
Município, com o topônimo de São Miguel do Passa Quatro, o atual distrito do
mesmo nome, do Município de Silvânia, deste Estado, dentro dos seguintes
limites e confrontações:
I - COM O MUNICÍPIO DE SILVÂNIA
Começa no espigão Divisor de Água
no ponto confrontante com a cabeceira mais alta do Ribeirão Passa Quatro; daí,
em rumo certo, à referida cabeceira; pelo Passa Quatro abaixo até a barra do
Córrego Monjolinho; por este acima até sua cabeceira; daí, em rumo certo à
cabeceira do Rio Preto; por este rio abaixo até sua barra no Rio dos Bois;
II - COM O MUNICÍPIO DE
VIANÓPOLIS
Começa na barra do Rio Preto, no
Rio dos Bois; desce por este rio até sua barra no Rio do Peixe;
III - COM O MUNICÍPIO DE BELA
VISTA DE GOIÁS
Começa na barra do Ribeirão
Matoso, no Rio Passa Quatro; sobe por este rio até a Barra do Ribeirão Arapuca;
daí, segue em rumo certo ao espigão Divisor de Água dos Ribeirões Passa Quatro,
no Município de Silvânia e Arapuca, no Município de Bela Vista de Goiás; segue
por este espigão até o ponto confrontante com a cabeceira mais alta do Ribeirão
Passa Quatro, onde tiveram início estas divisas.
Art. 2º - O Município criado pela
presente lei será instalado com a posse do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos
Vereadores eleitos simultaneamente com os dos Municípios já existentes,
ressalvado o disposto no § 1º do art. 15 da Constituição Federal.
Parágrafo
único - Para a instalação do Município a que se refere este artigo, os Poderes
Executivo e Judiciário tomarão as providências que se fizerem necessárias,
devendo o mesmo ter como sede o Distrito com o título de São Miguel do Passa Quatro.
Art. 3º - A Câmara de Vereadores do
Município de São Miguel do Passa Quatro será composta de 07 (sete) Vereadores.
Art. 4º - O Município criado pela
presente lei pertencerá à Comarca de Silvânia.
Art. 5º - Esta lei entrará em
vigor na data de sua publicação.
Art. 6º - Revogam-se as
disposições em contrário.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DE
GOIÁS, em Goiânia, 08 de janeiro de 1988, 100º da República.
HENRIQUE
ANTÔNIO SANTILLO
Valterli
Leite Guedes”
2. As condições impostas pela Lei da
Emancipação
O Município de São Miguel do Passa
Quatro foi criado pela Lei Estadual nº 10.432, de 9 de janeiro de 1988,
publicada no Diário Oficial do Estado de Goiás no dia 28 de janeiro do mesmo
ano, com entrada em vigor prevista para a mesma data de sua publicação.
Contudo, o próprio texto legal
estabeleceu que o Município criado somente seria instalado com a posse do
Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos simultaneamente com os dos
municípios já existentes. E a lei federal que regulamentava as eleições
estabelecia que a posse dos mandatários municipais aconteceria no dia 1º de
janeiro do ano seguinte, 1989.
Assim, havia um lapso de tempo entre
a publicação da lei de criação, quando então o novo Município passou a existir
no cenário da Federação, mas sem ostentar ainda o status de Município, que só ocorreria na data prevista para
primeiro de janeiro do ano seguinte, com a posse dos eleitos.
Foi um período muito difícil, porque
o Município existia, mas não existia, isto é, São Miguel do Passa Quatro já
estava emancipado, porém continuava pertencendo a Silvânia, que já não devotava
nenhum interesse por aquela Unidade Federativa que já havia saído de seus
domínios, de sua tutela. Foi um ano inteiro de euforia, de festa, de preparativos,
mas também de orfandade. É mais ou menos o que acontece com o filho que adquire
a maioridade contra o gosto de seus genitores e em seguida se vê sem emprego,
sem teto e sem nada, e não tem a quem recorrer.
A tensão era ainda maior por causa do
recurso interposto contra a criação do Município. O povo foi tomado pela dúvida
e pela descrença, já que a lei poderia ser derrubada a qualquer hora. A única
coisa que se podia mesmo fazer era aguardar o pronunciamento da Instância
Superior para saber se o Município era mantido ou não.
Mesmo assim, em meio a essas
incertezas, a campanha para os cargos majoritários e proporcionais estava nas
ruas. As eleições aconteceriam no dia 15 de novembro daquele ano de 1888 e
ninguém sabia ao certo se realmente haveria as tais eleições e se a criação do
Município viraria realidade.
É que em fevereiro de 1988 a Assembléia Legislativa
criou 49 novos municípios em Goiás, dentre eles Passa Quatro. A partir de
julho, no entanto, a Procuradoria Geral da República, munida de denúncia de
irregularidade apresentada pelo IBGE, encaminhou representações ao Supremo Tribunal
Federal pedindo a suspensão das leis que criaram tais municípios. Todavia, a
suspensão de 12 dessas leis não chegou a ser solicitada, estando entre elas a de
São Miguel do Passa Quatro, por interferência providencial do Deputado João
Natal. Assim, independentemente da decisão do TSE de fazer ou não eleição
nesses municípios criados, o certo é que os 12 distritos emancipados que não
tiveram suas leis suspensas poderiam eleger normalmente seus prefeitos e
vereadores na eleição do dia 15.
Porém, na data de 12 de outubro, também de 1988, a
grande notícia: em sessão daquele dia o Supremo Tribunal Federal confirmou a
emancipação de todos eles, com base na nova Constituição Federal que estabelece
que a criação e desmembramentos de municípios passam a ser de competência dos
Estados.
A propósito disso, na qualidade de
candidato majoritário fizemos distribuir nota à população dizendo o seguinte:
“Foi uma luta
incansável. Enquanto nossos opositores pregavam o pessimismo e a descrença, nós
estávamos lutando em Brasília para manter a criação da nossa cidade. E
conseguimos, Graças a Deus. Eles não. Não moveram uma palha. Pelo contrário,
enquanto nós rezávamos e lutávamos com unhas e dentes, eles estavam já pedindo
votos para os candidatos de Silvânia, dizendo ao povo que ‘Passa Quatro já caiu, Passa Quatro já era’.
Ora, nosso Município, que está começando
agora, precisa de gente com garra, com coragem para lutar e defender os
interesses do povo, seja em Goiânia, em Brasília, ou em qualquer lugar.”
O Deputado Federal João Natal teve participação
decisiva nesse processo de manutenção do Município, ele que foi o seu criador
enquanto Deputado Estadual em Goiânia, dando-nos o respaldo necessário.
3. A expectativa da população
A população vivia um clima de euforia sem igual,
porque via o sonho realizar-se, acompanhava o desenrolar dos fatos e era parte
integrante dele. Os mais idosos permaneciam pasmos diante da realidade, mas esperançosos,
e os mais reticentes e pessimistas desabrochavam-se em contentamento. As
crianças e os jovens eram o retrato da alegria, alheios às dificuldades que
viriam por consequência do ato emancipador. E nós, apesar da satisfação que
invadia nossa alma, éramos às vezes alcançados por momentos de preocupação,
porque sabíamos que o desafio tinha uma dimensão tal que poderia ser superior
às nossas forças. Festejávamos com o povo, porém com os pés no chão, cônscios
da enorme responsabilidade que pesava sobre nossos ombros.
Mais tarde, Paulo Edson, em artigo
publicado no jornal “O Patrimônio”, retratou com muita felicidade o sentimento
das pessoas do lugar. Dizia:
“Plantou-se
um esteio e com ele a esperança do lugar.
Plantamos nossas raízes nesta terra.
Criamos aqui nossa história; é por isto que estou pronto a abraçar os desafios
daqui... Que orgulho! Estamos entre os caçulas dos municípios goianos. Os
desafios empreendem agora novas fases; não terminam aqui. A emancipação foi
mais uma conquista, não a última; tão valiosa quanto o primeiro suor que ganhou
esta terra.
Todos nós
continuaremos guiando os destinos da nossa comunidade. Agora com as decisões
mais próximas e mais legítimas. O Legislativo é só nosso e o Executivo também.
Nossas sugestões, humildes, coerentes ou até absurdas, não mais viajarão sessenta
quilômetros para se submeterem ao crivo da bancada de uma comunidade mista. Os
objetivos dos nossos representantes de outrora, nossos objetivos, não serão
mais postergados. Não obstante a obediência de escala de prioridades, as
decisões dirigir-se-ão tão-somente ao nosso Passa Quatro. Cabe-nos acompanhar.
O nome do
nosso São Miguel do Passa Quatro já caminha sem tutela e com liberdade pelos
corredores do Estado e da União. Isto é sinônimo de maioridade, discernimento e
capacidade do nosso povo. Isto é participação. Isto é emancipação.”
4. A campanha política
Antes, um crítico inveterado dos
políticos e avesso às questões partidárias. Nos seguidos anos de salas de aula,
ministrando Língua Portuguesa e Organização Social e Política Brasileira -
OSPB, eu achava a classe política muito demagoga, profissionalista e
interesseira. Eu acreditava no idealismo político, na possibilidade até de
mudar o perfil da administração pública, mas o exemplo da grande maioria dos
profissionais do voto não era muito convincente nem animador.
Com esse ponto de vista, jamais imaginei entrar para a
política. No entanto, diante da emancipação de minha terra natal, onde cresci e
de onde guardo as melhores lembranças da infância e da adolescência; contando
ainda com o assédio insistente de amigos e de pessoas de bem que tinham idéias
compatíveis com as minhas, para o bem do Município recém-criado; mesmo morando fora e tendo de interromper uma
carreira profissional já exitosa no campo da advocacia, decidi dar minha
parcela de contribuição. Eu me sentia como o soldado que é convocado para a
guerra. Não tinha como recuar. Pesaram bastante na minha decisão as palavras
encorajadouras e as ponderações realistas de José Dênisson, Ex-Prefeito de
Silvânia e Deputado.
A insistência era tão grande para que
eu assumisse a postura de candidato, que os jornais regionais publicavam
matérias dando como certa minha candidatura. Um deles, “A Tribuna de Silvânia”,
em edição de dezembro/87, logo depois do plebiscito, publicou o seguinte:
“Há 43 anos o
pequeno povoado de São Miguel do Passa Quatro recebia para a vida, num lar
modesto e honesto, o hoje advogado Elson Gonçalves de Oliveira. Filho do Sr.
Sebastião, um biscoiteiro alegre e trabalhador, e de Dona Maria, Elson ficou em
sua terra até 1962 quando saiu para estudar, voltando logo em 1963, lecionando
no grupo do povoado até 1970. Fez o segundo grau morando em Vianópolis e cursou
Direito em Uberlândia. Antes ainda de concluir o curso, já prestava relevantes
serviços à sua gente de São Miguel, quer na área jurídica ou até mesmo fazendo
a declaração de renda deles. Muita coisa mudou nesse período. De povoado, São
Miguel passou a Distrito. E agora, graças ao trabalho do Deputado João Natal, o
sofrido distrito transformou-se em Município. No ano passado, com a instalação
do 2º grau no Colégio Graciano José da Silva, o Dr. Elson Gonçalves se mostrou
pronto a servir. Sem nenhum interesse econômico - magistério não tem esse
retorno -, lecionou aqui todas as quintas-feiras cinco aulas durante todo o
ano. No próximo ano acontecerão as eleições para Prefeito. Dr. Elson entra
nessa disputa. Irá à convenção do PMDB.”
A primeira batalha foi dentro do
diretório do partido político que escolhi na época, o PMDB. Custou muito
sacrifício, foi desgastante, alguns meses de trabalho árduo e estafante, mas
saímos vitoriosos. Éramos finalmente o candidato escolhido para concorrer ao
cargo majoritário de Primeiro Prefeito.
Vencido o primeiro obstáculo, vinha a eleição
propriamente dita. Do outro lado, tivemos dois adversários valorosos que não
quiseram alinhar-se conosco e preferiram postular também a Prefeitura, o que
constituía um direito de cada um: Manoel Martins de Carvalho, pelo Partido
Liberal - PL, e Geraldo Magela, pelo Partido dos Trabalhadores - PT. E aí
começou a campanha que nos levaria a ser agraciado com o título único de
Primeiro Prefeito. Meses e meses a fio visitando casas, cumprimentando o
eleitor, proferindo palestras, conversando com as pessoas, enfim, buscando o
voto.
O nosso primeiro panfleto de campanha
trazia o seguinte texto, cuidadosamente elaborado:
“São Miguel do
Passa Quatro agora é município autônomo. Só falta mesmo a instalação que se
dará, com sucesso, mediante o esforço e a competência do primeiro prefeito.
O ELSON é a
pessoa ideal para essa tarefa. Ele reúne todas as condições necessárias para
implantar o município. É sério, competente, bom administrador, entende de leis,
trabalhou em Prefeitura muitos anos e é gente daqui.
O ELSON nasceu
na roça, ali no Córrego Fundo. É filho do Bastião Gonçalves e da dona Maria,
pessoas pobres mas honradas, que prestaram grandes serviços a esta terra. O
ELSON cresceu aqui, estudou aqui, lecionou aqui vários anos, inclusive muitos
dos eleitores de hoje foram alunos dele.
A COTINHA,
esposa do Elson, também é daqui. Ela é filha do saudoso Zé Calixto e da dona
Izídia. Os dois saíram daqui apenas para estudar. Hoje o Elson é advogado e a
Cotinha é normalista. Agora querem aplicar aqui tudo o que aprenderam lá fora.
Eles vão morar aqui e pretendem trabalhar com o povo, especialmente com os mais
pobres e necessitados. Querem calçar as ruas e zelar da cidade, para evitar
essa buraqueira que existe aí há tantos anos. As estradas e
as pontes
serão construídas, reformadas e zeladas com cuidado. A educação terá prioridade
e será reestruturada, enquanto que o esporte terá incentivo. As atenções serão
voltadas também para a saúde da nossa gente. Outras conquistas urgentes serão o
telefone, a água tratada, a energia elétrica trifásica e a eletrificação rural,
os serviços de correio, os cartórios
etc.”
Conseguimos muitos adeptos à nossa plataforma política
usada na campanha. Um deles, Dr. Shenko, que mais tarde viria contribuir com
enorme parcela para a administração pioneira, declarou publicamente o motivo de
seu engajamento na nossa candidatura, expressando o seguinte:
“Eu dei o meu
apoio maciço ao Elson porque eu achava, e sempre achei, que para que se pudesse
fazer a instalação e a institucionalização de um novo município, era necessário
que tivéssemos um prefeito com uma formação cultural maior, porque os encargos
desse primeiro mandato iriam fazer grandes solicitações a essa pessoa, ao
prefeito. Daí o meu apoio ao Elson, que era um advogado, uma pessoa com bastante
experiência administrativa, filho da cidade, nascido e criado nela, e que até
agora não nos tem decepcionado, mostrando mais uma vez que nós tínhamos razão.
É só ver em um ano de administração, a quantidade de realizações do Elson”
(Jornal “O Patrimônio”, nº 5).
Ao mesmo tempo em que partíamos para o corpo-a-corpo
com o eleitor, engendrávamos já algumas obras e serviços prioritários e
urgentes para o lugar. Foi assim que conseguimos a instalação dos serviços
telefônicos para a cidade antes mesmo da eleição. Havia um impasse muito
grande, porque a Telegoiás só instalaria o posto de telefonia se a prefeitura
construísse primeiramente o prédio, exigência essa que era inviável para nós,
pois o município não estava ainda instalado.
Porém, através do Deputado João Natal firmamos
compromisso condicional com a Telegoiás, de construirmos o tal prédio tão logo
tomássemos posse como prefeito.
Antes das eleições nos foi dada também a oportunidade
de inaugurar o escritório das Centrais Elétricas de Goiás - CELG em nossa
cidade. Na oportunidade dizíamos em nosso empolgado discurso: “Não basta pedir
as coisas e ficar parado esperando que elas venham do céu. É preciso lutar por
elas, brigar para trazê-las. O povo esperou seis anos. E cansou”.
Há certos episódios pitorescos da campanha que ficaram
gravados na nossa mente, como aquele da mãe que pedia uma bicicleta para seu
filho; outra senhora que pedia um armário; outra ainda que condicionava o voto
à construção de uma casa, antes das eleições; outra mais que se declarou preocupada
e até pediu desculpas porque não tinha nada para pedir; um senhor que
solicitava emprego para suas quatro filhas e seus três filhos...
5. A eleição
No dia 15 de novembro de 1988 o povo foi às
urnas, numa disputa acirrada mas pacífica, e elegeu seu primeiro prefeito com
705 votos, 165 a mais que o segundo colocado.
Concluída a votação e lacradas as urnas, o cortejo
partiu para Silvânia a fim de ver de perto a apuração dos votos. A tensão e a
expectativa eram enormes, porque afinal de contas o povo não estava acostumado
com fato semelhante: era a primeira eleição, escolha do primeiro prefeito, dos
primeiros vereadores, enfim, era o começo de tudo.
Proclamado o resultado das urnas, não pudemos mais
conter a emoção que invadia o nosso coração e a alma de toda aquela gente.
Muitos cumprimentos, abraços, choro de alegria dos que ganharam e de tristeza
de quem perdeu.
Voltamos no meio da noite. Chegando a Passa Quatro,
outra surpresa: os que ficaram haviam preparado uma grande recepção. O povo
esperou os ganhadores na entrada da cidade, para levar nos braços o primeiro prefeito
até a praça central.
A festa vazou a madrugada. Naquele dia concluía-se uma
jornada de dez meses de intensa luta em busca do voto, iniciada no dia 15 de
janeiro daquele ano, depois de insistentes pedidos de amigos, de populares e de
pessoas influentes na região para que assumíssemos a tarefa de instalar o município.
A campanha superou barreiras de todos os tipos para
então chegar vitoriosa à final. Praticamente todas as residências do município
foram visitadas, muitas delas mais de uma vez. Às vésperas do pleito, a
carreata dos nossos candidatos pelas ruas da cidade superou muitas vezes as
manifestações dos nossos concorrentes. Os comícios eram movimentados, repletos
de gente alegre e festiva, mostrando já a preferência do eleitorado à
candidatura que acabou vencedora.
Diversos outros comícios foram realizados em locais
estratégicos, na zona rural, sempre terminando com adesão de muita gente. A
equipe de apoio crescia cada vez que era pronunciada a chapa que viria a ser
vitoriosa, terminando por criar uma unanimidade entre os jovens e um respeito
cada vez maior dos mais velhos.
6. Local de funcionamento da Prefeitura
e da Câmara de Vereadores
Com o sucesso das urnas, passada a fase de festas e
comemorações, era preciso começar a pensar no mais difícil: a administração
municipal. Os nossos projetos administrativos foram concebidos antes mesmo da
campanha, porém havia chegado o momento de colocá-los em prática. O desafio era
grande, disso estávamos conscientes. E partimos para a luta.
A realidade mostrava-nos que devíamos começar do nada.
E do nada começamos, sempre com muita fé em Deus e contando com a intercessão
valiosa de São Miguel.
O local de funcionamento da Prefeitura e da Câmara foi
a nossa primeira preocupação. Passada a ressaca dos festejos da vitória,
demo-nos conta de que para iniciar nossa administração não tínhamos uma caneta
para assinar os primeiros atos, nem uma vassoura para varrer, nem tampouco um
banco para sentar, e muito menos um local para assentar os órgãos que comporiam
a administração municipal. Lembro-me de que virei para minha esposa e fiz
aquela clássica pergunta, cuja resposta já sabíamos por antecipação (ou não
sabíamos?): “E agora?”.
A primeira iniciativa foi instar com o Secretário
Estadual da Educação, em Goiânia, que gentilmente nos cedeu o antigo pavilhão
do Colégio local a fim de que pudéssemos fazer as adaptações necessárias, com
vistas a instalar os órgãos públicos municipais. Mas como providenciar essas
instalações se não havia dinheiro?
A constatação crua e nua era a de que o novo Município
não tinha nem receita tributária. Era um município florescente, porém vinculado
ainda apenas à própria lei de sua emancipação.
Para a instalação dos Poderes Executivo e Legislativo
era preciso promover a adaptação do acanhado prédio, e o fizemos através dos
serviços de divisórias, separando primeiramente os dois Poderes e, depois, dividindo
as salas internas para abrigarem o gabinete do Prefeito, a sala da Secretaria,
da Tesouraria e uma de espera. Tudo foi improvisado em salas escolares capazes
de acomodar a estrutura funcional do governo iniciante. Mais uma vez o Dr.
Shenko nos avalizou nessa empreitada, pois o pagamento pelos serviços
desenvolvidos pela empresa contratada, a “Renomaq Ltda”, só viria lá pelo mês
de março seguinte.
