sábado, 7 de fevereiro de 2015

SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO O nascimento de uma cidade (2ª edição) 2ª Parte

       2ª Parte

 

O MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO

                    CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO

Creio que a população inteira tem consciência de que vamos enfrentar grandes dificuldades nesse início de administração. Estamos começando do nada.
Perguntaram-me se a Prefeitura tinha pelo menos uma vassoura, ou uma caneta, ou uma cadeira.
- Como, se não existe nem Prefeitura? - foi a minha resposta



Capítulo I

O PERÍODO ENTRE A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO E SUA INSTALAÇÃO (09/01/88 - 01/01/89)


1. A Lei da Emancipação

Há dois pontos que precisam ser considerados na lei da emancipação: primeiro, o texto apresenta erro grosseiro, quando omite o Município de Cristianópolis na confrontação, ao sul, com o Ribeirão Matoso; segundo, o número de vereadores fixado em sete pelo artigo terceiro foi aumentado para nove pela Constituição Federal de 1988.
            Eis a lei da emancipação, na íntegra, publicada no Diário Oficial do Estado:

         “LEI Nº 10.432, DE 09 DE JANEIRO DE 1988
               Dispõe sobre a criação do Município de SÃO MIGUEL DO PASSA QUATRO e dá outras providências.
               A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS decreta e eu sanciono a seguinte lei:
               Art. 1º - Fica transformado em Município, com o topônimo de São Miguel do Passa Quatro, o atual distrito do mesmo nome, do Município de Silvânia, deste Estado, dentro dos seguintes limites e confrontações:
               I - COM O MUNICÍPIO DE SILVÂNIA
               Começa no espigão Divisor de Água no ponto confrontante com a cabeceira mais alta do Ribeirão Passa Quatro; daí, em rumo certo, à referida cabeceira; pelo Passa Quatro abaixo até a barra do Córrego Monjolinho; por este acima até sua cabeceira; daí, em rumo certo à cabeceira do Rio Preto; por este rio abaixo até sua barra no Rio dos Bois;
               II - COM O MUNICÍPIO DE VIANÓPOLIS
               Começa na barra do Rio Preto, no Rio dos Bois; desce por este rio até sua barra no Rio do Peixe;
               III - COM O MUNICÍPIO DE BELA VISTA DE GOIÁS
               Começa na barra do Ribeirão Matoso, no Rio Passa Quatro; sobe por este rio até a Barra do Ribeirão Arapuca; daí, segue em rumo certo ao espigão Divisor de Água dos Ribeirões Passa Quatro, no Município de Silvânia e Arapuca, no Município de Bela Vista de Goiás; segue por este espigão até o ponto confrontante com a cabeceira mais alta do Ribeirão Passa Quatro, onde tiveram início estas divisas.
               Art. 2º - O Município criado pela presente lei será instalado com a posse do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos simultaneamente com os dos Municípios já existentes, ressalvado o disposto no § 1º do art. 15 da Constituição Federal.
Parágrafo único - Para a instalação do Município a que se refere este artigo, os Poderes Executivo e Judiciário tomarão as providências que se fizerem necessárias, devendo o mesmo ter como sede o Distrito com o título de São Miguel do Passa Quatro.
                    Art. 3º - A Câmara de Vereadores do Município de São Miguel do Passa Quatro será composta de 07 (sete) Vereadores.
               Art. 4º - O Município criado pela presente lei pertencerá à Comarca de Silvânia.
               Art. 5º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
               Art. 6º - Revogam-se as disposições em contrário.
               PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, em Goiânia, 08 de janeiro de 1988, 100º da República.
                                               HENRIQUE ANTÔNIO SANTILLO
                                               Valterli Leite Guedes”                                        