7. A Receita Tributária do Município
O Município não dispunha de recursos nem para ensaiar
os seus primeiros passos. A instalação dos órgãos administrativos, como divisórias,
móveis, utensílios em geral e tudo mais que se fazia indispensável no momento
foram comprados a prazo. Inclusive nos primeiros três meses de administração
nós sobrevivemos do esforço de cada um, até mesmo dos nossos abnegados
funcionários, que tiveram de trabalhar todo esse tempo sem receber salário
algum.
Era preciso pensar então na receita
tributária. Sabíamos que o repasse federal, o Fundo de Participação dos
Municípios - FPM, só começaria a chegar lá pelo mês de março/89. Receita local
era inexistente, pois não havia ainda nenhuma fonte geradora assentada. Tudo
ocorreria após a instalação do Município.
Havia também a perspectiva do
repasse estadual, a participação no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços - ICMS, que nos primeiros dois anos deveria ser retirado da cota de
participação do município-mãe, no caso, Silvânia. A alíquota do novo Município,
no entanto, carecia de aprovação da Assembléia Legislativa. E diante disso,
partimos para o embate junto aos senhores Deputados.
Acontece que um dos parlamentares da Casa, José Dênisson, acabara de
ser eleito Prefeito de Silvânia, portanto diretamente interessado em defender o
Município que iria administrar. A discussão do assunto, por sinal muito
calorosa, foi travada entre mim e o Dênisson no Plenário da Assembléia, sob os
olhares atentos dos demais Deputados.
No final, acabamos fechando um acordo, fixando o ICMS de São Miguel do
Passa Quatro em 15% do total que seria repassado mensalmente para Silvânia,
durante os primeiros dois anos.
8. Preparação da primeira equipe de trabalho
Era necessário e imperioso escolher a primeira equipe
de trabalho que iria dar suporte à instalação do jovem município e executar
conosco os projetos já delineados e muitos deles definidos. A cidade não contava
com muitos recursos humanos disponíveis, porém preferimos investir nas pessoas
do lugar. Para isso usamos os critérios da escolaridade e da aptidão para cada
área, princípios esses que nos levaram a aproveitar grande parte dos alunos
concluintes de 2º grau que naquele ano terminavam seus estudos em Cristianópolis.
Formado o quadro de funcionários,
era preciso dar-lhes um mínimo de formação, porque ninguém até o momento
conhecia os meandros de funcionamento dos órgãos públicos. Aliás, nenhum deles
tinha a menor noção do que era o acionamento da máquina administrativa de uma
Prefeitura. O único que tinha experiência no ramo era o Secretário-Geral, que
possuía formação contábil.
Contando então com a ajuda abnegada do Gilberto
(Gilberto Vieira Machado), nomeado Secretário-Geral, pessoa a quem Passa Quatro
deve muito pelo seu idealismo e força de vontade, fomos aos poucos, de um por
um, treinando a equipe de trabalho. Alguns mandei para estágios em outras
cidades para uma assimilação mais rápida. Eram jovens vigorosos e esforçados,
que sabiam entender o momento histórico do Município e não se acovardavam
diante dos incessantes desafios daquela administração pioneira. Não mediam
sacrifícios para dar seu contributo ao desenvolvimento do município que nascia
sob o signo do trabalho, da garra, da luta destemida de sua gente e do
idealismo sem limites de seus benfeitores.
9. Identificação do Município e do seu
povo por ocasião de sua criação e instalação
Área
territorial: 547 quilômetros
quadrados.
Altitude: 801 metros.
Latitude: 17º03’31’’
Longitude(w.gr.): 48º39’46’’
Confrontação: Ao norte pelo Município de Silvânia; ao sul pelos
Municípios de Bela Vista de Goiás e Cristianópolis; a leste pelo Município de
Vianópolis; a oeste pelo Município de Bela Vista de Goiás.
Localização: A sede do Município de São Miguel do Passa Quatro
fica a 50 km de Silvânia, 40 km de Vianópolis, 45 km de Orizona, 45km de Santa
Cruz, 18 km de Cristianópolis, 40 km de Bela Vista, 90 km de Goiânia e 200 km
de Brasília.
Lavoura: Mais ou menos 8 mil
hectares plantados em soja; 3 mil hectares de lavoura de arroz; 1 mil hectares
de milho.
Gado: O rebanho bovino constituía-se de cerca de 15 mil
cabeças de gado de leite e de corte. A bacia leiteira com produção de 20 mil
litros de leite/dia.
Carvoeiras: Foram contadas 30 carvoeiras que produzem aproximadamente
um caminhão de carvão/dia.
Comércio: Comércio bastante variado, constituído de: 1 posto de
gasolina, 1 posto de resfriamento de leite, 1 fábrica de queijo, 1 depósito de
pimenta, 5 armazéns, 9 bares, 2 armarinhos, 1 confecção, 2 açougues, 1 frutaria,
3 máquinas de beneficiar arroz, 1 marcenaria, 1 serraria, 2 salões de beleza.
A índole do
povo: O passaquatrense é pessoa de
índole humilde e sincera. Nada precipitado, quase sempre resolve suas
pendências sob as árvores da praça, sem pressa, com tempo para uma boa piadinha
e discussão satisfatória de assuntos diversos.
Diversões: O futebol e o truco, acompanhados de uma boa pinguinha
e um bom bate-papo, são atividades constantes no município inteiro. Gente muito
unida, já que há um grau de parentesco entre a grande maioria das pessoas.
Raramente há brigas e o gosto pela cidade é evidente. Normalmente quem não é parente
se torna compadre.
A
juventude: A juventude passaquatrense
é participativa e nunca deixa um motivo de festa passar em branco. Muitas vezes
chega a criar situações para festejar.
A praça: O que dá uma característica especial à cidade é a
praça central, que tem um formato retangular, com árvores enormes, sombrias e
espaçosas, sob cujas folhas proliferam-se as lagartinhas minúsculas chamadas
aqui de lacerdinhas, muito ardidas nos olhos dos transeuntes. As árvores ainda
servem para o pessoal da zona rural amarrar os cavalos quando vem à cidade. As
árvores foram plantadas em 1958, atendendo a um projeto do vereador Érico Josué
Meireles (Lico).
O
sobradinho: O sobradinho, de
propriedade de Edson Dias, o Edinho do Braulino, era, talvez, a construção de
maior destaque da cidade, despertando a curiosidade dos visitantes, embora
muitas outras casas antigas tivessem histórias de sobra para contar. Era uma
relíquia do lugar. Foi construído em 1937 pelo Sr. Galdino Chagas. Tombou
demolido em 1998 pela Prefeitura, sem nenhum escrúpulo e nenhuma justificativa
convincente. Foi como uma punhalada no peito do passaquatrense de sangue e de
coração.
O Lajeado e
o Poço da Pedra: O Lajeado e o Poço
da Pedra eram dois pontos de encontro da criançada e da juventude. Quem mora
aqui, ou já morou, ou ainda manteve pequeno contato com esta terra, tem um
causo passado nesses lugares. São pontos assim onde o folclore da cidade é o folclore
de cada um.
[1] Elson G. Oliveira - Trecho do
discurso de posse na solenidade de instalação do Município, em 1/1/1989.
Capítulo II
A INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO
1. A posse dos eleitos
Determinava a lei de criação (Lei nº 10.432/88) que o Município criado
seria instalado com a posse do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores
eleitos simultaneamente com os dos municípios já existentes.
A
eleição municipal aconteceu no dia 15 de novembro de 1988. E a posse das
autoridades eleitas se deu em 01 de janeiro de 1989, consumando-se, assim, a
instalação do Município de São Miguel do Passa Quatro, de acordo com a lei.
Na
condição de vereador mais votado, coube ao edil Gilmar Pereira de Sousa assumir
os históricos trabalhos do dia primeiro de janeiro de mil novecentos e oitenta
e nove e dar posse, primeiramente, aos demais vereadores e, em seguida, ao
Prefeito e ao Vice, em uma cerimônia simples, realizada no salão paroquial.
Após
as solenidades de posse, houve missa e bênção celebradas pelo Padre Pedro
Celestino, líder espiritual, benfeitor e grande defensor do lugar.
Logo
depois os vereadores se dirigiram à sede improvisada da Câmara Municipal para a
escolha da mesa diretora que ficou assim composta:
Presidente
da Câmara: César Antônio de Oliveira
Vice-Presidente: Gilmar Pereira
de Sousa
1º Secretário: Domingos Rodrigues
Pereira
2º Secretário: Manoel Tobias da
Silva
Líder do PMDB: Domingos Rodrigues
Pereira
Líder do PL: Valdivino Inácio de
Carvalho
Líder do Prefeito: Manoel Tobias
da Silva
Encerradas as cerimônias de posse,
houve um grande churrasco, regado a chopp
gelado e animado com show musical ao
vivo, oferecidos à enorme multidão que se aglomerava na Praça da Igreja e que
delirava com aquele acontecimento histórico e único.
2. Ata de posse dos eleitos, na íntegra
“Ata da
primeira sessão solene de instalação do Município de São Miguel do Passa Quatro
e da legislatura de 1989-1992. Ao
primeiro dia de janeiro de um mil novecentos e oitenta e nove, às 9,00 horas,
na sala de reuniões da Câmara Municipal de São Miguel do Passa Quatro, de
Goiás, reuniram-se os senhores Vereadores, Prefeito e Vice-Prefeito eleitos em
15 de novembro de 1988, sob a presidência do Vereador mais votado dentre os
presentes, senhor Gilmar Pereira de Souza, que designou para secretariar os
trabalhos o senhor Valdivino Inácio de Carvalho. Compareceram para apresentar
declaração de bens, prestar compromisso e tomar posse os Vereadores, Senhores:
Gilmar Pereira de Souza, Valdivino Inácio de Carvalho, César Antônio de
Oliveira, Domingos Rodrigues Pereira, Edson Dias, José Alonso de Carvalho,
Manoel Tobias da Silva, Geraldo José de Carvalho e Walter Martins de Carvalho,
o Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira e o Vice-Prefeito Márcio Cecílio
Ceciliano, todos eleitos e Diplomados. O Vereador Gilmar Pereira de Souza
possui os seguintes bens: imóveis, Cz$8.800.000,00; o Vereador Valdivino Inácio
de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis: Cz$2.000.040,00; o Vereador
César Antônio de Oliveira possui os seguintes bens: Cz$4.000.000,00; o Vereador
Domingos Rodrigues Pereira possui os seguintes bens: saldo bancário
Cz$100.000,00; o Vereador Edson Dias possui os seguintes bens: imóveis,
Cz$12.000,00 e saldo bancário Cz$150.000,00; o Vereador José Alonso de Carvalho
possui os seguintes bens: imóveis, Cz$48.000.000,00; Automóveis, Cz$700.000,00;
o Vereador Manoel Tobias da Silva possui os seguintes bens: imóveis,
Cz$18.000.000,00; o Vereador Geraldo José de Carvalho possui os seguintes bens:
imóveis, Cz$24.000.000,00 e automóveis Cz$1.500.000,00; e o Vereador Walter Martins
de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis, Cz$51.000.000,00 e automóveis
Cz$1.500.000,00. O Prefeito, senhor Elson Gonçalves de Oliveira possui os
seguintes bens: imóveis Cz$27.300.000,00 e automóveis Cz$2.000.000,00. O
Vice-Prefeito, senhor Márcio Cecílio Ceciliano possui os seguintes bens:
imóveis Cz$39.500.000,00 e automóveis Cz$11.500.000,00. Após as declarações, os
Vereadores eleitos tomaram posse prestando o seguinte compromisso: “Prometo
manter, defender e cumprir a Constituição da República, a do Estado, observar
as leis, particularmente a Lei Orgânica dos Municípios, promover o bem coletivo
e exercer com patriotismo, honestidade e espírito público, o mandato que me foi
conferido.” Em seguida assinaram o Termo de Posse, dando prosseguimento aos
trabalhos, o Presidente deu posse ao Prefeito e Vice-Prefeito, que prestaram o
mesmo compromisso acima e assinaram o Termo de Posse. Após estas solenidades,
foi declarado, com a posse dos eleitos, instalados o novo Município e a Legislatura
de 1989/1992. Continuando as solenidades de posse, foi dada a palavra ao senhor
Elson Gonçalves de Oliveira, Prefeito desta cidade, que falou sobre o
nascimento do Município e da esperança depositada em todos os segmentos da
comunidade; falou do porquê da emancipação e também da gratidão ao Município-mãe,
das dificuldades que vai ter com o novo Município, mas que apesar disso confia
na capacidade de trabalho de todos; e logo em seguida enumerou as prioridades
básicas do Município, que são: Saúde, Educação, Bem-Estar Social e Alimentação
e do incentivo ao incremento industrial de pequeno porte para absorção da
mão-de-obra e, finalizando, pediu a todos para nos unirmos para o progresso de
São Miguel. Também foi dada a palavra ao senhor Domingos Rodrigues Pereira, que
falou sobre a esperança da Câmara em poder ajudar o Executivo, elaborando leis
que atendam as exigências da comunidade e que as portas estão abertas e os
vereadores também estão à disposição do diálogo para o aprimoramento
democrático de nossa cidade. Empossados os eleitos, e após o uso da palavra pelos
oradores, o Presidente convocou os Vereadores para elegerem a mesa do
Legislativo na próxima sessão. Nada mais havendo para tratar, o Senhor
Presidente deu por encerrada a presente sessão solene de instalação do Município
e da Legislatura de 1989/1992. Eu, Valdivino Inácio de Carvalho, Secretário,
lavrei a presente ata, que depois de lida e achada conforme, será assinada por
mim, pelo Presidente, pelo Prefeito, Vice-Prefeito e os demais Vereadores
presentes. Sala das sessões da Câmara Municipal de São Miguel do Passa Quatro,
ao primeiro dia do mês de janeiro de 1989.” (Seguem as assinaturas)
3. O discurso do
Prefeito, na solenidade de posse
“Exmº Sr. Presidente da Câmara
Municipal
Exmºs. Srs. Vereadores
Exmº Sr. Vice-Prefeito
Senhores e Senhoras:
São Miguel do
Passa Quatro nasce sob o signo da esperança. Todos nós, jovens, adultos,
crianças, donas de casa, trabalhadores braçais, estamos confiantes no futuro
desta cidade-menina. É o sonho que se torna realidade.
Perguntaram-me
certo dia: por que vocês querem a emancipação? - Ora, queremos ser livres -
respondi. Queremos cuidar pessoalmente do nosso destino. Queremos mostrar que
temos competência, que somos dotados de auto-suficiência para enfrentar os
desafios e resolver nossos próprios problemas.
Ao povo de
Silvânia somos gratos, principalmente porque entenderam o nosso ato de
independência. Não dava mais para continuar sob a tutela bonfinense, porque o
sentimento de liberdade e a pressa de crescer norteavam a mente da unanimidade
da população passaquatrense.
E quis o povo,
sob as bênçãos do padroeiro São Miguel, que eu me tornasse o primeiro Prefeito.
E aqui estamos agora no firme propósito de corresponder ao chamado popular, de
não decepcionar a confiança que a grande maioria das urnas depositou em mim, em
minha esposa e na competente equipe que empunhou conosco a bandeira da campanha.
Creio que a
população inteira tem consciência de que vamos enfrentar grandes dificuldades
nesse início de administração. Estamos começando do nada. Perguntaram-me,
também, há poucos dias, se a Prefeitura tinha pelo menos uma caneta, uma
vassoura, ou um banco. - Como, se não existe nem Prefeitura? - foi a minha
resposta.
Apesar disso,
nós confiamos na proteção de Deus e na nossa capacidade de trabalho. E asseguramos
que todos os compromissos de campanha serão cumpridos.
Aproveitamos
para confirmar que o ensino de primeiro e segundo graus será incrementado e
terá prioridade na nossa administração; que aos filhos do agricultor, do homem
do campo, será dada condição de escolaridade, através de uma escola mais digna
e de transporte subsidiado e gratuito. Na saúde, a Prefeitura propiciará
condições para que o atendimento médico e dentário seja ampliado cada vez mais.
As pessoas carentes terão de nossa parte toda a atenção de que são merecedoras.
Programas de alimentação serão fomentados para que a mesa do trabalhador e do
carente seja farta.
Vamos investir
no esporte, como prometemos. E o nosso jovem vai aprender a curtir melhor sua
cidade, a viver plenamente em Passa Quatro.
Os produtores,
os comerciantes e os pequenos industriais terão o nosso incentivo. A Prefeitura
irá proporcionar os meios para o incremento da produção agrícola, do leite e da
ampliação do comércio. Criaremos leis que trarão incentivo à instalação de indústrias
de pequeno porte, para absorver a mão-de-obra local e construir conosco o
progresso que almejamos.
Povo de minha
terra! Nesta hora quero conclamar a todos ao trabalho. É através do esforço
somado de cada um de nós que conseguiremos vencer as dificuldades. Vamos
trabalhar para construirmos o grande município do futuro.
Às autoridades
presentes e ao povo os nossos agradecimentos pelo brilhantismo da visita que
muito nos honra; aos senhores vereadores a nossa palavra de fé e confiança na
capacidade de trabalho e discernimento de cada um; as nossas responsabilidades
são idênticas na condução dos destinos desta terra; e a Deus o nosso pedido
para que derrame sobre nós as bênçãos de que necessitamos para edificar o
futuro de São Miguel do Passa Quatro.
Muito obrigado”
4. Organização política
A organização política do novo município ficou assim
constituída:
PODER EXECUTIVO
PREFEITO: Elson Gonçalves de Oliveira,
brasileiro, casado com Aparecida Pires de Oliveira, advogado, com 44 anos de
idade; é filho de Sebastião Gonçalves da Silva e Maria Fernandes da Silva.
PRIMEIRA-DAMA: Aparecida
Pires de Oliveira (Dona Cotinha), brasileira, casada com Elson Gonçalves de
Oliveira, com 38 anos de idade; é filha de José Calixto de Carvalho e Izídia Pires
de Carvalho.
VICE-PREFEITO: Márcio
Cecílio Ceciliano, brasileiro, casado, comerciante; é filho de Jair Cecílio
Ceciliano e Sebastiana de Lourdes Fernandes.
PODER LEGISLATIVO – VEREADORES
Manoel
Tobias da Silva foi eleito pelo PMDB
com 61 votos e tem 45 anos de idade. É filho de Sebastião Tobias da Silva e
Júlia Maria Xavier, velhos fazendeiros na região da Água Vermelha e eméritos
benfeitores do lugar. Há muito tempo faz a corrida de Passa Quatro a Silvânia,
de Kombi, e nessas viagens presta aos passageiros todo tipo de favor. Ele é
também um grande incentivador do esporte local, além de sempre ser procurado
para intervir em assuntos da comunidade. Seu esforço e sua contribuição para o
bem de Passa Quatro foram relevantes.
César
Antônio de Oliveira tem 30 anos e foi eleito pelo PMDB com 90 votos. É
filho de José Orlando de Oliveira e Altiva Batista de Oliveira, antigos
moradores de Passa Quatro e fazendeiros influentes no Município. César é
produtor rural e já foi funcionário do IBDF e professor em São Miguel.
Domingos
Rodrigues Pereira foi também eleito pelo PMDB com 90 votos. Tem 29 anos e é
funcionário público, responsável pelo funcionamento do posto de saúde do lugar.
Domingos é filho de Adjunio Rodrigues Pereira e Maria Filomena de Oliveira,
pessoas que sempre residiram na cidade e muito contribuíram com o desenvolvimento
da cidade.
Edson
Dias (Edinho) é comerciante e dono de um dos locais mais característicos de
Passa Quatro, o sobradinho. Tem 40 anos de idade e foi eleito pelo PMDB com 83
votos. É filho de Braulino e Gercina Camila Dias, respeitados comerciantes na
cidade.
Valter
Martins de Carvalho é fazendeiro, filho de Pompílio Martins de Carvalho e
Maria Joana de Jesus, pessoas que eram muito conhecidas e respeitadas
principalmente na região do Aborrecido, onde sempre residiram. É o vereador
mais velho, com 46 anos, e foi eleito com 56 votos pelo PMDB.
José
Alonso de Carvalho tem 43 anos e foi eleito pelo PL com 69 votos. É filho
de Alonso Joaquim de Carvalho e Maria José de Carvalho. É fazendeiro e é o
representante da região do Rio dos Bois (de cima), onde teve a quase totalidade
de seus votos.
Geraldo
José Batista é fazendeiro e representante da região do Rio dos Bois (de
baixo). Foi eleito pelo PL com 59 votos e tem 38 anos de idade. É filho de João
Batista de Carvalho e Maria José de Carvalho, que foram fazendeiros de alta
influência naquela região do Rio dos Bois.
Gilmar
Pereira de Sousa tem 30 anos de idade e foi o vereador mais votado, com 116
votos, pelo PL. É filho de Benedito Gregório de Sousa e Ana Pereira de Sousa,
fazendeiros no Município e provenientes de famílias tradicionais.
Valdivino
Inácio de Carvalho foi eleito pelo PL com 92 votos e tem 30 anos de idade.
É filho de Joaquim Calixto de Carvalho e Maria Vieira de Carvalho, fazendeiros
no Município.
5. Organização administrativa
No campo jurídico, a primeira providência foi cuidar
da estruturação administrativa e funcional. Nasceu então a Lei nº 001/89, que
estabeleceu a quantidade de funcionários que o Município teria e as diversas
distribuições dos cargos, segundo o interesse da filosofia de governo a ser
implantada.
Realizado concurso público, em dezembro de 1989, o
Município passou a contar em seu quadro
de funcionários com 58 servidores concursados e 18 comissionados, num total de
76, assim distribuídos:
1 Secretário
do Governo Municipal
5
Superintendentes (educação,
administração, finanças, saúde e
assistência social, transporte e agricultura)
6 Assessores
de gabinete “A”
3 Assessores
de gabinete “B”
3 Assessores
de gabinete “C”
7 Zeladores
1 Vigilante
3 Telefonistas
5 Pedreiros
10 Assistentes
de Ensino Classe “A”
4 Assistentes
de Ensino Classe “B”
4 Operadores
de máquinas
5 Motoristas
6 Merendeiras
Escolares
1 Gari
1 Encarregado
de Obras
3 Auxiliares
Administrativos “A”
3 Auxiliares
Administrativos “B”
5 Assessores
Administrativos
6. Primeiras aquisições materiais
·
Adaptação de um
pavilhão do Colégio, com divisórias internas e pintura, para abrigar a
Prefeitura e a Câmara;
·
Aquisição dos
móveis e utensílios para funcionamento dos órgãos dos Poderes Executivo e
Legislativo;
·
Aquisição de um
carro “Prêmio”, Fiat, 4 portas, zero km, para representação do Prefeito. Esse
veículo foi o único utilizado pelo Poder Executivo durante os 4 anos de mandato
por questão de economia para os cofres públicos;
·
Aquisição de uma
viatura para uso da polícia civil, fornecida pelo Governo do Estado, em regime
de comodato;
·
Aquisição de uma
Kombi doada pelo Ministério da Agricultura;
·
Aquisição de uma
máquina xerox;
·
Aquisição de uma
casa na Praça Sebastião Gonçalves da Silva para construção do prédio da
Prefeitura e da Câmara;
·
Aquisição de 14
lotes para construção de casas populares no Setor Marajoara;
·
Aquisição de
4.000 metros quadrados de terreno na Av. Alcides Pereira de Castro e 12.000
metros quadrados na Rua Guilherme Veloso para futuras instalações de órgãos
públicos, inclusive hospital e creche;
·
Recuperação da
área de terras do antigo cemitério da cidade para construir a Praça da Bíblia.
Capítulo III
PLANEJAMENTO ADMINISTRATIVO
1. O jornal “O Patrimônio”
Sentimos de imediato a necessidade de
criar um veículo de divulgação e de integração do Município. Víamos que o
sentimento patriótico e até mesmo bairrista com relação à emancipação não havia
ainda ganhado proporções que abrangessem os quatro cantos da nova Unidade da
Federação.
Era preciso despertar na população o orgulho de ser
passaquatrense. Inclusive as expressões “passaquatro” e “passaquateiro” eram
nomes pejorativos em toda região. O termo “passaquateiro” era sinônimo de
caipira, matuto, sem instrução etc. E quando se queria dizer que alguém era
meio abobalhado a frase usada era “Fulano é passaquatro de tudo!”; ou “Liga não, fulano é assim meio passaquateiro
mesmo!”, e assim por diante. Por essa razão muitas pessoas do lugar sentiam-se
intimidadas e não raras vezes omitiam sua identidade passaquatrense.
Por isso era urgente mexer com o brio do nosso povo
para levantar-lhe o moral. Sabíamos que para construir o Município precisávamos
de gente animada, dinâmica, com amor pelo lugar e pela causa municipal. Então
tínhamos de empreender um trabalho para fazer nascer em alguns, despertar em
muitos e desenvolver na maioria esse lado sentimental, patriótico e de afeto
por Passa Quatro.
Em resumo, era preciso dar condições para que o
passaquatrense descobrisse sua verdadeira identidade. E a melhor maneira que
achamos na época foi criar um jornal bem nosso para divulgar nossa cidade, a
zona rural, nossas fontes produtivas, nossos lugares turísticos, a história da
povoação, a saga dos pioneiros, o comportamento dos nossos jovens, nossos usos
e costumes etc.
Nasceu então “O Patrimônio”, que circulou durante os
quatro anos da administração pioneira. A direção foi entregue ao jovem
jornalista Vassil José de Oliveira, que era ao mesmo tempo editor, repórter,
fotógrafo e responsável pela coordenação da equipe de voluntários que vinham
colaborar nessa empreitada. Não poupou ele nenhum sacrifício para extrair as notícias
que faziam a história e retratavam a satisfação de um povo que vibrava de
euforia, diante da realidade de presenciar o sonho virando realidade, em curto
espaço de tempo.
“O Patrimônio” surgiu no mês de março de 1989,
impregnado de idealismo e do desejo de não voltar mais ao anonimato. A festa de
lançamento foi totalmente improvisada. De cima de uma camioneta, num dos cantos
da praça central e interrompendo uma animada festa dançante, o diretor do
jornal, o Prefeito e os Vereadores falaram cerca de meia hora à platéia
presente, que acabara de receber a primeira edição do jornal, bastante curiosa
e estupefata. Muitos não acreditavam ser verdade que Passa Quatro pudesse ter
um veículo de informação sério, disposto a relatar a verdade e apresentar
soluções administrativas de maneira clara e inteligente.
Sobre o jornal e seu editor, transcrevemos abaixo o
artigo de Joana Aparecida Caixeta, filha de Passa Quatro e moradora de Vianópolis-GO,
onde foi primeira-dama, vereadora e professora, publicado na edição de setembro-outubro/89.
“A OUSADIA
Ousamos muitas
vezes a penetrar por um mundo desconhecido e surpreendedor..., tão vasto, tão
maravilhoso, tão iluminado, tão potente e magnífico - o mundo da nossa intelectualidade.
Bendita
ousadia que leva você, Vassil, à coragem de sondar esse universo maravilhoso
que ainda dorme, mas que já começa a revirar-se no seu leito, espreguiçar-se,
dar uns bocejos, entreabrir as pálpebras, para descobrir já bem cedo, e, daqui
a algum tempo, irromper-se num arrojo intelectual de Carlos Drumond de Andrade.
E assim como ele surgiu de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, você
também surgirá de uma cidadezinha do interior de Goiás - São Miguel do Passa
Quatro, que por sinal tem filhos dos quais pode-se orgulhar pelo que são. São
filhos como seus pais - Elson e Cotinha e outros -, que ousaram ir além do
possível e revelar que dentro de cada um existe uma força maior do que os
limites das próprias limitações.
Sou feliz por
vocês estarem aí a serviço do nosso povo e a serviço de Deus, numa explosão de
forças para cumprir a missão que lhes fora confiada.
Sou feliz por
você, meu ex-aluno e pioneiro do jornal “O Patrimônio”, e por toda a sua
equipe, porque em vocês se concretizam os meus sonhos, pois eu também sou filha
dessa terra maravilhosa.
O meu abraço
carinhoso a todos e especialmente a você.
Vps., 5.7.89”
Retratando os objetivos do jornal, o valioso
colaborador Leomar de Castro, na primeira edição que circulou em março de 1989,
escreveu o seguinte:
“OS
PLANTADORES DA CIDADE
Nasceu de mãos
que trabalham e acenam com objetivos amigos. Da luta, da fé, da esperança, da
persistência de Homens e Deuses.
Numa
reconstituição histórica do Passa Quatro, não poderíamos deixar de citar
figuras ilustres como: Felipe da Costa, Guilherme Veloso, Francisco Baiança,
Adonias do Prado, Moisés Roriz, José Patrício, Francisco Domingos, Alcides
Pereira, Érico Meireles (Lico), Joaquim Fernandes, Chiquito, Joaquim Vieira
Machado, Antônio Francisco, Aurélio, Galdino Chagas, José João, Zé Calixto,
Manoel Luiz, Antônio Ferreira, Emídio Faleiros, José Teófilo, João Gregório,
Bilico Carreiro, João Militão, Pocidônio, Joaquim Costa, Sebastião Bino,
Horácio Cecílio e muitos outros de relevante importância, homens que já ficaram
pelo caminho e hoje são lembrados e reverenciados como mitos. Temos a
felicidade de ter ainda entre nós alguns empreendedores como: Jaime Fagundes,
Cipriano, Israel da Costa, Sebastião Gonçalves e muitos outros.
‘O PATRIMÔNIO’
tem o propósito de extrair a história minuciosa desses personagens para que a
geração atual possa conhecer os pioneiros. No primeiro número, de maneira
abrangente, gostaríamos de homenagear e externar nossos agradecimentos a essas
pessoas que tanto contribuíram para a concretização dos ideais de dantes,
fazendo com que o sonho se tornasse realidade, sem todavia, deixar de ser
sonho.
O advento da
emancipação trouxe desafios e esperanças. Na ordem natural dos fatos, estamos
no prefácio de uma nova história que se iniciou em 1º de janeiro próximo
passado com a instalação do Município e a posse do primeiro Prefeito. Os
primeiros esboços administrativos estão sendo acatados com satisfação. Não
obstante as dificuldades, provindas da falta de infra-estrutura, o nosso
Prefeito tem conseguido feitos notáveis, o que deixa a perspectiva de, num
futuro bem próximo, sermos um Município desenvolvido, já que possuímos um
potencial extraordinário, com a agricultura em célere expansão, a pecuária com
grande força e a indústria iniciando seus primeiros passos - estando aí,
portanto, os recursos naturais que viabilizam e garantem o crescimento.
Num relato
honesto e sem nenhum fisiologismo, enche-me de prazer destacar a preocupação do
Prefeito e sua equipe com a educação e cultura, fazendo delas prioridade de
governo. A educação, fator de suma importância para um povo, tem merecido tratamento
especial. A cultura está recebendo fomentações e incentivos, com a efetivação
de uma biblioteca municipal e a promoção de eventos culturais. Estas sábias
medidas vêm ao encontro de pressupostos lógicos de que o desenvolvimento de um
povo, quer no campo moral, social e econômico depende de uma formação cultural
eficiente.
‘O
PATRIMÔNIO’, idealizado por sonhadores e contando com a ajuda de colaboradores,
visa a contribuir com a construção do Município no sentido de informar, fazer
críticas construtivas e propiciar lazer aos leitores. Num breve discorrimento,
os anais da história mostram que homens e ferramentas trabalham ardilmente e,
depois de sessenta anos de existência e lutas, São Miguel do Passa Quatro é
livre, plantado com sonho e suor.”
2. O Projeto Educacional e o Êxodo Rural
Outro impasse inicial foi que ficamos diante de um
dilema, pois de um lado era necessário desenvolver a cidade, que mais parecia
ainda um arraial ou vila dos tempos coloniais, sem a fisionomia de uma urbe que
merecesse sediar um Município; de outro, tínhamos em mente que haveríamos de
administrar um Município pobre, sem estrutura, e com vocação eminentemente
rural.
Assim, se déssemos prioridade ao
desenvolvimento urbano, correríamos o risco de ver a cidade inchar de repente,
perdendo o Município suas características ruralísticas, com reflexos negativos
nas suas reais fontes de riqueza; se priorizássemos o campo, a cidade poderia
permanecer indeterminadamente raquítica e sem base para abrigar a estrutura
política e administrativa municipal.
Diante disso, era imperioso e
prudente promover o desenvolvimento
integrado da cidade e do campo, na esperança de que o progresso alcançasse o
Município como um todo. E foi aí que nasceu a idéia de transportar os alunos da
zona rural para a escola da cidade. Aliás, o projeto foi considerado, na época,
ousado e pioneiro na região.
Acreditava-se que era preciso
desenvolver a cidade com urgência, porém não sem o cuidado de preservar o homem
do campo no seu habitat, onde fora
criado e onde aprimorara suas potencialidades e conhecimentos para extrair da
terra não só o sustento de sua família, mas também para contribuir de maneira
mais satisfatória com a geração de riquezas da qual o novo Município era tão
carente.
Quando alguém da zona rural vinha me
pedir lote para construir casa na cidade, normalmente eu o desencorajava,
tentando convencê-lo de que a cidade não oferecia emprego e que no campo ele
era mais útil para sua família e para o Município. Dizíamos ainda que tudo
faríamos para dar escola aos seus filhos e
conforto aos seus entes queridos lá no seu pedacinho de terra, sem a
preocupação de buscar vida melhor em outros cantos.
3.
Planejamento Urbano
O Plano
Diretor
Sentindo a euforia da população com relação à nova
realidade, afinal de contas Passa Quatro saíra da condição de povoado
inexpressivo de Silvânia para uma vida administrativa inteiramente
independente, foi então por nós encomendado um projeto urbanístico da cidade
para não permitir que ela crescesse de maneira desordenada, e também para melhor
descobrir sua real vocação para o progresso da expansão urbana.
O autor do projeto foi o arquiteto Melchíades Domingos
Dias Junior (Shenko), fazendeiro no Município, nas proximidades da cidade, e
bastante interessado no crescimento ordenado da área urbana, um profissional
sério, que antes de mais nada declarou o seguinte:
“Meu trabalho é voluntário, sem receber nada em troca
como pagamento, apenas o carinho, o amor e a receptividade da população.”
Com base nesse trabalho tão bem elaborado, definiu-se
o perímetro urbano, as áreas públicas e as particulares para permitir novos
loteamentos, bem como a denominação das ruas e praças.
O ponto inicial da planta da cidade é a Praça São
Miguel, onde se colocou o busto do Santo Padroeiro, na parte norte, a mais alta
do lugar. Olhando dali em direção ao sul, e nas mãos o mapa, percebe-se que a
cidade esboça um “S”, o esse de São Miguel. E é ali o tronco onde nascem as
outras vias públicas.
Cortando a cidade ao meio, desce a Av. Alcides Pereira
de Castro, a mais importante delas, e a Rua Érico Josué Meireles; ao lado, pela esquerda, a Rua Felipe da Costa
e a Av. Graciano José da Silva; do outro lado, ainda em sentido paralelo, a Av.
das Palmeiras e a Rua 9 de Janeiro, ambas apenas projetadas, mas que foram
abertas em seguida. Na direção leste-oeste se vêem as Ruas Levi Verônica Pinto,
que faz ligação pela esquerda com o trevo previsto para a área do futuro clube
da cidade, o CRELA - Clube Recreativo e Educacional do Lajeado; a Rua José
Patrício de Carvalho, que dá saída para o trevo de Bela Vista, pela direita;
logo abaixo a Rua Guilherme Veloso, que corta a cidade desde o trevo de Bela
Vista até a Av. Graciano José da Silva, do outro lado; mais embaixo a Rua José
Martins de Carvalho; em seguida, a Rua José Calixto de Carvalho; depois, Rua
Miguel Gregório de Souza, Rua Horácio Cecílio Ceciliano, Rua Joaquim Fernandes
de Oliveira, Rua José Anastácio de Carvalho, Rua Valdivino Abrão de Carvalho,
Rua João Pereira de Carvalho, Rua Moisés Teófilo de Lima, Av. Joaquim Vieira
Machado e Rua Delcides Verônica. Partindo do trevo de Bela Vista, em sentido
norte-sul, projetou-se ainda a Av. do Contorno, a única que não foi aberta.
As praças. Além da Praça São Miguel, já citada, vem a Praça
Sebastião Gonçalves da Silva, a mais importante por ser a do centro; a Praça da
Bíblia, erigida sobre o antigo cemitério da cidade, reconhecido como primeiro
marco da povoação. Ficaram também reservadas no projeto áreas previstas para os
seguintes fins: para praça, ao lado do Colégio, à direita; hospital e
prefeitura, abaixo do Colégio; para clube, o CRELA, às margens do Córrego das
Vacas; esporte, na entrada da cidade, à direita; e rodoviária, próximo ao cemitério
em uso.
Sobre o Plano Diretor, em entrevista concedida ao
jornal “O Patrimônio”, respondendo a uma pergunta do repórter, o arquiteto e
urbanista Shenko falou sobre o trabalho por ele desenvolvido.
PERGUNTA: -
“Depois da emancipação, você engajou na luta pela construção de um município
bonito, bem organizado e estruturado. E uma das coisas que você preparou foi o
Plano Diretor. O que é e o que ele significa para a cidade?”
RESPOSTA: - “O
parcelamento urbano, ou seja, o loteamento do núcleo histórico existente em
Passa Quatro, foi desenhado por volta de 1935. Apesar da boa vontade de seu
autor, que não era um profissional da engenharia nem da arquitetura, ele
conseguiu fazer um parcelamento do solo de acordo com a topografia existente e
de acordo com as facilidades que ele encontrou na época. Naquele tempo,
praticamente não existiam aparelhos de topografia tão modernos quanto existem
hoje, mas conseguiu-se acomodar uma planta urbana em cima de um planalto, em
que de um lado e de outro existiam dois fundos de vales, um caracterizado pelo
Rio Passa Quatro e outro pelo Córrego das Vacas.
Quando o Elson
tomou posse na Prefeitura, ele veio conversar comigo, demonstrando preocupação
em fazer um levantamento da planta da cidade, para que pudéssemos fazer algum
loteamento, tendo em vista que o Passa Quatro estava inchando, a localidade
estava crescendo e não existiam lotes vazios nem casas para alugar. Com esse
crescimento, surgiu a necessidade de novos tipos de serviços, especialmente
porque as solicitações eram muito grandes e constantes. As pessoas que vinham
para Passa Quatro não tinham realmente onde morar. Daí, batendo um papo com o
Elson, nós decidimos que, ao invés de fazermos pura e simplesmente um
levantamento da cidade, de abrirmos novos loteamentos, nós íamos fazer um Plano
Diretor da cidade de São Miguel do Passa Quatro. Por que o Plano Diretor? O que
é o Plano Diretor?
Esse Plano
Diretor nada mais é que a definição de um sistema viário homogêneo que coloca a
cidade à luz do desenvolvimento moderno, caracterizando novas aberturas de
ruas, novas avenidas, levando em consideração as suas necessidades.
O ponto de
partida foi o reconhecimento do núcleo histórico existente, ou seja, o Passa
Quatro desenhado no passado. Esse traçado feito é um pouco acanhado, com ruas
estreitas, lotes pequenos, construções feitas sem os afastamentos necessários,
o que vinha dificultando um pouco a cidade, o seu direcionamento para um
crescimento mais homogêneo, mais organizado.
Então a
povoação teve um crescimento totalmente desorganizado no sentido, principalmente,
das construções. Esse Plano Diretor, como o próprio nome indica, irá direcionar
um crescimento ordenado do núcleo urbano. A nova cidade será composta de grandes
eixos viários ditados pela Avenida Perimetral (mais tarde Av. Graciano José da
Silva) e também pela Avenida do Contorno, que orienta as entradas e saídas da
urbe para os municípios vizinhos. Depois de organizarmos essas entradas e
saídas de uma maneira mais eqüânime, mais equilibrada, nós possibilitaremos
orientar o crescimento de novos loteamentos que fazem falta à cidade. Porém,
esses novos loteamentos que virão, estarão concentrados dentro de um
direcionamento da cidade que a Prefeitura propõe através desse Plano Diretor.
Quer dizer: tudo que se fizer em termos de loteamento aqui em Passa Quatro
deverá ser aprovado pela Prefeitura, fazer parte do Plano Diretor adotado. Ou
seja: uma orientação segura e bem caracterizada dentro de tudo aquilo que nós
pretendemos para Passa Quatro. Não faremos mais nada de maneira aleatória. O crescimento
de agora em diante será dentro de uma ordenação, de acordo com o Plano
Diretor.”
4. “Passa Quatro muda de feição”
No dia 22 de junho de 1990, portanto um ano e meio
depois da instalação do Município, o jornalista Eurípedes Martins Lemes, do
jornal “Correio do Sudeste”, fez publicar um artigo sobre Passa Quatro, nos seguintes
termos:
“PASSA QUATRO MUDA DE FEIÇÃO
Agora, quem vai ao
recém-emancipado Município de São Miguel do Passa Quatro depara com seu novo
visual. É que em apenas um ano e cinco meses o dinamismo do Prefeito, Dr. Elson
Gonçalves de Oliveira, mudou extremamente a fisionomia da cidade, com reflexos
altamente positivos para a zona rural. Com esse impulso, percebe-se que São
Miguel do Passa Quatro cresce a passos agigantados.
Conforme afirmações do Prefeito,
a mudança visível no aspecto da cidade está na execução do seu Plano Diretor,
uma das suas principais preocupações assim que assumiu os destinos do
Município, facilitando com isto a sua parte organizacional.
Cercado de muito idealismo, a
marca registrada do seu governo, Dr. Elson desenvolveu ali o seu projeto maior:
construir o Município que foi o berço da sua infância. Embora sendo um lugar
sem vício político, nascido pela garra do seu povo, o seu primeiro ano de
governo esbarrou em sérias dificuldades, pelo fato de não possuir a mínima
estrutura formada, pois estava nascendo, tendo que montar as engrenagens da sua
máquina administrativa em todos os detalhes. Não podia falhar em nada, porque a
largada para o progresso estava no sucesso dessa dinâmica. E segundo garante,
através do Plano Diretor a cidade está preparada para os próximos 40 anos de
crescimento.
Depois de organizada a estrutura
da Prefeitura, entrando em funcionamento acelerado a fase administrativa, foi
dada a largada inicial e os ventos sopram para o lado favorável, porque em São
Miguel do Passa Quatro já existe a marca do novo. A administração do Dr. Elson
foi iniciada voltada para todos os setores, mas ele teve preocupação maior com
a educação, primordialmente para o aluno da zona rural que às vezes não continuava
seus estudos por falta de condições de locomoção ou incentivo do Poder Público
Municipal. A agricultura, o esporte, o lazer, a saúde, o social, a humanização
e a urbanização da cidade são objetivos do seu governo. E a instalação de
órgãos governamentais, parte integrante da formação estrutural do Município,
foi o resultado de um insano trabalho do Prefeito junto ao Governo estadual.”
5. Diagnóstico do Município
Outra preocupação era conhecer detalhadamente o
potencial do Município que acabávamos de assumir e cuja responsabilidade de
construir foi jogada em nossos ombros.
Logo no início da administração percebi que era
imperioso encomendar um estudo mais sério e aprofundado das realidades do novo
Município, a fim de se ter uma base sólida, para então sobre ela edificar o município
que queríamos, ou, numa frase que se tornou o nosso slogan, para “Construir o Município do futuro”.
Na mesma época estávamos já empenhados em levar a
comunidade a participar do Fundo de Desenvolvimento Comunitário - FUNDEC, do
Banco do Brasil, cujo programa carecia de planejamento básico. E para viabilizar
os dois objetivos que tínhamos em mente, mantivemos contato com a Emater-GO
para a elaboração do que se chamou “Diagnóstico do Município de São Miguel do
Passa Quatro”.
Os trabalhos ficaram concluídos em abril de 1990 e
foram produzidos pelos técnicos da Emater-GO de Silvânia, a saber: Euter
Paniago Júnior (Engº Agrônomo); Paulo Ernesto Pereira (Técnico Agrícola); Manuel Jacob dos Santos (Técnico Agrícola); Claudia Inês Frota C. Chadud (Médica Veterinária);
Eis, em alguns tópicos e de maneira resumida, o
resultado do tão bem elaborado diagnóstico:
Comunidade.
Evolução histórica. Comunidade
nascida provavelmente por volta de 1928. Posteriormente o arraial passou de
porte médio, e, depois, por força de Lei Estadual, nº 7.175 de 5.11.1968, a
Distrito de Silvânia. Em 1988 foi emancipada, tendo o primeiro prefeito
assumido em 1º de janeiro de 1989.
Hoje
possui sede municipal e uma população total de 5.850 habitantes.
Toda
a economia do Município está baseada na agricultura, notadamente na de
subsistência, e na pecuária extensiva. O comércio é ainda muito limitado.
Após
a emancipação, o Município vive uma fase de euforia, podendo iniciar a
discussão do seu próprio desenvolvimento.
Os
moradores mantêm excelente relacionamento e, por isso, realizam freqüentemente
ações comunitárias, como mutirões, que são mais exercitados na área rural e
entre pequenos agricultores que se reúnem para executar o plantio, colheita ou
limpeza de pastagem em ritmo de mutirão ou em troca de serviços.
Situação
geográfica e política. O Município está localizado na Microrregião
Sudeste Goiano. Os centros urbanos mais próximos são:
Bela Vista,
distante 40 km, onde são adquiridos bens de consumo, de produção, e obtida
assistência médico-hospitalar. Lá são também comercializadas partes dos excedentes
da produção local, produtos artesanais e a produção da bacia leiteira do Município.
Cristianópolis, situada a 18 km, é uma cidade de porte
pequeno. Assim sendo, o relacionamento com S. M. do Passa Quatro é menos
intensivo. Demandam àquela localidade, em busca de serviços básicos e comercialização
da produção, principalmente as pessoas residentes nas áreas próximas às divisas
do município.
Silvânia, localizada a 50 km, embora mantenha relações
históricas com S. M. do Passa Quatro, sua influência está diminuindo com o
passar do tempo. O maior relacionamento se dá no setor norte do Município e
principalmente entre os sojicultores, que dependem de crédito do Banco do Brasil
e comercializam sua produção por intermédio de interpostos situados no
município de Silvânia. Registra-se também o acesso de cidadãos passaquatrenses
à procura de assistência médico-hospitalar e de serviços cartorários, tendo em
vista que as terras do Município ainda estão registradas no cartório de
Silvânia.
Vianópolis, situada a 40 km, mantém ainda relativa
influência sobre o município de S. M. do Passa Quatro, principalmente sobre a
população residente próximo à divisa.
Arrecadação. São Miguel do Passa Quatro apresenta uma arrecadação
insuficiente para dotar sua população urbana e rural dos serviços básicos
necessários, dependendo de recursos estaduais e federais.
Produção: Apesar de sua localização próxima de três grandes
centros consumidores, Goiânia, Brasília e Anápolis, o Município ainda não
promoveu mudanças internas, de organização da produção, para explorar
convenientemente esse potencial. Precisa superar vários entraves para fomentar
um processo de desenvolvimento auto-sustentável, problemas estes que podem ser
deduzidos pelos seguintes indicadores:
1º)
Agropecuária tradicional - pecuária leiteira e agricultura de baixa produtividade;
2º)
Infra-estrutura precária - precariedade em armazenagem, transporte, energia,
educação, saúde e saneamento;
3º)
Produção de substâncias com o uso inadequado de disponibilidade de terras;
4º)
Crescente migração campo/cidade e da cidade para pólos regionais;
5º)
Sede municipal com características semi-rural e estrutura de comércio e indústria
limitados.
Dotação de
recursos naturais - Aspectos físicos.
O clima é tropical úmido, com temperatura média anual em torno de 21ºC. De maio
a outubro são registradas as mais baixas temperaturas, entre 18º e 21ºC, com
média mínima de 9º a 13ºC. Os meses mais quentes, de setembro a novembro,
registram temperaturas máximas de 36º a 38ºC.
O
índice pluviométrico apresenta precipitação anual em torno de 1.400mm, sendo
que 77% está concentrado entre os meses de novembro a março.
Altitude média: 600-900 metros.
Área do Município: 547 km2.
Topografia: 20% de topografia
montanhosa, 50% ondulada e 30% plana.
Solo. Tipo. O tipo predominante é de
latossolo vermelho-escuro e vermelho-amarelo, com uma pequena ocorrência de cambissolo
e litossolo.
Solo. Composição. Ph: 5,2; matéria
orgânica: 2,09%; fósforo: 1,0 ppm; cálcio + magnésio: 1,29 me/100ml; alumínio:
0,4 me/100ml. Varia de acordo com o tipo de solo. Constatam-se em média baixos
níveis de fósforo e níveis médio/alto de potássio; são solos em geral ácidos,
com níveis médio/alto de alumínio.
Solo. Possibilidade de mecanização. Nas partes planas e onduladas apresenta
condições favoráveis à utilização desta prática. As regiões mais acidentadas,
em pequena percentagem, apresentam fortes limitações ao uso de máquina
agrícola. Em praticamente todas as regiões é necessária a utilização de
práticas específicas de controle à erosão.
Solo. Aptidão agrícola. As condições
edafo-climáticas possibilitam o cultivo de inúmeros produtos, entre os quais os
hortigranjeiros. Considerando os hábitos da população e a infra-estrutura
existente, inclusive de comercialização, predominam soja, arroz, mandioca e
milho e pastagem.
Atividade
agrícola. O Município apresenta
regiões com características distintas no que se refere à ocupação do espaço e desenvolvimento
das atividades agrícolas. No norte do Município predomina a cultura de soja, em
uma região de chapada com grande utilização de tecnologia, onde se verifica a
predominância de grandes propriedades. Contudo, no restante do Município ainda
predomina a agricultura tradicional, sem uma exploração racional dos recursos
naturais, notadamente nas pequenas propriedades, onde se verificam atividades
econômicas com baixa incorporação de tecnologia.
Elementos climáticos e a atividade
agrícola. A ocorrência de um período
de seca bem definido, com as chuvas distribuídas em alguns meses do ano, bem
como a predominância de vegetação típica de cerrado, condicionam as atividades
agrícolas, com reflexos na produção. A utilização racional das glebas de maior
potencial dentro das propriedades é limitada pelo custo de insumos e utilização
de equipamentos. Principalmente nas regiões de predominância de pequenas
propriedades, o padrão de uso atual de terra e a baixa produtividade do setor
agropecuário estão intimamente correlacionados a uma tecnologia rudimentar.
Potencialidade. Embora tenha regiões
com características distintas, o Município de São Miguel do Passa Quatro, mesmo
em regiões mais carentes, apresenta grande potencial para a implantação de
projetos calcados no adequado aproveitamento de seus recursos naturais, a
saber: expansão da área cultivada de arroz, feijão e milho; diversificação
produtiva com exploração de outras opções agronômicas adaptadas às características
edafo-climáticas do Município e elevação da produtividade das lavouras
existentes (arroz, milho, feijão e mandioca) e da pecuária leiteira, cujas
mudanças tecnológicas requerem adequações simples, de fácil adoção pelos produtores.
Aspectos demográficos. Total de habitantes do núcleo urbano: 2.250; rural:
3.600; do Município: 5.850.
Distribuição
da população:
Idade masc. fem. cidade campo
Até 6 anos 320 430 350 400
Entre 7 e 14 anos
400 500 400 500
Entre 15 e 21 anos
550 450 400
600
Entre 22 e 50 anos
1.300 1.000
800 1.500
Superior a 50 anos
500 400 300 600
Total 3.070
2.780
2.250 3.600
Grau de
instrução:
Grupo etário analfabeto 1º grau 2º
grau
comp. incomp. comp.
incomp.
Entre 14/35 anos 360 1.280
570 632 152
+ de 35 anos 555
854 854
178 415
Ocupação
principal: agricultura, pecuária e
comércio.
Renda média
mensal: 1 (um) salário mínimo.
Migração. Não se registra elevado índice. Ocorre, no entanto,
que parte dos jovens que buscam ensino de segundo grau nas cidades vizinhas não
retorna a São Miguel do Passa Quatro, passando a trabalhar e residir em outras
localidades. Entre as principais causas incluem-se a falta de oportunidade de
emprego com remuneração compensatória e a ausência de determinados serviços básicos.
Estrutura
produtiva: agricultura e pecuária.
Produto Área
cultivada Produtividade Vol. Produz.
Arroz 500 ha 840kg/ha 420
ton.
Feijão 50 ha 400kg/ha 20 ton.
Mandioca 56 ha 8.000kg/ha 448
ton.
Milho 960 ha 540kg/ha 518
ton.
Soja
7.260 ha 1.800kg/ha 130
ton.
Especificação Cabeças Prod. anual Unidade
Quantidade
Bovino/corte 5.000 2.500 arrobas 17.500
Bovino/leite 20.000
10.000 litros/leite 105.600
Ovinos 500 500 arrobas 1.500
Caprinos 300 300 arrobas
600
Suínos
1.000
1.000
arrobas 7.000
Estrutura
fundiária. O Município compreende uma
área de 50.617,63 hectares, ocupada por 351 estabelecimentos agropecuários, sendo
que 38% dos imóveis se situam em áreas inferiores a 50 hectares,
correspondentes a apenas 6,05%. Já os estabelecimentos superiores a 200
hectares correspondem a 21% das unidades agropecuárias, perfazendo 64% da
totalidade do Município.
Os
produtores localizados em áreas de 10 a 50 hectares cultivam sobretudo arroz,
milho, feijão e mandioca. A pecuária neste extrato identifica-se pela presença
de pequenos animais (suínos e aves) e algumas vacas. E é aqui que se verifica o
mais baixo nível de exploração, sendo, em média, utilizadas menos de 12% das
áreas disponíveis por estabelecimentos agropecuários. Produtores em
estabelecimentos acima de 50 hectares
apresentam um melhor índice de exploração agrícola. Neste extrato se constata a
intensificação de pecuária leiteira. Na região norte predomina a exploração da
cultura de soja, com produtividade satisfatória.
Os produtores estão assim distribuídos: os miniprodutores são em número de 134 e correspondem a 38% da classe; os pequenos produtores são 198 e representam 56%; os médios produtores são 20 e representam 6%.
Capítulo IV
A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
ATIVIDADES URBANAS
1. A construção das Praças
Já dentro das linhas traçadas pelo Plano Diretor da
cidade, foram construídas três praças: a de São Miguel, a da Bíblia e a Praça
Sebastião Gonçalves da Silva. Os serviços de arquitetura desta última foram do
Dr. Shenko, e os de ajardinamento de todas elas ficaram a cargo do saudoso
paisagista Robinho Martins de Azevedo.
A
Praça São Miguel é a que abriga o busto do Santo Padroeiro da cidade, na
parte norte, de onde se tem uma visão panorâmica de quase todo o ordenamento
urbano. É onde nasce a cidade. Ali foram plantadas: - Forrações: rabo de gato,
grama amendoim, piriquito, petúnia e orelha de lebre; Palmeiras: fênix,
latânia, cariota urens, cariota mitis e palmeira imperial; Arbustos: malpigia,
bouganvília e camarão.
A
Praça da Bíblia foi edificada no terreno que serviu de jazigo para as
famílias pioneiras da região, as reais plantadoras das raízes passaquatrenses.
Foi lá, a partir do Cemitério Velho, cuja construção fora autorizada no ano de
1923 pela Paróquia de Bonfim, que nasceu a povoação. E a intenção era não só de
preservar o local como patrimônio histórico para as novas gerações, mas também
proporcionar aos descendentes dos pioneiros e pioneiras ali sepultados,
momentos de meditação e orgulho.
O cemitério estava desativado há
mais ou menos 30 anos. E no meio da praça foi também projetado e erigido um
monumento em homenagem póstuma aos pioneiros ali sepultados e que servirá de
ponto de reflexão.
Foram plantadas na Praça da Bíblia:
latânea, bulbié lilás, grama amendoim e comum, rucélia, cana da India,
piriquitos vermelhos e amarelos, cariota mitis (palmeiras) e ciaphortia
(palmeira).
A respeito da construção da Praça da
Bíblia, o Dr. Shenko fez a seguinte consideração:
“O Prefeito, num grande momento de
inspiração, bolou essa praça para aquele local em respeito a toda família de
Passa Quatro que tem ali os seus antepassados enterrados e que não poderia
deixar de fazer dali um local de contemplação; uma praça com bastante verde,
onde as pessoas pudessem ter os seus grandes momentos de concentração espiritual.”
A
Praça Sebastião Gonçalves da Silva - O projeto da praça central, praça esta
denominada antes de Praça São Miguel para depois ser substituída pelo nome
de “Praça Sebastião Gonçalves da Silva”,
previa a construção dos canteiros com flores e ajardinamento, bem como o
erguimento de um coreto traçado em linhas modernas, mas que lembrassem o antigo
coreto que existia ao lado da Capela; previa ainda a preservação do cruzeiro,
outro marco indelével da cidade, a colocação de bancos e uma passarela nos contornos.
Porém a execução do projeto
esbarrava em outra exigência arquitetônica: a substituição de grande parte das
árvores ali existentes, o que deveria ser feito sem esquecer de preservar as
características históricas. Segundo os especialistas, a troca das árvores se
fazia necessária em face da idade de cada uma, mais ou menos trinta anos,
portanto já no final do seu ciclo de vida natural. Algumas até já apresentavam
sinais de apodrecimento.
Era muito difícil demolir aquelas
árvores frondosas, que contavam um pouco da história de Passa Quatro e que meu
pai havia ajudado a plantar e a preservar com muito carinho. Todavia era
preciso. Mas não sem antes esclarecer e consultar a população a respeito.
Fez-se então um plebiscito. A
votação para saber a opinião dos passaquatrenses
sobre a substituição ou não das árvores da praça foi organizada e conduzida de
ponta a ponta pelos alunos do Colégio: Denise, José Romer, Waber, Waldirene,
Vonim, Sebastião Heli, Divina, Aparecida Páscoa, Coldeci e Águida. No dia 27 de
abril de 1990, na presença do Prefeito, Vereadores, do Diretor do Colégio, de
professores e alunos, as urnas foram abertas
na quadra de esportes do Colégio local. O resultado da votação foi o seguinte:
516 votos “sim”, 127 votos “não”, 6 nulos e 4 brancos.
A Praça Sebastião Gonçalves da
Silva, que logo passou a ser o cartão postal da cidade, até hoje enchendo de
admiração as pessoas que por ali transitam, recebeu do competente paisagista
Robinho as seguintes plantas: plumbago, camarão, cipreste, latânea (palmeira),
areca bambu, cinerária, hibisco, penta, bulbine lilás (alho), rabo de gato, grama
amendoim, grama comum, rucélia (brinco de princesa) e phicus (árvores).
Sobre a Praça Sebastião Gonçalves da
Silva, em março de 1991 escreveu o jovem sonhador e jornalista Vassil José de
Oliveira:
“A PRAÇA, ESSA HISTÓRIA
Até há pouco,
quem vinha a São Miguel do Passa Quatro vinha para visitar a família, rever um
ou outro amigo, ou mesmo para conhecer esta cidade de nome estranho e curioso.
Hoje não. Quem vem a Passa Quatro vem também para conhecer a praça: a Praça do
‘lacerdinha’, retangular, cheia de árvores, uma sombra sem tamanho, bonita e eriçada.
O coreto é
imponente. Leva a cidade lá para aqueles antigos anos em que ele ficava de
frente para a praça e não dentro dela. Ficava ao lado da igreja. E foi ali que
um dia deram pinga para o sino, fingiram-se de soldados e fizeram um tonto
permanecer horas em posição de sentido, depois roubaram galinha para fazer
farofa. Como diz o nosso Ivam Gonçalves, ‘Passa Quatro é uma cidade cheia de
meninos traquinas...’
E a praça.
Plantaram tantas qualidades diferentes de grama nela e muitas roseiras, fizeram
uma passarela de dez metros bem no meio dela e hoje é ali que param de vez em
quando os namorados. Pra conversar, porque para beijar é melhor entre uma volta
e outra pela calçada, que o bom mesmo é ficar rodeando a praça com o ‘broto’, com
a galera rindo ou sussurrando.
O cruzeiro
está lá. Enorme cruz lavrada, renovada, de frente para a Matriz. Fizeram até um
pedestal para ela. Mas a praça não é só beleza, é gente. Muita gente. Pois não
é nem um nem dois que ficam ali debaixo das árvores todo ‘sinsenhor’ da vida,
fazendo um pito, pitando uma palha, batendo um papo, descansando o lombo e a mente.
Já levaram
dama pra lá. Já jogaram truco por lá. Já até fizeram comício por lá. A nossa
praça já foi cama para os boêmios, já foi ouvido para seresteiros, já foi palco
para barraqueiros de festas e nossa praça está viva.
A praça então
é tudo. É o cartão-postal, a beleza natural, a curiosidade, o lado pitoresco, a
marca registrada, o cenário da vida passaquatrense, os olhos de quem foi daqui
e de quem ficou para contar a nova história. Quisera eu ter estado vivo desde
os passados de meu pai e aprontar tudo que ele e seus companheiros aprontaram.
Só quem
conhece Passa Quatro e já passou um dia debaixo das árvores da praça, ou só
quem tem o prazer de olhar hoje para a nova beleza colorida e florida e gramada
e cuidada da praça é que entende uma alma passaquatrense. Ora, a praça é
simples mas nós somos simples. E a praça carrega consigo um tempo antigo de
coisas deliciosas que se voltam para o futuro.
Eu imagino o
Senito voltando a Passa Quatro e dando de cara com a nova cara da cidade onde
ele foi pai, irmão e amigo de todo mundo. Certamente Senito ia dizer que a praça
ressuscitou e a vida está aí de volta ao lar. Não por ter ido embora, mas
porque ele viu tudo diferente, pois tinha partido e descobriu que não poderá
sair mais da praça. Como tantos outros passaquatrenses, Senito faz parte da
história dessa praça que não sabe o que contar primeiro.”
2. Abertura das ruas. Indenizações
A cidade que me foi dada para
administrar não tinha timbre de cidade, não era uma cidade ainda. Tratava-se de
um povoado de 190 casas construídas sobre uma área de terras pertencentes à
Igreja e com os traçados urbanísticos desenhados em 1939 por Guilherme Veloso.
Não havia loteamentos nem espaço para a expansão urbana, talvez pela falta de
demanda nesse sentido. Naquela época ninguém em sã consciência arriscaria investir
capital na construção de casa em Passa Quatro, porque as casas ali tinham valor
irrisório.
Era preciso mudar a mentalidade das
pessoas acerca da cidade que nascia, mas ao mesmo tempo era prudente proteger a
povoação de um possível inchamento urbano irregular. Daí por que se concebeu o
Plano Diretor da cidade.
Por
outro lado, com a emancipação ficava mais fácil despertar o interesse dos
habitantes pelo lugar. E algumas medidas de impacto se faziam necessárias e
urgentes naquelas alturas dos acontecimentos. Assim, enquanto se desenvolviam
os trabalhos de elaboração do Plano Diretor, começamos a contactar alguns
proprietários visando à abertura de ruas e avenidas.
Nesse sentido, havia duas direções para a efetiva
abertura dos logradouros públicos: a força da desapropriação ou a sensatez da
negociação. Preferimos a última alternativa. E conversando amigavelmente com as
pessoas, conseguimos abrir quase todas as ruas e avenidas que nos pareciam
indispensáveis para o projeto de expansão urbana. Tudo se fez sem traumas nem
inimizades e sem a necessidade de recorrer aos meios judiciais.
A Rua Miguel Gregório de Souza, por exemplo, era
interrompida por uma casa construída no seu leito, pertencente a Olinda Marçal.
Providenciamos sua demolição e a abertura da rua e, em troca, edificamos outra
igual para a proprietária.
A Rua José Martins de Carvalho, a Rua José Calixto de
Carvalho, a Rua Horácio Cecílio Ceciliano, a Rua José Anastácio de Carvalho e a
Rua João Pereira de Carvalho foram todas abertas e os respectivos donos das terras indenizados, para fazer
ligação com a Av. das Palmeiras.
Concluído o Plano Diretor, era urgente corrigir um dos
grandes defeitos da cidadezinha que apresentava apenas a Av. Alcides Pereira de
Castro como meio de acesso à povoação. Inclusive por ocasião dos festejos cívicos,
em que havia desfile tomando todo o leito da rua, o tráfego ficava paralisado
por falta de outra opção de trânsito. Por isso, inicialmente abrimos a Av. das
Palmeiras, inaugurando uma nova mostragem urbanística, bastante moderna e
condizente com a época atual. Para esse feito indenizamos os seguintes
proprietários dos terrenos: João do Otacílio, Olaércio de Carvalho, José
Martins de Carvalho, Manoel Tobias da Silva, Cloves Cotrim e Florípio José Elias.
Pelo outro lado, em sentido paralelo, providenciamos a
abertura da Av. Graciano José da Silva, pelo que negociamos as devidas
indenizações a Abdom Rodrigues Pereira e a Olaércio de Carvalho. Abrimos ainda
a rua Levi Verônica Pinto, não sem antes indenizar o dono do imóvel, Abdom
Rodrigues Pereira.
Ao todo, para a abertura da Av. das Palmeiras e outras
vias públicas, foram indenizados aproximadamente 20.000 metros quadrados de
área urbana.
3. Água tratada
Desde que me entendi por gente, de
calças curtas e de pés no chão pelas ruas de Passa Quatro, via que a maior
dificuldade da população era com a água. Mesmo banhada de um lado pelo ribeirão
Passa Quatro, e de outro, pelo córrego das Vacas, ambos com água em abundância,
a povoação se ressentia de um serviço de abastecimento à altura de sua gente.
Até então o precioso líquido vinha das cisternas cavadas nos quintais das casas,
onde eram feitas também, ali por perto, as fossas que serviam as residências,
fato que comprometia a saúde dos moradores.
Pensando seriamente em resolver o
quanto antes o problema, fomos ao presidente do Saneamento do Estado, Saneago,
e expusemos as nossas dificuldades, esclarecendo que o povo de Passa Quatro,
por não contar ainda com os benefícios da água tratada, recorria aos métodos
ultrapassados das cisternas que eram quase sempre contaminadas pelas privadas
dos quintais. E diante da nossa insistência, o Dr. Marcos de Almeida acabou
canalizando os recursos necessários para a viabilização da empreitada.
E foi assim que em agosto de 1990,
depois de muita luta e espera, a população de Passa Quatro passou a beber e a
usar comodamente água tratada.
4. O Posto do BEG
Desde antes sabíamos do grande desafio que seria
estruturar, modelar e efetivamente construir um Município recém-criado,
especialmente o nosso que eu conhecia muito bem e sabia de cor as suas
carências e deficiências.
Estávamos iniciando uma trajetória
de muita luta e de muito sacrifício. Tínhamos também a consciência de que o
futuro do Município dependia especificamente do sucesso da primeira
administração, onde deveríamos plantar o alicerce ou a semente do futuro.
Porém não nos preocupavam muito as
obras materiais. Nossa atenção voltava-se mais para a melhoria do nível de vida
da nossa população. E um fato que nos chamava a atenção era ver os nossos
aposentados terem que se deslocar para outras cidades vizinhas, para receber
sua aposentadoria.
Sentia que era preciso dotar o povo
de um maior conforto, de uma melhor condição de vida. E por outro lado, a vida
econômica do Município já estava em franca atividade, com o comércio, a
agricultura e a pecuária leiteira em expansão. E havia ainda a questão dos
recursos municipais que de uma certa forma já justificavam a exigência de um
estabelecimento bancário no local.
E diante de nossa modesta
argumentação, contando também com a receptividade do Dr. Castro, um dos
Diretores mais receptivos do BEG, no dia 27 de julho de 1989 inauguramos um
Posto do Banco do Estado de Goiás S/A que, na época, representou um
acontecimento de vulto para a economia municipal nascente.
5. Os mutirões
Passada a euforia da eleição e das
solenidades de posse, víamos que se quiséssemos ter sucesso na obra de
edificação do novo Município era necessário esquecer todas as picuinhas
político-partidárias e reunir o povo em torno de um só objetivo: “Construir o
Município do futuro.”
Para isso, tomamos a iniciativa de
promover a aproximação principalmente com as pessoas que nos fizeram oposição.
Estendemos a mão a todos e mostramos que o interesse do Município estava acima
de qualquer divergência política.
Nesse sentido, várias foram as
experiências que vivemos. Uma das mais expressivas foi a construção de cinco
casas para pessoas carentes, no dia 11 de maio de 1989, no loteamento
“Guarujá”. Para surpresa nossa, das 7h às 8h apareceram cerca de 200 pessoas
para o desempenho da tarefa. Lideradas pela Primeira-Dama do Município, Dona Cotinha,
foram erguidas casas simples de quatro compartimentos, com 32 metros quadrados
de área cada uma, tendo consumido 10.000 tijolos e muitas telhas “brasilit”,
num mutirão que mobilizou não só a população da cidade, mas de todos os cantos
do Município.
Mais do que o erguimento das casas,
o mutirão valeu a pena notadamente pela construção da unidade das pessoas do
lugar, numa constatação claríssima de que povo unido é povo forte e invencível.
Na solenidade da entrega das casas e
outras obras, aliás, as primeiras do novo Município, em 27 de julho de 1989,
permanecíamos atentos às palavras do Deputado João Natal, que para nós eram de
vital importância, especialmente pelo respeito e pelo reconhecimento de tudo
que ele havia feito por Passa Quatro. De sua boca deveria sair a aprovação ou a
reprovação pública da administração que estávamos empreendendo.
Ao se referir às casas populares do
mutirão, disse ter sentido nelas “algo
mais do que as paredes e as telhas que dão forma àquela habitação simples”. “Eu
senti ali” - afirmou - “um atestado eloqüente de que nada deterá a nossa
caminhada; que nada impedirá que São Miguel caminhe para a frente e para o
alto, buscando um futuro melhor para os seus filhos e para nossa gente.”
Outra experiência de mutirão
aconteceu logo que assumimos a Prefeitura, com a área urbana repleta de lixo,
muito capim, vassoura curraleira e entulhos. Convidamos a população para pegar
na enxada conosco e o povo atendeu ao nosso apelo. Parecia uma festa! De fato
foi mesmo uma festa, uma festa de solidariedade, de dedicação e de civismo.
Diversas Prefeituras, como as de Santa Cruz de Goiás, Palmelo e Leopoldo de Bulhões,
mandaram caminhões basculantes para ajudar na coleta do lixo.
O certo é que de repente a
cidadezinha ganhou outro visual. O povo começou a ficar mais animado e logo se
podia sentir uma pontinha de orgulho pela cidade, no semblante e mesmo nas
colocações de cada habitante.
6. A reforma do cemitério da cidade
Chamava muito a nossa atenção a situação de abandono
do cemitério. Não o antigo, hoje Praça da Bíblia, mas o que estava em uso.
Muito sujo, túmulos derrubados por animais que ali entravam, muros caídos,
portão sem tranca e assim por diante.
Por isso uma das primeiras
iniciativas nossas foi destacar alguém da Prefeitura para ser o responsável
pela preservação daquele campo santo.
E imediatamente desenvolvemos a obra
de restauração, promovendo a limpeza geral do terreno e dos túmulos, fizemos passarelas
de cimento, reformamos os muros e demos-lhes pintura e reconstruímos a Capelinha.
De sorte que as pessoas do lugar e as que vinham de fora já denotavam satisfação
de poderem visitar seus entes queridos ali sepultados.
7. A reforma do prédio e da estrutura da
Igreja local
Quando assumimos a chefia do Executivo, com todos
aqueles desafios e propósitos de dotar o Município de uma estrutura sólida,
tanto no campo físico quanto na área do contingente humano, outra prioridade
que elegemos foi a reforma do prédio da Igreja e da estrutura básica de seu funcionamento.
Recordo-me de um fato interessante:
até então, quase todos os casamentos religiosos eram realizados em igrejas das
cidades vizinhas, porque a rejeição das noivas à igreja local era bastante
grande. Alegavam que ela era muito feia, mal-acabada, os bancos eram velhos,
quebrados e tortos. Por isso aquele prédio não comportava uma solenidade digna
de uma noiva que se veste de branco, que sonha com uma entrada nupcial de gala
e que quer fazer-se acompanhar de uma dúzia de padrinhos e madrinhas.
Era o orgulho ferido de uma
população que na sua quase totalidade professava o catolicismo, mas que carecia
de uma liderança e um acompanhamento espiritual.
Fomos ao trabalho. Trocamos a porta
de entrada, os vitrôs e as portas laterais, substituindo-os por outros similares
bem mais modernos. Aplicamos uma pintura geral e adquirimos bancos novinhos e
bem acabados, assim como uma proteção de madeira na entrada, a pedido do Pe.
Pedro, vigário de Silvânia.
As despesas com esses
empreendimentos foram rateadas da seguinte maneira: metade distribuída com os
comerciantes e os fazendeiros de maior influência; a outra metade com os
funcionários da Prefeitura, incluindo-se o Prefeito. E assim, no primeiro pagamento
que a municipalidade fez aos seus servidores, em março de 1989, mas referente a
janeiro/89, foi descontado o percentual de 30% no salário de cada um, após a
concordância de todos.
Subido esse degrau, os casamentos e
os batizados passaram a ser celebrados na igreja local sem constrangimento
algum. Mas não era o suficiente para nossas aspirações. Continuamos então a
sonhar mais alto. Já estávamos no segundo ano da administração e as bases
mestras da estruturação municipal pareciam consolidadas: máquina administrativa
montada, o projeto educacional em ascensão, a saúde regularmente cuidada, o
social bem atendido, a cidade planejada, a zona rural com programa de atendimento
já delineado e em execução...
Porém, como católicos praticantes
que sempre fomos, sentíamos que alguma coisa estava faltando: era o
desenvolvimento da parte religiosa, vez que não havia por parte da Igreja
Paroquial de Silvânia nem mesmo da Igreja Diocesana de Goiânia nenhum projeto
em execução nesse sentido. Apenas o esforço gigante dos padres João, Antonio,
Lancísio e Pedro Celestino que, não obstante as limitações de distância,
comunicação precária e dificuldade de meio de transporte, prestaram relevantes
serviços a Passa Quatro nessa área.
Decidimos, eu e minha esposa, falar
com o Arcebispo. Em audiência respeitosa, colocamos ao representante da Arquidiocese
que o que era de nossa alçada, com relação à estruturação do Município, já
estava com seus alicerces plantados. Contudo, faltava o aprimoramento catequético-religioso
da população, que naquele momento estávamos entregando à responsabilidade do
Bispo. Dissemos também que Passa Quatro nasceu sob o signo do cristianismo,
especialmente do catolicismo, e desejávamos que o nosso povo continuasse
recebendo essa mesma formação espiritual.
Lembramos Sua Excelência do antigo
projeto entregue ao Pe. Lancísio, de criação da Paróquia de São Miguel,
abrangendo S. M. do Passa Quatro e Cristianópolis, que foi sepultado com a
morte prematura daquele piedoso e diligente sacerdote.
A resposta que obtivemos foi a de
que em Passa Quatro não havia casa paroquial para abrigar a residência de um
padre. E foi aí que respondemos, com o coração cheio de fé e de esperança, que
se o problema era aquele, poderia ele preparar o padre pois dentro de três
meses conseguiríamos levantar a reclamada casa paroquial.
Regressando, entramos imediatamente
em contato com a Comissão da Igreja, responsável pela sua administração,
liderada pelo Braz Osório da Costa e pelo João Mateus. E num esforço comum da
Prefeitura, Comissão da Igreja e Povo, no final do prazo marcado a construção
estava pronta.
Voltamos ao Sr. Arcebispo para
marcar a data da entrega das chaves. Ele ficou espantado, surpreso, mas feliz.
Pediu-nos dez dias de prazo para apresentar-nos o vigário, alegando que estava
muito difícil a disponibilidade de padres.
Escoado aquele prazo, fomos por ele
chamados a Goiânia. Naquela oportunidade o Pastor Diocesano ponderou que não
havia conseguido o padre que reivindicávamos, contudo estavam à disposição de
nossa comunidade “umas freiras que pareciam muito caridosas, com experiência
catequética no Norte, e certamente iriam desenvolver um trabalho muito bom em
Passa Quatro”. Adiantou-nos ainda que devido ao limitado número de sacerdotes
na Diocese, gostaria de fazer uma experiência-piloto que, se desse certo,
poderia resolver pelo menos em parte esse “problema tão angustiante”.
Apenas reiteramos, não muito
conformados, que a responsabilidade pela formação religiosa dos fiéis do novo
Município era dele. E fomos embora, um tanto ressabiados, diante da informação
da linha de trabalho das religiosas que logo passaríamos a conhecer, pois
temíamos que a catequese se direcionasse para os rumos da incitação agressiva e
radical dos movimentos sindicalistas de esquerda.
No entanto recebemos as religiosas
enviadas pelo Bispo e procuramos cercá-las do apoio de que eram merecedoras.
Acharam elas por bem deixar a casa paroquial e construir seu próprio canto, no
que nos dispusemos a viabilizar-lhes a escritura do terreno, mexendo na lei que
delimitava o perímetro urbano da cidade, para declarar oficialmente área urbana
o local do pequeno imóvel rural que adquiriram para aquele fim. Terminada a
construção da casa, na qual a Prefeitura teve participação, fizemos várias tentativas
até conseguir com o então Governador do Estado a autorização para a instalação
de energia elétrica na propriedade, com o fim especial de assegurar-lhes maior
conforto e comodidade.
8. CRELA. O sonho e a realidade
Desde o seu início a nossa administração procurou
incentivar e investir na educação, inclusive com programa arrojado e pioneiro
de transporte diário de estudantes do campo para a cidade. Isto acabou
provocando um fluxo muito grande de jovens e adolescentes não só no Colégio,
mas também na pequena cidade.
Diante dessa constante movimentação,
sentimos a necessidade de darmos maior amplitude ao projeto educacional,
direcionando nossas atenções para o esporte e o lazer como fontes
excepcionais de congregação dos povos e, no caso específico, da juventude.
Por outro lado, na condição de passaquatrense que
outrora se viu obrigado a sair de sua terra em busca de estudo e trabalho lá
fora, mas que nunca deixou de alimentar o amor e a estima pelo seu lugar de
origem e por sua gente, eu tinha um sonho: fazer uma obra que pudesse chamar a
atenção e trazer de volta os passaquatrenses que residiam em lugares diversos,
mas que tinham ali fincadas suas raízes. Passava pela nossa cabeça que um clube
para os lazeres de finais de semana poderia ser esse chamariz.
Criamos então o Clube Recreativo e
Educacional do Lajeado - CRELA. Para assentá-lo a Prefeitura adquiriu, por
compra a Olaércio de Carvalho, 22 litros de terreno no Lajeado, à margem
direita do córrego das Vacas, mas no perímetro urbano, onde seria construída
sede própria com clube dançante, salão de jogos, quadra de esportes, campo de
areia, gramado soçaite, piscina de
água corrente e lanchonete.
O sonho do CRELA infelizmente não
chegou a virar realidade. Porém, a semente foi jogada e conseguimos alguns
avanços. Um deles foi a planta da sede do clube, muito bem elaborada e depois
doada à Prefeitura pela arquiteta Dra. Ângela Fernandes de Oliveira que,
juntamente com seu marido Dr. Jaeme, eram fazendeiros no Município, na região
do Capim Puba.
Estava prevista ainda a construção
de uma quadra de esportes polivalente. E no final do nosso mandato deixamos a
quadra já na fase de acabamento.
Uma comissão destinada à implantação
e administração do CRELA chegou a ser criada através do Decreto Municipal nº
019, de 19 de junho de 1989, em que era presidente Manoel Inácio Canedo e secretário
Leomar José de Castro. A referida comissão tinha poderes para elaborar o
regimento interno do clube, promover festas, eventos esportivos e praticar os
demais atos necessários à boa administração.
9. A sede da Prefeitura e da Câmara
Municipal. A avaliação de dois anos de administração
Concluídos os dois primeiros anos de uma administração
que começou do nada, em 20 de fevereiro de 1991 a Prefeitura passou a funcionar
em sede própria, na Praça Sebastião Gonçalves da Silva, nº 697. Pudemos então
entregar à população um prédio moderno, construído com recursos próprios,
localizado bem no centro da cidade. No ano seguinte foi a vez da Câmara
Municipal que passou a ter funcionamento em local adequado, com compartimentos
próprios, plenário para as discussões parlamentares, tudo com instalações
modernas e bem trabalhadas.
Recordo-me que por ocasião da
inauguração da sede municipal concedi uma entrevista ao jornal “O Patrimônio”
nos seguintes termos:
PERGUNTA: “Como está hoje
financeira e administrativamente São Miguel do Passa Quatro?”
RESPOSTA: “Administrativamente o
Município já está montado. Todos os órgãos já estão funcionando de maneira
satisfatória e a cidade está bem servida. Grande parte daquilo que uma
comunidade necessita já é feito aqui mesmo em Passa Quatro.
Financeiramente estamos saindo de
uma crise muito forte, uma recessão violenta, e entrando agora numa fase muito
importante, que é uma fase mais amadurecida, após momentos de dificuldades,
quando tivemos de paralisar nossas atividades durante três meses seguidos.
Agora quitamos os débitos provenientes da aquisição da patrol e da pá-mecânica
e estamos retomando o caminho das obras.”
PERGUNTA:
“Qual a importância de uma sede própria para funcionamento da Prefeitura?”
RESPOSTA: “Acho que é o atestado
de autonomia, de independência do Município. Acho ainda que foi a prova de
fogo, porque há dois anos atrás, quando assumimos o Município, não tínhamos
lugar para instalar os órgãos municipais. Não possuíamos uma vassoura para
começar a limpeza da cidade, nem uma enxada... Não tínhamos absolutamente nada,
a não ser coragem e ousadia. Agora, depois de dois anos de luta, estamos
inaugurando a sede própria da prefeitura. Isso significa que o Município realmente já está
consolidado. Isso para mim é a coisa mais importante.
Eu achava que durante o meu
mandato, nos quatro anos que estivesse à frente do Município, se conseguisse
consolidar a emancipação de São Miguel do Passa Quatro eu me daria por
contente, pois considerava estar cumprida minha missão. Agora vemos com
satisfação que tudo que imaginei fazer em quatro anos fizemos em dois. Por isso
é que vejo um futuro muito promissor, porque temos ainda dois anos de
administração pela frente, já com o Município consolidado e os funcionários
devidamente treinados e amadurecidos.
É importante salientar que quando
começamos nossa administração não trouxemos nenhum funcionário de fora.
Servimo-nos dos préstimos dos jovens aqui do lugar, de bons antecedentes e que
tinham terminado o segundo grau. Porém uma meninada, pode-se dizer. Foram
rapazes e moças de 18 e 19 anos. E foi com esse pessoal que durante esses dois
anos formamos uma equipe de trabalho de qualidade. Demos formação técnica e
profissional a todos eles. Hoje a equipe está realmente madura. Os funcionários
da Prefeitura, mesmo o pessoal da externa, são elogiados pela população. Há
pouco tempo as pessoas chegavam a rir pelas ruas dos pedreiros da prefeitura, dizendo
que eles não sabiam trabalhar. Agora, depois de pronto o prédio da Prefeitura,
a cidade está boquiaberta de ver a qualidade técnica empregada naquela obra. É
sinal de que nossa equipe realmente está pronta. É, portanto, um Município que
está apto a começar a construir seu verdadeiro progresso.”
PERGUNTA: “Algo muito notado por
quem tem vindo a SMPQ, principalmente pela primeira vez, é quanto à limpeza da
cidade...”
RESPOSTA: “Interessante que foi
uma promessa de campanha, quando afirmamos que a cidade era muito pequena e em
pouco tempo queríamos fazer dela uma ‘tetéia’. E nós temos investido muito no
seu embelezamento, na limpeza pública, abrimos várias ruas e avenidas e estamos
investindo na ampliação da zona urbana, abrindo espaço para que as pessoas
possam construir. Fizemos uma promoção, dando material para a pintura das
casas, construímos passeios na praça central e na rua principal, tudo para
mudar o visual urbanístico. Depois que nós entramos, em dois anos foram
construídas cem novas casas. Olhe que foram vinte anos sem que tivessem sido
construídas dez casas. Este é um fato bastante notável.”
10. Obras realizadas na cidade
Em resumo, foram realizadas na
cidade as seguintes obras:
- Planejamento urbano: serviço de topografia,
arquitetura e mapeamento;
- Aprovação do Plano Diretor urbano, em dezembro de
1989;
- Delimitação do perímetro urbano e denominação dos
logradouros públicos;
- Abertura, mediante negociação e indenização, da
Av. das Palmeiras, de 27 metros de largura por 1.390 metros de extensão;
da rua Levi Verônica Pinto, de 14 metros de largura por 210 metros de
extensão; da Av. Perimetral, posteriormente Av. Graciano José da Silva, de
15 metros de largura por 700 metros de extensão; de trechos das ruas José
Martins de Carvalho, José Calixto de Carvalho, Miguel Gregório de Souza,
Horácio Cecílio Ceciliano, José Anastácio de Carvalho e José Pereira de
Carvalho, de 12 metros de largura, cada uma, e 382 metros de extensão, ao
todo;
- Abertura das vias públicas do loteamento
“Guarujá” e aquisição de 14 lotes no mesmo loteamento, para construção de
casas populares para carentes, e mais a área pública ao lado do cemitério;
- Construção das 14 residências para pessoas
carentes, no loteamento “Guarujá”;
- Aquisição de bem imóvel para sediar os Poderes
Executivo e Legislativo; construção da sede própria da Prefeitura e da Câmara;
- Construção e ajardinamento da Praça Sebastião
Gonçalves da Silva, da Praça da Bíblia e da Praça São Miguel;
- Aquisição e implantação do busto de São Miguel na
entrada da cidade;
- Reforma do Estádio Municipal José Batista da
Paixão, incluindo recuperação e ampliação do gramado, construção de
mini-arquibancada, colocação de bancos, arborização lateral e ampliação do
vestiário;
- Aquisição do terreno do CRELA, de 22 litros de
área, e construção da quadra de esportes polivalente (inacabada);
- Renegociação com a Go-gó para reaproveitamento da
área de terras na saída para Bela Vista, loteamento e doação dos lotes a
pessoas de baixa renda; doação por parte da Prefeitura, ora de materiais,
ora de mão-de-obra para construção das casas, num total de 30, mais ou
menos;
- Aquisição de 12.000 metros quadrados de terreno
na rua Guilherme Veloso, destinados à construção do hospital e
fracionamento em lotes para construção de casas populares; construção da
Creche José Calixto, nesta área;
- Aquisição de 4.000 metros quadrados de terreno na
Av. Alcides Pereira de Castro no cruzamento da rua Guilherme Veloso para
futuras instalações de órgãos públicos;
- Reforma e ampliação do prédio do Posto de Saúde;
- Reforma total dos três pavilhões do Colégio
Estadual Adonias Lemes do Prado, em convênio com a Prefeitura e Secretaria
de Estado da Educação;
- Reforma da quadra de esportes do Col. Est.
Adonias L. do Prado (recursos da Prefeitura);
- Aquisição de 1 (um) alqueire de terreno no
perímetro urbano para construção de 93 casas populares (recursos da
Prefeitura) e assentamento do Bairro São Francisco de Assis;
- Construção de 37 casas no Bairro São Francisco de
Assis, com participação da Prefeitura, do Governo do Estado e do povo;
- Ampliação da rede elétrica da cidade, com
implantação de redes trifásicas de energia (recursos da CELG);
- Construção da casa paroquial, reforma da igreja e
do Centro Comunitário, com a ajuda da comunidade;
- Pavimentação de 595 metros quadrados na Av.
Alcides Pereira de Castro (bloquetes);
- Construção de 625 metros quadrados de passeios de
concreto (calçadas) na Praça Sebastião Gonçalves da Silva e 485 metros
quadrados na Av. Alcides Pereira de Castro;
- Colocação de 2.000 metros lineares de meios-fios
distribuídos em diversas ruas da cidade;
- Construção do escritório da CELG (convênio - obra
inacabada);
- Reforma e manutenção do Cemitério Público;
- Arborização do centro da cidade, com plantação de
munguba;
- Arborização da Av. das Palmeiras, com plantação
de palmeiras;
- Arborização da continuação da Av. das Palmeiras,
rumo norte, mediante o plantio de 8.000 pés de eucaliptos, 90
jabuticabeiras, 90 mangueiras e 120 laranjeiras;
- Serviço de limpeza constante da cidade, com
coleta de lixo;
- Abastecimento da cidade com rede de água tratada
(Sistema Saneago);
- Órgãos implantados e em funcionamento: Posto
Bancário (BEG); Posto Telefônico (Telegoiás); Posto dos Correios e
Telégrafos; Posto de Representação do INAMPS; Agenfa (sistema de
fiscalização em convênio com o Estado); Serviço de Cadastramento do INCRA;
Serviço de Alistamento Militar; Serviço de Alistamento Eleitoral; Serviço
de Expedição de Carteira de Trabalho; Serviço de Xerox mantido pela
Prefeitura; Posto da Emater-GO (convênio).
Capítulo V
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO,
DO ESPORTE E DO LAZER
1. O projeto educacional
Minha militância na área da educação, com experiência
de sala de aula e de direção de colégio, foi-me valiosa. Conhecia de perto as
deficiências humanas do lugar e as dificuldades físicas de funcionamento da
escola, com sinais evidentes de precariedade em todos os setores. Sabia que era
urgente promover a reformulação de todo o processo educacional global do
Município, já que os problemas se faziam sentir não só na cidade, mas também
nas escolas rurais.
Por outro lado, já havia a preocupação de
imprimir o desenvolvimento integrado da
cidade e do campo, na esperança de que o progresso alcançasse o Município como
um todo. E foi aí que nasceu a idéia de transportar os alunos da zona rural
para estudar na escola da cidade. Aliás, o projeto foi considerado, na época,
ousado e pioneiro na região.
Acreditava-se que era preciso desenvolver a cidade com
urgência, porém não sem o cuidado de preservar o homem do campo no local onde fora criado e onde aprimorara suas
potencialidades e conhecimentos, para que pudesse extrair da terra não só o
sustento de sua família, mas também para contribuir de maneira mais eficaz com
a geração de riquezas da qual o novo Município era tão carente.
Era desejo nosso ainda investir na qualidade do
ensino, que se ressentia de um melhor cuidado devido principalmente à distância
da sede do Município, antes da emancipação. E como nos mostra a história, a
exemplo dos povos bem-sucedidos que fizeram da educação a sua bandeira, para
nós era prioritário o projeto educacional, como ponto de partida para o
nascimento de um Município forte e com perspectivas alvissareiras.
2. O transporte de estudantes
Além dos objetivos educacionais,
tínhamos em mente que o transporte de estudantes poderia resolver também outras
duas distorções: a deficiente geração de riquezas no campo e a desintegração da
família rural.
Quanto à geração de riquezas no
campo, era imperioso incrementá-las, seguindo as pegadas da vocação rural
observada no Município. Não era vantajoso para o desenvolvimento municipal
fechar os olhos para o êxodo rural e deixar que fluísse livremente, porque a
cidade não oferecia nenhuma possibilidade de emprego que pudesse absorver
qualquer mão-de-obra.
Então era ali, na sua comunidade
rural, que a família merecia alcançar os seus objetivos e trilhar os caminhos
da felicidade. Mas para isso era necessário que o Poder Público facilitasse o
acesso das crianças, adolescentes e jovens aos meios de educação, em igualdade
de condições com os estudantes da cidade.
Com
relação à questão da desintegração da família rural, fui criado em um regime
familiar que concebia o princípio segundo o qual, aconteça o que acontecer,
marido e mulher deverão estar sempre juntos, acreditando assim que Deus se
manifesta no relacionamento dos dois, emergindo daí a solução para cada um dos
problemas que surgem, quer vindos da vida conjugal, quer da relação pais e filhos.
E a
realidade mostrava-nos a experiência de inúmeras famílias rurais que, na ânsia
de dar escola e de perseguir um futuro melhor para os seus filhos, a esposa
mudava-se com as crianças para a cidade, ficando o homem sozinho na roça, para
trabalhar a terra e levar-lhes o sustento.
Só
nos finais de semana que a família se reunia por completo, o que era muito
pouco para um projeto educacional familiar que deve ser contínuo. Era uma
semana inteira em que ele não sabia direito o que estava acontecendo com sua
mulher e com seus filhos. Os problemas de casa que requeriam solução imediata,
especialmente com relação aos adolescentes, ela era obrigada a resolver
sozinha, quando não ficavam acumulados à espera do marido.
Além
do mais, o exercício de estimulação conjugal ficava prejudicado com essa
separação familiar provisória e forçada, dando lugar ao surgimento de eventual
aventura amorosa, tanto da parte dele que estava sozinho na roça, quanto da
parte dela, que se via assediada constantemente e indefesa, num mundo que não
era propriamente o dela. E na maioria dos casos a família era flagrada pela
triste realidade do esfacelamento.
Foi
aí que criamos o PAE - Programa de Assistência ao Estudante. E a partir daí a
Prefeitura passou a investir pesado nesse setor, contratando viaturas para
transportar alunos de todas as regiões do Município. Já no primeiro ano de
administração foram transportados diariamente mais de uma centena de alunos da
zona rural para a cidade.
Como
numa administração municipal uma coisa puxa a outra, tudo foi cuidadosamente
calculado para que tivéssemos as condições necessárias não só para pagar os
“carreteiros” dos estudantes, mas ainda para promover a abertura e conservação
das estradas, fato este que custou altos sacrifícios para sua viabilização.
Sobre
o programa, assim se expressou a professora Dalva Batista de Lima, na época:
“Quero parabenizar o Prefeito e a Primeira-Dama de nossa cidade pelo trabalho
sério, competente e honesto que estão fazendo à frente de nossa Prefeitura. Não
só têm feito ao Município, mas também junto ao Colégio, transportando alunos de
vários locais para que possam ter um bom aproveitamento. Além do transporte de
estudantes, estão dando o maior apoio aos professores e ao desenvolvimento de
ações fortalecendo as escolas rurais.”
3. O reerguimento
do Colégio
Entendíamos também que para
desenvolver a educação como imaginávamos, era preciso melhorar o nível do
Colégio, tanto da estrutura física, “que era de dar vergonha”, quanto da
qualidade do ensino ministrado pelos nossos professores.
O ensino foi municipalizado. O
prédio do Colégio foi reformado, tendo a Secretaria Estadual da Educação
repassado à Prefeitura verba suficiente para a realização da obra.
À época, em entrevista a um jornal,
fizemos a seguinte colocação: “O PAE - Programa de Assistência ao Estudante,
criado pela Prefeitura, é de uma importância incalculável para nossa
administração. Um Município que está querendo caminhar para o futuro, deve
começar melhorando a educação. Para construirmos o Município do futuro, de que
temos falado tanto, teremos de iniciar pela melhoria do nível de ensino das
nossas escolas. Por isso começamos transportando estudantes e contratando cinco
professores de nível universitário” (Jornal Correio do Sudeste, julho/1990).
Um desses professores, João Bosco
Pires, formado em geografia pela UFG, após o primeiro ano letivo, observava:
“Este ano o Colégio mudou da água para o vinho. Os professores estão cumprindo
horário direitinho e até os alunos se conscientizaram de que a coisa melhorou.
É gratificante para o professor ver que o Colégio saiu de uma situação
precária, quase morrendo, para uma melhora de cem por cento sob o comando da
Prefeitura. E o aluno, vendo que a coisa está sendo feita com seriedade, se
esforça na sala de aula para ser sério também.”
Depoimento da aluna Vagna Maria da Silva, de 13 anos
de idade e que cursava a 6ª série: “Ando diariamente 24 quilômetros numa
camionete, do Rio dos Bois até a cidade. A viagem até a escola torna-se mais
cansativa ainda porque tenho de andar mais 2 quilômetros a pé, até o ponto de
espera. Porém, mesmo com tanto esforço, vale a pena. O Colégio este ano está
bem mais organizado. Não há mais aquela questão de você viajar com sacrifício e
não haver aula. Ficou mais difícil o ensino, mas está melhor assim.”
Houve um momento em que a Secretaria Estadual da
Educação decidiu fechar o curso de 2º grau. Seria um retrocesso muito drástico
para a vida da população. Fomos atrás, protestamos, mas não houve recuo por
parte do órgão superior de ensino.
Diante daquela contingência, não tivemos nenhuma
hesitação. A Prefeitura assumiu a responsabilidade do pagamento dos professores
e prometeu bancar os demais custos que o curso exige, para que não fosse ele
extinto. Diante disso, a Secretaria Estadual da Educação não teve argumentos
para fechar o curso.
4. Os principais investimentos na área
da educação
- Implantação do Programa de Assistência ao
Estudante - PAE, com transporte diário de estudantes da zona rural para a
cidade, cujo número de jovens e adolescentes atendidos passou de 200 no
ano de 1992, com abrangência de todo o Município.
- Merenda escolar para toda a rede municipal de
ensino, em convênio com SEMAE.
- Fornecimento de materiais escolares para toda a
rede de ensino, com distribuição de cadernos personalizados, lápis,
borrachas e livros.
- Distribuição de “kits” escolares para o ensino fundamental, constituídos de
mochila, quatro cadernos, uma cartilha de aritmética e uma coleção ecológica.
- Cursos periódicos de reciclagem e aprimoramento
para merendeiras e professores, mantidos pela Prefeitura.
- Convênio para sustentação dos Projetos Lumem e
Supletivo, para abrir maiores possibilidades de aprendizagem aos
interessados.
- Sustentação pela Prefeitura de oito professores
estaduais, três auxiliares de secretaria e o Diretor do Colégio.
- Aquisição de uma fanfarra para o Colégio,
composta de 12 elementos.
- Criação e manutenção da Biblioteca Pública
Municipal.
- Constante promoção de gincanas, jogos estudantis,
desfiles escolares etc., todos com recursos municipais.
- Reforma da quadra de esportes do Colégio.
- Ativação e reforma total da Escola Sinhá de Lulu.
- Criação da Escola Municipal Jovita Alves, na
região da Mumbuca.
- Reforma e ampliação, com residência para
professor e cantina: da Escola N.S.de Fátima (Passa Quatro dos Brandão);
da Escola João Ramos de Souza (Aborrecido); da Escola Ver. Alcides P. de
Castro (Buriti).
- Reforma simples e pintura: da Escola Deodoro Luiz
Brandão (Capim Puba); da Escola União (Passa Quatro de Cima); da Escola
Nico Tavares (Monjolinho); da Escola Antonio Vieira da Mota (Rio Preto); da
Escola Ranulfo Rodrigues Pereira (Zé Alonso); da Escola Maria Ribeiro
Magalhães (Aborrecido de Cima); da Escola Santa Luzia (Água Vermelha de
Cima); da Escola Alfreu Ribeiro de Miranda (Água Vermelha dos Ciríaco); da
Escola Canavial (Canavial); da Escola Estrela Dalva (Matoso); Aquisição de
uma Kombi zero-quilômetro, para viabilizar o atendimento às escolas
municipais.
5. A biblioteca
O poeta Salomão Sousa escreveu que
“A palavra é o início de todo gesto criativo. A palavra desenvolve o
pensamento, constrói a casa, abre o caminho que vai ao rio. A palavra
determina, provoca a nossa decisão. Caso não existisse a palavra, seríamos
simplesmente um animal agindo. Já que temos a palavra, não só agimos, somos.”
Na esperança de que o
passaquatrense, especialmente a população estudantil, aprendesse a conviver com
a palavra através da leitura, criou-se a Biblioteca Pública Municipal Dom
Fernando Gomes dos Santos.
Sobre a biblioteca noticiou o jornal
“O Patrimônio”:
“Está inaugurada
a nossa biblioteca. A festa aconteceu no final de junho e contou com a presença
de muita gente e de atrações como lambada e quadrilha. O acervo é riquíssimo.
Há ali livros importantes para pesquisa, lazer ou enriquecimento da cultura.
Faça uma visita. A Biblioteca Dom Fernando Gomes dos Santos é um presente para
quem quer se instruir” (edição de julho/agosto-90);
“No início de
junho o Prefeito Elson Gonçalves esteve na Secretaria da Cultura do Estado para
cumprimentar o amigo Geraldo Coelho Vaz, que tem propriedade em São Miguel. Ele
vem lutando na Secretaria para dar vida ao seu projeto de interiorização da
cultura, embora contando, por enquanto, com minguados recursos. Durante a
visita de Elson, Geraldo Vaz doou para a biblioteca do Município cerca de cem
livros de autores goianos” (edição de julho/agosto-91);
“A nossa
juventude está lendo mais. Esta é uma notícia que deve ser recebida com festa.
Os livros da Biblioteca Dom Fernando Gomes dos Santos estão sendo procurados
cada vez mais pelos jovens passaquatrenses tanto da zona urbana quanto rural.
Isso significa que São Miguel do Passa Quatro está plantando um futuro mais
brilhante e promissor. Os investimentos da Prefeitura na área da educação hoje
significam a maior realização da atual administração” (edição de outubro-91).
6. A Bandeira do Município
Na presença do Secretário da Cultura de Goiás, Geraldo
Coelho Vaz, do escritor Valdivino Braz, da grande maioria dos vereadores, estudantes
e o povo em geral, todos reunidos em grande festa, fizemos a entrega da
Bandeira do Município de São Miguel do Passa Quatro à população. Ela foi
escolhida através de concurso público vencido pela silvaniense Maria Alice e
Pereira.
Maria Alice e Pereira, uma
silvaniense de 41 anos de idade e curso superior em licenciatura, desenho e
plástica, foi a vencedora do concurso para a escolha da Bandeira do Município,
promovido pela Prefeitura Municipal e pelo Colégio Estadual Adonias Lemes do
Prado. A vencedora recebeu da Prefeitura um prêmio simbólico de um salário mínimo.
A comissão julgadora foi composta de
cinco membros: Gilberto Vieira Machado (Secretário da Prefeitura e presidente
da comissão), Eudécio Gonçalves de Melo (odontólogo e professor), Antonio Pires
Basílio (professor), Dalva Batista de Lima (professora) e César Antonio de
Oliveira (vereador).
O significado do desenho e das cores
da Bandeira:
Verde - aspecto ecológico da região, como
matas e cerrados e as riquezas das pastagens;
Branco - fé, paz e união existentes entre os
moradores de São Miguel do Passa Quatro e ainda a grande produção de leite do
município;
Galhos de arroz e soja - riqueza
agrícola da região;
Azul - luta de um município em desenvolvimento;
Livro aberto - educação e cultura no centro
de todo o empreendimento administrativo;
Triângulo - os três princípios básicos de um
povo: liberdade, igualdade e fraternidade;
Sol - representa o nascimento de um
município, refletindo a luz do alto que dá força, coragem e dinamismo para
enfrentar todos os obstáculos na luta pela união e crescimento.
7. O futebol como fonte de lazer e de
integração municipal
Durante a campanha eleitoral com vistas à Prefeitura,
tivemos a oportunidade de visitar cada canto do Município recém-criado, de conhecer
melhor seus habitantes, seus usos e costumes, a riqueza e a vocação para o
crescimento mostradas por cada região.
Um fato que nos chamou a atenção
desde o início foi a falta de integração populacional. Assim, a região do
Passaquatinho e da Cachoeira tinham ligações comerciais e afetivas com Bela
Vista e não com o restante do Município; o Rio Preto ainda continuava preso a
Silvânia, para onde era escoada a produção leiteira; o Rio dos Bois de Cima e o
Aborrecido eram mais ligados comercialmente a Vianópolis; as regiões do Matoso
e do Buriti tinham grande parte de seu eleitorado vinculada a Cristianópolis. Via-se,
pois, que do ponto de vista sociológico o novo Município era desintegrado e não
havia ainda um sentimento de municipalidade, de patriotismo e muito menos de
bairrismo com relação à unidade municipal. Esta, inclusive, simplesmente não
existia. Contudo, percebia-se uma enorme perspectiva e até mesmo curiosidade
das pessoas para com a nova realidade, fato que nos fazia vislumbrar um campo
fértil para um trabalho nesse sentido.
Com base nessa constatação, sabíamos que uma das
primeiras providências à frente da administração municipal deveria ser a
promoção da integração social, cultural e econômica do Município. E era urgente
fazê-lo, enquanto se achava viva a euforia da população. Mas como? Esta era a
grande pergunta que nos tirou o sono durante largo espaço de tempo.
A resposta veio em seguida: através
do futebol. E decidimos unir o útil ao agradável para fazer o primeiro teste. E
foi assim que no dia festivo da posse e instalação do Município fizemos constar
do programa um encontro futebolístico entre a seleção local e a de Vianópolis.
E convidamos como atração principal três jogadores profissionais como reforços
para o time de Passa Quatro, que aparentemente era mais fraco: os jogadores
Marçal, do Atlético Goianiense (filho de Passa Quatro); Cláudio, do
Goiatuba-GO; e Carlos Alberto Santos, ex-Goiás e jogando no Botafogo do Rio de
Janeiro. Os dois últimos, filhos de Vianópolis.
Foi uma festa memorável. Havia
pessoas de todas as partes do Município, numa forte evidência de que estávamos
no caminho certo. Passa Quatro venceu por 5 x 0 com gols de Carlos Alberto 2,
Marçal 2 e Agnaldo 1.
O time de Passa Quatro formou-se com
Zé Tatu (Nivon), Felisberto (Alberto), Jackson, Toinho, Jeocivaldo (Dinair),
Rubens, Zé Mendes (Agnaldo), Carlos Alberto, Leomar, Marçal e Cláudio. Técnico:
Manoel Tobias da Silva. A esquadra de Vianópolis formou-se com Silvio, Jales,
Edney, Waldevade, Geraldinho, Wilson, Silvano, Hirley, Egmar, Zé Burrego e Morival.
Técnico: Edinho.
Passada essa fase, pensamos então na
promoção de um campeonato municipal que viesse agregar todas as regiões do Município.
E qual não foi a nossa satisfação em presenciar o intercâmbio da população
através do futebol. Regiões que antes nunca haviam se comunicado, como
Passaquatinho, Buriti e Matoso, por exemplo, dos extremos norte e sul
respectivamente, congraçavam-se em idas e vindas, em cumprimento da tabela do
campeonato. E a integração municipal ia-se fazendo aos poucos, gradativamente e
sem pressa, de maneira festiva mas sem interrupção do processo
desenvolvimentício municipal.
8. O campeonato municipal de futebol
Para promover o campeonato municipal
de futebol foi criada uma comissão de esportes, através de ato do Prefeito, que
ficou assim constituída: Presidente - Ver. Manoel Tobias da Silva;
Vice-Presidente - Jaeme Marçal Chaveiro; 1º Secretário - João Batista; 2º
Secretário - Ver. César de Oliveira; Membros Executivos - Domingos Paixão, Nelcely e Dinair.
Nessa mesma ocasião foram livremente
criados dez clubes para participarem do primeiro campeonato: Cruzeiro, São
Miguel, Chapada, Estrela Dalva, Juventude, Ipiranga, Passa Quatro, Buriti,
Prefeitura e Aborrecido.
O Torneio Início que abriu a
temporada de disputa do primeiro Campeonato Municipal de Futebol Amador de São
Miguel do Passa Quatro foi realizado no dia 30 de abril de 1989, mediante a
entrega de dez jogos de camisa e dez bolas aos times participantes, numa
cortesia da Prefeitura Municipal e do então Deputado Rubens Cosac.
No dia 5 de novembro de 1989 o
campeonato chegou ao fim, com o time do Cruzeiro sagrando-se o 1º campeão da
história futebolística do Município, quando venceu o São Miguel por 1x0, em
partida tensa, bastante disputada, mas com timbre de cordialidade.
Formação do Cruzeiro Futebol Clube: Nelson
Catita, Wilmar Ferreira (Hélio Madola), Jonas, Felisberto, Geocivaldo, Manoel
Tobias (Klender), Romero (Jean), Almerindo, Jander, Joaquim Tolete e Waber;
Formação do São Miguel Futebol Clube: Zé Tatu,
Alberto, Jakson, José Fernandes, Toim do Zé Orlando (Nilcinho), Rubens, Zé
Mendes, Leomar, Chico Santa Bárbara, Agnaldo e Altair.
9. Investimentos no esporte
- Reforma do Estádio Municipal José Batista da
Paixão, incluindo recuperação e ampliação do campo gramado, construção de
miniarquibancada, colocação de bancos personalizados, arborização lateral
e ampliação do vestiário;
- Construção e preservação de campos de futebol nas
comunidades do Grupo União, Capim Puba, Rio dos Bois de Cima, Aborrecido,
Matoso, Água Vermelha de Cima, Chapada, Rio Preto e Buriti;
- Criação e manutenção do Campeonato Municipal de
Futebol Amador, como fomento ao esporte e principalmente como meio de
integração populacional, na esperança de que o entrelaçamento, o
entretenimento e a amizade viessem incutir nos passaquatrenses o
sentimento de patriotismo e de municipalidade;
- Criação e manutenção da escolinha para a formação de atletas do futebol, recebendo crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos de idade, tendo sido contratado o ex-atleta profissional Murilo para o encargo.
Capítulo VI
A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
ATIVIDADES RURAIS
1. O transporte de estudantes. A
precariedade e a inexistência de estradas
Concebido o Programa de Assistência ao Estudante -
PAE, talvez uma das maiores conquistas do produtor rural que quer continuar no
campo, era preciso viabilizá-lo.
As dificuldades eram de toda monta. As estradas eram
em número insuficiente e por isso era urgente a ampliação da malha viária
municipal. As existentes eram quase intransitáveis, porque já havia uns seis
anos que não recebiam reforma nem qualquer outra providência para sua
conservação. E o que era pior: a Prefeitura não contava com nenhuma máquina nem
recursos previsíveis para possibilitar o enfrentamento da situação.
O primeiro passo foi promover gestão junto ao CRISA,
órgão do Governo do Estado, onde conseguimos uma ajuda significativa para
patrolamento das estradas, incluindo máquinas, combustíveis e pessoal,
resolvendo em parte o problema imediato.
Contudo não foi suficiente. Recorremos, então, aos
nossos municípios vizinhos, que foram sensíveis aos argumentos que apresentamos
e entenderam nossas dificuldades, enviando-nos patróis, caminhões e funcionários
em regime de mutirão. Participaram os municípios de Cristianópolis, Bela Vista,
Vianópolis, Orizona, Silvânia, Leopoldo de Bulhões, Pires do Rio, Palmelo e
Santa Cruz.
Era comum a constatação em diversas regiões do
Município, de crianças de 12, 15 anos de idade, que nunca tinham visto uma
patrol antes. O susto e a perplexidade eram enormes, porque a presença dessas
máquinas tornava-se um acontecimento inusitado, tal era o distanciamento dessas
localidades com o progresso.
2. Aquisição de máquinas
Aos poucos fomos equipando a
Prefeitura com as máquinas essenciais para o desenvolvimento do setor mais
produtivo, o rural.
Primeiro adquirimos uma
motoniveladora zero km, comprada com recursos próprios. Aquele negócio foi
considerado na época como uma ousadia sem precedentes, visto que diversos
municípios vizinhos, de tradição, não possuíam uma patrol ou a que tinham era
muito velha para atender a demanda municipal.
Em seguida compramos uma pá mecânica
de grande porte e logo depois um caminhão basculante, todos com recursos
municipais. Mencione-se que até o final do nosso mandato nenhuma dívida restava
mais das máquinas adquiridas.
É de se observar que, antes de
contrair qualquer dívida concernente à aquisição dessas máquinas, chamávamos os
funcionários da Prefeitura e os vereadores e colocávamos para eles, com antecedência,
o que iríamos fazer. E os advertíamos das conseqüências que poderiam advir
daquele ato, inclusive o atraso da folha de pagamento. Adiantávamos que era uma
questão de idealismo, de estarmos dispostos ao sacrifício para apressarmos a
implantação do Município.
Era gratificante verificar que todos
entendiam a nossa linguagem, porque deles sempre tivemos a autorização
incondicional para praticar todos os atos que redundaram no aceleramento do
progresso de Passa Quatro.
As reclamações vieram somente no final
do nosso mandato, porque foram exploradas de maneira maldosa, irresponsável e
impiedosa pelos ex-companheiros político-partidários que se tornaram nossos
adversários, diante da política administrativa por nós implantada de priorizarmos
o bem coletivo em detrimento do interesse individual. Não vendo atendidos seus
pleitos em proveito próprio, acabaram-se rebelando. Lamentavelmente, enquanto
vivíamos vinte e quatro horas por dia com o pensamento voltado para a
implantação do Município, alguns desses pseudos companheiros trabalhavam nos
bastidores, difamando-nos covardemente junto às famílias mais ilustres,
especialmente as dos meus amigos de infância, a fim de nos desacreditar perante
a população.
3. As estradas e outros serviços
prestados na zona rural. O PAPR
Depois de equipada, a Prefeitura passou a dar
assistência intensiva a todo o Município. Já no segundo ano da nossa administração,
toda a zona rural era criteriosamente atendida com patrolamento de todas as estradas
municipais, incluindo-se ainda a abertura de esgotos pluviais.
Atendido todo o Município e já com a
situação devidamente controlada, passamos ao aprimoramento dos trabalhos com o
encascalhamento dos principais trechos das estradas municipais, notadamente as
mais atacadas pela erosão.
Uma das situações mais angustiantes
na época era a ligação precária entre a cidade e a região do Rio dos Bois,
passando pelo Buriti. Tratava-se de um dos maiores contingentes populacionais
do Município, ligado ao núcleo urbano por uma estradinha estreita, cheia de
curvas perigosas, e colchetes e porteiras quase que de cem em cem metros de
distância uns dos outros.
Planejamos então a abertura de uma
estrada compatível com o fluxo do transporte, a chamada Estrada do Buriti.
Tivemos muito trabalho para dar viabilidade ao projeto, devido ao desserviço
prestado por um Vereador de oposição que, em nome de seus ciúmes politiqueiros
- já que a estrada beneficiava seu reduto eleitoral, - cismou de tramar junto
aos moradores da localidade um movimento para impedir que o benefício fosse
para lá destinado.
Louve-se aqui a atitude do Vereador
Manoel Tobias da Silva, que assumiu a frente das negociações e acabou
tornando-se o principal responsável pela execução da obra, que era de
fundamental importância para alavancar o progresso regional.
Por outro lado, como a grande fonte
de renda do Município era a bacia leiteira e os produtores rurais reclamavam de
maior assistência às suas propriedades, resolvemos atender suas justas
reivindicações e lançamos o Programa de Assistência ao Produtor Rural - PAPR.
Através do PAPR, pudemos
providenciar diversos benefícios com custo zero para o produtor, como:
- O encascalhamento de currais nas propriedades de
Dr. João Paixão, Fazenda João de Barro, Fazenda do Watanabe, Fazenda do
Paulo (cabeceira do Buritizinho), Fazenda do Dr. Sebastião Viana, Fazenda
do Benedito Gregório, Fazenda do Joaquim Aleluia, Fazenda do Lenine,
Fazenda do Inácio Aleluia e Fazenda Tavarina (Dr. Carlos), e outros.
- Corte e nivelamento de terrenos nas propriedades
de Abimael, de Walter Pinto, de Vicente Rosa, do Dr. Luiz (campo de
pouso), do Dr. Carlos (Fazenda Tavarina), do Manoel Paixão, do Dr. Shenko,
do Dr. Humberto, do Marcelo Batista, do Dr. Ernane (Rio Preto), de Jaeme
Fernandes (Capim Puba), de Joaquim da Lica (Água Vermelha), e outros.
- Represas de pequeno porte e barragem nas
propriedades do Dr. Betinho, do Celinho do Zé Orlando, do Antonio Rosa, do
Luziano, do Natal da Lica, do Elias da Pepita, do Paulo do Abel, do José
Silva, do João do Otacílio, do Pedrão (fazenda de criação de gado holandês
de raça), do Dr. José Antonio, do José Tobias, e outros.
4. Incentivos
Através ainda das ações do PAPR, Programa de
Assistência ao Produtor Rural, a Prefeitura procurou dar incentivos gerais à
produção e à pequena indústria, da seguinte ordem:
- Serviços de patrolamento e nivelamento de
terreiros para olaria do Senitinho, Guito, Seu Ilídio, Elias da Pepita,
filho do André, Pifânio, filhos do Joaquim Abrão, Pedro Aleluia, fazenda
do João do Otacílio e Passaquatinho (diversos) e outros.
- Doação de terreno (regime de comodato) para
construção da Cerâmica do Jaeminho.
- Doação de terreno (regime de comodato) para
marcenaria do Waldemar e do Adauto.
- Doação de cochos para confinamento de bois, sendo
que apenas dois produtores apresentaram projeto satisfatório: Dr. Garcindo
(para 300 bois); Dr. Tyrone (para 100 bois).
- Serviço de corte com pá mecânica para silo, nas
propriedades de Inácio Aleluia, Toinho do Zé Orlando, Armindo Pedro,
Claudecy, Pedrão e outros.
- Serviço de eletrificação rural subsidiado,
conseguido junto à CELG: 1ª fase, 36 km; 2ª fase, 40 km. Só na primeira
fase o benefício estendeu-se a cem propriedades rurais, num esforço
conjunto da Prefeitura e do Deputado Geraldo de Souza.
5. A agricultura
Sabendo que o Município apresentava acentuada vocação
não só para a pecuária, mas também para a agricultura, era preciso pensar no
avanço dessa área como arma vital para o progresso e para a melhoria de vida da
população.
Os produtores de soja, que já começavam sua expansão
na parte norte e plana do Município, nada mais reivindicavam do que estrada
para o escoamento do produto. E esse foi nosso principal cuidado naquele local.
Após a aquisição das máquinas esse atendimento tornou-se viável por parte da Prefeitura.
Pensando no pequeno agricultor, naquele que não planta
nem para o gasto porque não dá conta de pagar o preparo da terra, fomos em
busca da solução para o problema. E no dia 27 de julho de 1989, portanto bem no
início da nossa administração, conseguimos apresentar à população uma Patrulha
Agrícola, composta de trator, carreta, grade e arado, doada pelo Governador do
Estado, Henrique Santillo, oportunidade em que fizemos o lançamento do Programa
de Assistência ao Produtor Rural - PAPR, com a finalidade de atender a todos os
produtores rurais do Município.
A Patrulha Pgrícola tinha o objetivo específico de
prestar serviços de aração e gradeação aos pequenos agricultores, obedecendo à
ordem de instrução baixada pela Superintendência Municipal da Agricultura, no
limite máximo de 15 horas individuais de trabalho a preço equivalente ao
combustível gasto.
Desta forma, foram prestados os seguintes serviços de
aração e gradeação: em 1989, 650 horas; em 1990, 620 horas; em 1991, 680 horas;
em 1992, 690 horas.
6. A lavoura comunitária e a Emater
“Estamos lançando esse programa, juntamente com a
Emater, em São Miguel do Passa Quatro, porque o Município tem um prefeito
competente que se adiantou, com relação aos outros prefeitos, para o seu
início. Seu dinamismo está demonstrado nos 15 tratores que aqui estão
trabalhando no preparo da terra para receber o adubo e a semente, cujo plantio
será feito por métodos modernos, para que não haja perda de tempo.”
Assim manifestou Nair Xavier, presidente da LBA, que
pelos motivos acima explicados escolheu Passa Quatro para o lançamento do Programa
de Lavoura Comunitária do Estado, marcado com um animado mutirão de máquinas e
pessoal da comunidade rural. Isso em final de 1991. O Programa utilizou 30
hectares de terreno cedido pelo Sr. Garcindo Martins Pereira, para o plantio de
arroz, com atendimento previsto para 40 famílias de baixa renda. O programa
tinha a participação da LBA, que entrava com os insumos, a Emater, a Secretaria
Estadual da Agricultura, a Prefeitura e a AGM (Associação Goiana dos
Municípios).
No dia do lançamento do Programa da Lavoura
Comunitária aconteceu também a inauguração do escritório local da Emater,
viabilizado através de esforço incondicional do Dr. Garcindo, alto funcionário
da Emater e proprietário no Município.
7. Pontes e bueiros
Se na época da instalação do Município não havia
estradas, diferente não era com relação a pontes. Era urgente construi-las. E
para isso montamos uma equipe, dentre os funcionários da Prefeitura, para desincumbir-se
da tarefa. E a duras penas, sem recursos suficientes, conseguimos desenvolver
os seguintes serviços:
- Construção de pontes: no Rio Passa Quatro,
Fazenda do Zacarias; no ribeirão sem nome, na Fazenda do Evandro Vieira;
ponte do Genésio Leão, no ribeirão Buritizinho; ponte do Francisco, no
ribeirão Aborrecido; ponte do Dr. Múcio, no Rio Preto; ponte do Natal da
Lica, no ribeirão Água Vermelha; ponte do Paulo do Abel, no ribeirão da Lama;
ponte do Clarindo, no ribeirão Água Vermelha; ponte do Afonso Bernardes,
em afluente do Rio Passa Quatro; ponte do João Pedro, em afluente do Rio
dos Bois.
- Reforma de pontes: no Rio Passa Quatro, ponte do
Benedito Gregório (encabeçamento, vigamento e estivamento); no ribeirão
Capim Puba, ponte do Jaeme (encabeçamento, vigamento e estivamento); no
Rio dos Bois, ponte do Tobias Alves (estivamento); no Rio Preto, estrada
para Silvânia (estivamento); no Rio Preto, Fazenda do Antonio Francisco (estivamento);
no ribeirão Água Vermelha, ponte do Abel Fernandes (estivamento); no Rio
Passa Quatro, ponte do Dovenir (estivamento).
- Gestão junto ao Estado para construção da ponte
sobre o Rio dos Bois, estrada para Orizona.
- Construção de bueiros: afluente do rio Passa
Quatro, na fazenda do Zacarias; região do Aborrecido, na fazenda do
Vicentinho; região do Aborrecido, na fazenda do Miguel Rodrigues; região
do Aborrecido, na fazenda do Geraldinho; região do Aborrecido, na fazenda
do Emílio Farias; região da Mumbuca, na fazenda do Joaquim Aleluia; região
do Rio dos Bois, na fazenda do Nego do Beleco.
8. O asfalto
No terceiro ano de administração sentíamos que o
Município já estava quase pronto para sua verdadeira arrancada rumo ao progresso.
A base estava formada. Faltava, porém, ligar Passa Quatro à capital do Estado,
por meio de rodovia asfáltica, com vistas principalmente ao efetivo escoamento
da produção.
E em outubro de 1991, depois de
sucessivas gestões juntamente com outros prefeitos interessados, bem assim com
os deputados representativos da região, conseguimos a promessa oficial do
Governador do Estado nesse sentido.
O jornal “O Patrimônio” acompanhou a
conversa e publicou a matéria em edição de outubro/91, nos seguintes termos:
“IRIS GARANTE QUE
ASFALTO SAI LOGO
A maior reivindicação hoje
de São Miguel do Passa Quatro, o asfalto ligando a cidade de Cristianópolis a
Vianópolis, deverá ter parte dela atendida nos próximos meses. Pelo menos foi o
que garantiu o Governador Iris Rezende ao Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira.
Iris participava das comemorações do aniversário de
Vianópolis quando, em praça pública, dirigiu-se particularmente ao Prefeito de
Passa Quatro e afirmou que, devido à situação do Estado, não deverá implantar
imediatamente todo o trecho solicitado, mas que pelo menos o primeiro trecho,
de 18 quilômetros de Passa Quatro a Cristianópolis, será feito.
Animado com as declarações de Iris, o Prefeito Elson
acredita que assim o Município poderá crescer com mais rapidez. Essa primeira
fase já atende grande parte das reivindicações de Passa Quatro.”
Capítulo VII
O TRABALHO NA ÁREA SOCIAL E NA
SAÚDE
1. A Política Social
Por ocasião da campanha política rumo à Prefeitura, tivemos a
oportunidade de visitar todos os quadrantes do Município, entrando em contato
direto com a classe menos favorecida, que sofre na pele as consequências da
pobreza, da miséria e do abandono. Pudemos sentir de perto o enorme desequilíbrio
social existente na zona rural, longe de ser menor do que na zona urbana.
Pessoas carentes de tudo: de roupa, de alimentação básica, de escola, de
assistência à saúde, de moradia e até mesmo de espírito.
Diante de tais constatações, fizemos um pacto com os
nossos princípios humanísticos e religiosos de implantar uma política voltada
para o social acima de tudo. A árdua tarefa foi entregue à primeira
Primeira-Dama do Município, Aparecida Pires de Oliveira, mais conhecida por
Dona Cotinha, que sempre foi uma vocacionada para o setor.
Certa vez um repórter lhe perguntou o que significava
para ela ser Primeira-Dama. A resposta veio sem hesitação: “Não gosto dessa
expressão, porque ela tem uma conotação de nos colocar num pedestal, distante
das pessoas. Contudo, para mim, ser Primeira-Dama é poder fazer algo para os
mais carentes; é me descobrir e me superar sempre mais para poder desempenhar
um trabalho de doação em favor do meu semelhante; é ter condição de trabalhar e
servir à comunidade; é encontrar a alegria e a felicidade no relacionamento com
os mais humildes e os mais necessitados.”
O trabalho começou pelo cadastramento das famílias
mais marginalizadas, o que exigiu da equipe da promoção social um levantamento
criterioso, com incessantes visitas, acompanhamentos e até familiarização com
os cadastrados.
2. O atendimento na área da saúde
O Município não possuía nada no campo
da assistência social nem no da saúde. Assim, o trabalho assistencial foi
iniciado mediante visitas de casa em casa, na cidade e na zona rural, com ajuda
às famílias carentes de todas as maneiras possíveis.
Daí começaram a surgir os
encaminhamentos de aposentadorias, com preparação dos papéis e acompanhamento
até o resultado final. Na assistência à saúde, as pessoas eram, no início,
transportadas em veículos cedidos por amigos ou mediante corridas especiais
pagas pelos cofres públicos, porque a Prefeitura não dispunha ainda de ambulância
e só possuía um veículo utilitário que servia ao mesmo tempo às emergências da
saúde e ao gabinete do Prefeito.
A precariedade no setor da saúde
constituía o maior dilema da administração recém-iniciada. Não havia condições
assistenciais. Encontrou-se apenas um posto de saúde, cujo prédio, acanhado e
muito antigo, estava quase caindo. Somente dois servidores do Estado prestavam
serviços ali e a população não contava com atendimento médico nem odontológico.
O posto não dispunha nem mesmo de materiais para primeiros socorros ou outros
casos emergenciais.
Imediatamente a Prefeitura contratou um
médico, que passou a atender quatro dias na semana; adquiriu um gabinete
dentário completo e contratou um dentista.
Os serviços odontológicos passaram a
ser prestados à população em geral, porém com prioridade aos estudantes, tanto
da zona urbana quanto da zona rural. Dava-se também atenção especial ao
trabalhador que se deslocava da roça a pé ou a cavalo, para compensar o fácil
acesso dos moradores da cidade.
Certa vez, o jovem odontólogo
responsável pelo setor, Eudécio Gonçalves de Melo, em entrevista ao jornal “O
Patrimônio”, declarou que o tipo de atendimento talvez seja o ponto mais forte
do posto de saúde de Passa Quatro, por dois motivos básicos: um deles porque a
esterilização, algo muito discutido e que nem todos os serviços públicos levam
a sério, ali era observada com rigor; outro porque o paciente era tratado como
ser humano, isto é, com respeito, “coisa que normalmente na saúde pública não
acontece, tendo em vista que simplesmente trabalham, sem se importar muito com
o ser humano que está sentado na cadeira”.
Além de todo esse trabalho, Dona
Cotinha promovia o aviamento de receitas médicas a quem não podia comprar
remédios; encaminhamentos para cirurgias, marcapassos; cadeiras de roda,
tecidos para agasalhos a pessoas carentes, enxovais para recém-nascidos,
colchonetes, filtros de água etc.
Somente em novembro de 1989, após muita
insistência junto aos órgãos governamentais, foi conseguida uma ambulância
zero-quilômetro para dar prosseguimento e garantir melhor qualidade ao
atendimento na área da saúde. Pouco mais tarde, a Prefeitura adquiriu com
recursos próprios uma kombi nova para o mesmo fim.
Já no segundo ano da administração a Prefeitura,
usando recursos próprios, ampliou o prédio do acanhado posto de saúde,
transformando-o em Centro de Saúde de maiores proporções, com equipamentos
modernos fornecidos pelo Governo Estadual. A Prefeitura contratou quatro
médicos, que se revezavam para proporcionar à população um atendimento diário e
ininterrupto.
Além disso, o Centro de Saúde passou a
estar sempre bem-servido de remédios para melhor atender à população carente.
Vacinações eram realizadas no Município todo sistematicamente e a medicina
preventiva transformou-se em realidade.
3. O atendimento na área social
No mês de dezembro de 1989 foi implantado um programa
que previa a criação de um microssalão de corte e costura, onde, dentre outras
atividades, deveria ser ensinado às mães gestantes carentes a fazer o enxoval
dos próprios bebês, com tecido e material fornecidos pela ação social.
Ainda em dezembro de 1989, Papai-Noel também esteve
presente na cidade, pela primeira vez em toda sua história. Mais de
quatrocentas crianças receberam presentes, participaram de brincadeiras
infantis e se deleitaram diante daquele fato inusitado. Para isso, no entanto,
Dona Cotinha teve de empreender verdadeira maratona de coleta de doações junto
aos comerciantes de Goiânia.
No Natal do ano seguinte não foram apenas as crianças
que ganharam presentes. Mais de duzentas cestas básicas contendo arroz, feijão,
óleo, bombril, café, açúcar, bolacha, macarrão, verduras, roupas, brinquedos, balas,
balões e carne foram distribuídas à população carente do Município. E novamente
o trabalho para arrecadar tudo isso não foi fácil, mas satisfatório. A
Primeira-Dama buscou ajuda junto aos fazendeiros e comerciantes da região. Além
de dinheiro em espécie, reuniram-se em doação seis vacas, três novilhas, dois
porcos gordos, várias arrobas de arroz e de feijão, sem falar nos alimentos
enlatados.
Registrem-se também os mutirões de fiandeiras que eram
realizados freqüentemente. Um deles, ocorrido em maio de 1991, foi dos mais
expressivos. Oitenta fiandeiras trabalharam alternadamente em 35 rodas de fiar,
sem atropelos e com muita festa e união. As cardadoras também tiveram de
alternar o seu trabalho, assim como as descaroçadoras de algodão, devido à
grande quantidade de gente. Só batedoras de algodão havia 20; catadoras, 20 também.
Foram beneficiadas mais de três arrobas de algodão, o que significa cerca de
oito quilos de linha num só dia. Mais de 20 pessoas fizeram pintura em tecido e
bordado. Dez máquinas de costura foram poucas para as quase 60 costureiras
presentes. Também participaram do mutirão 15 crocheteiras.
Nesse mesmo dia as 42 alunas do curso de corte e
costura também compareceram e, após o trabalho do dia, receberam os diplomas.
Aproximadamente cem peças de agasalho foram confeccionadas, expostas e vendidas
durante o mutirão, para beneficiar as pessoas carentes do Município.
Em 1992, no Dia das Mães, foram distribuídos para as
mamães cerca de 300 cortes de tecidos, oferecidos pela Primeira-Dama. Houve
celebração religiosa bastante participada. A barraca de piteira e bacuri causou
sensação e curiosidade aos presentes, assim como o cartão em formato de coração
com mensagens de amor e paz.
4. Creche José Calixto
Uma das maiores obras da Promoção Social foi a construção do prédio da
Creche José Calixto, localizado na rua Guilherme Veloso, esquina com a rua 9 de
janeiro, que exigiu de Dona Cotinha e sua equipe um trabalho intenso de
mobilização da comunidade.
Conseguiu-se angariar junto aos fazendeiros cerca de
40 bezerros e um touro reprodutor, tudo para ser leiloado, e o dinheiro,
aplicado na obra.
O funcionamento da creche começou quase que por acaso,
com o atendimento a cinco crianças que estavam morrendo subnutridas, segundo
alerta dos médicos. Com esse acontecimento, outras mais chegaram para serem
atendidas e o número delas foi-se avolumando surpreendentemente. No início de
1992 a creche já contava com 70 crianças. E o novo prédio tinha capacidade para
300.
Praticamente todas as datas importantes eram
comemoradas com as crianças da escolinha da creche, com suas respectivas mães e
os funcionários. Na Páscoa eram distribuídos coelhinhos e ovos para mães e
filhos. Teatrinhos eram constantemente apresentados, com a participação das próprias
crianças da creche, para alegria de todos.
5. “Trabalho da Primeira-Dama não tem férias”
Com esse título o jornal “O Patrimônio”, edição de julho/agosto de
1990, traduzia o trabalho desenvolvido
na Promoção Social, já após um ano e meio de administração.
“O trabalho da promoção social de São Miguel do Passa
Quatro, comandado pela Primeira-Dama do Município, dona Aparecida Pires de Oliveira,
ou simplesmente Dona Cotinha, em vez de diminuir parece se superar de mês para
mês, sempre na busca de melhor saúde e educação para os mais necessitados.
As atividades da Ação Social no mês de julho tiveram
início com o atendimento a um senhor doente e pobre, sem condições para o
trabalho. Toda assistência foi dada a ele, com medicamento em sua casa, doação
de remédios e alimentos necessários à sua recuperação.
Duas crianças tiveram de ser internadas em hospital de
Bela Vista. Uma, deficiente mental, passou muito mal, estando bem agora; a
outra, com infecção nos ossos, devido a uma fratura mal cuidada, ainda está
internada, mas passa bem.
A Promoção Social ainda alimentou duas famílias
numerosas, de várias crianças, que passavam necessidade, e continua aviando
receitas para os mais carentes. A Primeira-Dama conseguiu também da Prefeitura
verba para cirurgia de algumas senhoras pobres.
Foram doados cobertores para os mais necessitados.
Dona Cotinha tem visitado os bairros mais pobres para se inteirar das
dificuldades do povo de Passa Quatro e assim poder ajudar de maneira objetiva a
nossa gente.
Prosseguem as viagens da kombi a Goiânia, conduzindo
pessoas para exames e encaminhamentos de aposentadorias. Os exames feitos são
de raio X, ECG, sangue, urina, fezes, EEG e outros. Uma horta comunitária está
permitindo à Promoção Social fazer refeições todas as sextas-feiras para as
pessoas carentes.
Em julho a distribuição de remédios, alimentos,
cobertores, agasalhos infantis e aviamento de receitas não pararam. O curso de
costura, uma promoção da Primeira-Dama, já produziu os primeiros cobertores
infantis.
Sobre a horta comunitária, resta dizer que todos os
domingos está sendo feita, na praça central, uma feira para vender as verduras
colhidas na semana, sendo que o dinheiro arrecadado ajuda a complementar as
refeições das sextas-feiras.
Uma família de Bela Vista foi acolhida pela Promoção
Social, recebendo agasalhos, alimentos e remédios. E já foi iniciada a
preparação para o Natal, com a Primeira-Dama fazendo visitas aos fazendeiros do
Município pedindo ajuda para a grande festa que planeja fazer este ano para a população
de Passa Quatro.
Além de tudo isso, sobra à Dona Cotinha tempo para
ajudar pessoas de municípios vizinhos que lhe procuram, quando o caso é muito
sério. Uma senhora de Vianópolis precisou ser levada a Goiânia com urgência. Lá
ela foi submetida a vários exames, tendo, finalmente, que se submeter a uma
cirurgia para retirada de um tumor no crânio.”
6. Aposentados homenageiam Primeira-Dama
No
final de 1990 Dona Cotinha foi homenageada pelos aposentados. Na oportunidade o
jornal “O Patrimônio”, edição de março de 1991, fez a cobertura jornalística:
“Dona Cotinha tem trabalhado bastante para amenizar o
sofrimento dos mais carentes. E foi por esta razão que os muitos velhinhos para
os quais ela conseguiu aposentadoria, resolveram, juntamente com o presidente
da associação que formaram, Seu Josemir, homenageá-la com uma festa no final do
ano passado, entregando-lhe uma placa com palavras carinhosas de agradecimento.
A Primeira-Dama agradeceu a homenagem emocionada,
lembrando que todo seu empenho se deve ao seu desejo de ver a todos felizes.
Seu Josemir, na oportunidade, falou dos trabalhos que vêm sendo executados pela
“mãe” dos aposentados e carentes do Município. A palavra “mãe”, por sinal, faz
parte do texto inscrito na placa de agradecimento que lhe foi outorgada. Seu
Josemir lembrou as doações de óculos conseguidas por Dona Cotinha e distribuições
de cestas básicas semanais com recursos da própria Promoção Social, que
arrecada verbas mediante venda de verduras de sua horta comunitária.”
No ano seguinte a homenagem se repetiu, tendo o jornal
“O Patrimônio” traduzido o acontecimento da seguinte maneira:
“Aposentados de São Miguel do Passa Quatro promoveram
dia 28 de dezembro festa para homenagear a Primeira-Dama do Município, Aparecida
Pires de Oliveira, e o Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira. Foram entregues
placas aos dois e, uma surpresa dos aposentados, também ao Seu Josemir, responsável pela organização da festa e pelas
dezenas de aposentadorias conseguidas pela Promoção Social.
Josemir
discursou elogiando o trabalho pioneiro de Dona Cotinha. Ele disse que os
moradores de São Miguel e os aposentados em geral têm na Primeira-Dama uma verdadeira
mãe. Chorando de emoção, pediu a Deus amor e paz ao casal e a todos os passaquatrenses.
Cotinha,
também chorando emocionada, agradeceu a homenagem, a segunda em três anos, e
reafirmou que se preocupa muito com a população carente do Município.”
7. Resumo do que se fez na área social
·
Reforma e
ampliação do Posto de Saúde, transformando-o em Centro de Saúde;
- Aquisição de um gabinete dentário completo
(recursos da Prefeitura);
- Atendimento odontológico diário a pessoas
carentes;
- Aquisição de equipamentos para prevenção e
pequenas cirurgias;
- Assistência médica diária à população pobre;
- Assistência com remédios a pessoas necessitadas;
- Deslocamento diário de doentes para Bela Vista,
Goiânia, Brasília, em busca de melhores recursos para casos especiais,
exames, radiografias, cirurgias etc., contando o Centro de Saúde, para
tanto, com uma ambulância e uma kombi;
- Construção de onze casas populares em regime de
mutirão;
- Distribuição de 36 lotes a famílias de baixa
renda, para construção da casa própria;
- Reforma de casas e fornecimento de materiais de
construção para moradores de baixa renda;
- Elaboração e acompanhamento de processos de
aposentadoria, incluindo o transporte do segurado a Goiânia para os exames
periciais;
- Criação da Fundação José Calixto, à qual ficou
subordinada a creche;
- Creche com 70 crianças pobres, mantida com a
ajuda da Prefeitura, Semae e a população em geral que fornecia
constantemente víveres e leite para a alimentação básica;
- Fornecimento de aproximadamente 20 cestas básicas
mensais para famílias carentes do Município;
- Promoções constantes de registros de nascimento,
identidade, passagens de ônibus, auxílio a pagamento de energia e
contribuição ao INAMPS; agasalhos, enxovais para recém-nascidos, urnas
para sepultamentos de indigentes, assistência em oftalmologia (consultas,
cirurgias e óculos) e prestação de serviços de costura de roupas para
pessoas carentes;
- Outras promoções, como mutirões de fiandeiras,
bingos, desfiles de moda, leilões, curso de corte e costura, sendo que
toda a renda e benefícios eram
revertidos às pessoas pobres;
- Festas comemorativas do Dia das Mães, dos Pais,
festas juninas e natalinas;
- Assistência efetiva aos doentes, com participação
do Apostolado da Oração e de outras igrejas;
- Transporte e acompanhamento de doentes pobres a
Goiânia e a São Paulo, com liberação de cirurgias conseguidas junto à
Secretaria de Saúde do Estado.
8. Dois fatos dignos
de registro. A vinda de Emanuel
Durante todo o seu trabalho à frente da Promoção Social de Passa
Quatro, Dona Cotinha fala de dois fatos notáveis que de certo modo mudaram sua
vida.
O primeiro trata-se do atendimento a uma criança
deficiente e pobre, filha do Seu Lazinho, que, segundo os médicos, não tinha a
menor chance de andar. Mas ela acreditou no caso e a Prefeitura passou a
levá-la a Brasília regularmente, às vezes de oito em oito dias. E devido à
insistência da Primeira-Dama, no final do tratamento desenvolvido pela Rede
Sarah de Hospitais a criança pôde receber o sagrado direito à autolocomoção.
O segundo fato começou com a descoberta da gravidez de
Ina, uma doente mental de comportamento pacífico, já nos seus 36 anos de idade.
Dona Cotinha acompanhou o caso até o nascimento do bebê, dando-lhe atendimento
médico e tudo o que se fazia necessário. A criança nasceu sadia, mas no
terceiro dia de vida apresentou distúrbios respiratórios e foi levada às
pressas de Bela Vista a Goiânia, por carros da Prefeitura. Dez famílias estavam
na lista para adotá-la, porque a mãe não reunia condição alguma para criá-la.
Após vinte dias de UTI no Hospital da Criança, no
entanto, eis a notícia: o menino está de alta, mas tem problemas mentais.
Diante disso, ninguém mais quis tê-lo em sua companhia. Reunimo-nos então com
os nossos três filhos, que à época eram adolescentes, e no final da conversa
decidimos adotá-lo.
Em janeiro de 1998 Valder Emanuel, o nome que lhe
demos, fez 8 anos de idade. Jamais deixou de receber cuidados especialíssimos e
diuturnos, notadamente por parte de Dona Cotinha, que nunca se furtou em dedicar
pessoalmente tempo integral ao bem-estar e à saúde do menino, transpondo os
obstáculos que se lhe apresentem e vencendo dificuldades as mais diversas,
agarrada especialmente na força da oração.
Ao pequenino Emanuel não foi permitido ser uma criança
normal como outra qualquer, mas também jamais deixou de ser a pessoa mais
importante de nossa casa. Olho para aquele anjo inerte sobre a cama especial
que mandamos confeccionar só para ele e me ponho a pensar sobre as coisas da
vida para as quais a gente não encontra explicação e se vê lançado no calabouço
da impotência humana. Porém, nunca foi tirada de nós, a certeza de que Emanuel
existe não para ele, mas para nós, para nos fazer felizes. Porque ele se tornou
o altar, o ponto convergente das nossas reflexões e o motivo da verdadeira
alegria lá de casa. Alegria que é fruto do amor de Deus refletido nele. Alegria
do Ressuscitado que superou a cruz e venceu a morte.
No dia 19/12/2007 ele nos
deixou. Retornou ao convívio celeste de
onde veio um dia. Não chorou, não fez cara feia, não teve convulsão. Na
serenidade de seu rosto, na candura de sua expressão facial e na meiguice de
seu semblante, a sua respiração foi desaparecendo de maneira lenta e
silenciosa, até cessar de vez. Morreu tranquilo, no colo da mãe e na paz do
Senhor.
Sua mãe chegou pouco antes e
pressentiu que o pior estava por acontecer. Cautelosa e rogando aos céus as
forças necessárias para enfrentar aquela situação de dor, foi até a pia e lavou
e enxugou bem as mãos. Tomou o menino nos braços, ergueu-o o quanto pôde e
entregou-o ao Pai Celeste, dizendo: “Pai, é com muita dor no coração que faço a
entrega do meu filho e da minha missão. Se tiver chegado a sua hora eu o
entrego. É duro pra mim, mas o Senhor sabe o que faz!”. Em seguida, sentou-se,
agasalhou-o no colo e presenciou a sua respiração ir diminuindo aos poucos até
parar de vez, enquanto lhe acariciava o rosto e pronunciava palavras carinhosas
e ternas. Assistiram a tudo e deram
forças à avó os netinhos Gabriel, Lucas, Wagner Neto e Mariana, crianças
pequenas ainda. Eu cheguei em seguida, na hora que o padre Miguel (Miguel
Carlos Dametto) ministrava a unção dos enfermos.
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