2. As condições impostas pela Lei da Emancipação

            O Município de São Miguel do Passa Quatro foi criado pela Lei Estadual nº 10.432, de 9 de janeiro de 1988, publicada no Diário Oficial do Estado de Goiás no dia 28 de janeiro do mesmo ano, com entrada em vigor prevista para a mesma data de sua publicação.
            Contudo, o próprio texto legal estabeleceu que o Município criado somente seria instalado com a posse do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos simultaneamente com os dos municípios já existentes. E a lei federal que regulamentava as eleições estabelecia que a posse dos mandatários municipais aconteceria no dia 1º de janeiro do ano seguinte, 1989.
            Assim, havia um lapso de tempo entre a publicação da lei de criação, quando então o novo Município passou a existir no cenário da Federação, mas sem ostentar ainda o status de Município, que só ocorreria na data prevista para primeiro de janeiro do ano seguinte, com a posse dos eleitos.
            Foi um período muito difícil, porque o Município existia, mas não existia, isto é, São Miguel do Passa Quatro já estava emancipado, porém continuava pertencendo a Silvânia, que já não devotava nenhum interesse por aquela Unidade Federativa que já havia saído de seus domínios, de sua tutela. Foi um ano inteiro de euforia, de festa, de preparativos, mas também de orfandade. É mais ou menos o que acontece com o filho que adquire a maioridade contra o gosto de seus genitores e em seguida se vê sem emprego, sem teto e sem nada, e não tem a quem recorrer.
           A tensão era ainda maior por causa do recurso interposto contra a criação do Município. O povo foi tomado pela dúvida e pela descrença, já que a lei poderia ser derrubada a qualquer hora. A única coisa que se podia mesmo fazer era aguardar o pronunciamento da Instância Superior para saber se o Município era mantido ou não.
            Mesmo assim, em meio a essas incertezas, a campanha para os cargos majoritários e proporcionais estava nas ruas. As eleições aconteceriam no dia 15 de novembro daquele ano de 1888 e ninguém sabia ao certo se realmente haveria as tais eleições e se a criação do Município viraria realidade.
É que em fevereiro de 1988 a Assembléia Legislativa criou 49 novos municípios em Goiás, dentre eles Passa Quatro. A partir de julho, no entanto, a Procuradoria Geral da República, munida de denúncia de irregularidade apresentada pelo IBGE, encaminhou representações ao Supremo Tribunal Federal pedindo a suspensão das leis que criaram tais municípios. Todavia, a suspensão de 12 dessas leis não chegou a ser solicitada, estando entre elas a de São Miguel do Passa Quatro, por interferência providencial do Deputado João Natal. Assim, independentemente da decisão do TSE de fazer ou não eleição nesses municípios criados, o certo é que os 12 distritos emancipados que não tiveram suas leis suspensas poderiam eleger normalmente seus prefeitos e vereadores na eleição do dia 15.
Porém, na data de 12 de outubro, também de 1988, a grande notícia: em sessão daquele dia o Supremo Tribunal Federal confirmou a emancipação de todos eles, com base na nova Constituição Federal que estabelece que a criação e desmembramentos de municípios passam a ser de competência dos Estados.
            A propósito disso, na qualidade de candidato majoritário fizemos distribuir nota à população dizendo o seguinte:

            “Foi uma luta incansável. Enquanto nossos opositores pregavam o pessimismo e a descrença, nós estávamos lutando em Brasília para manter a criação da nossa cidade. E conseguimos, Graças a Deus. Eles não. Não moveram uma palha. Pelo contrário, enquanto nós rezávamos e lutávamos com unhas e dentes, eles estavam já pedindo votos para os candidatos de Silvânia, dizendo ao povo que  ‘Passa Quatro já caiu, Passa Quatro já era’.
   Ora, nosso Município, que está começando agora, precisa de gente com garra, com coragem para lutar e defender os interesses do povo, seja em Goiânia, em Brasília, ou em qualquer lugar.”

O Deputado Federal João Natal teve participação decisiva nesse processo de manutenção do Município, ele que foi o seu criador enquanto Deputado Estadual em Goiânia, dando-nos o respaldo necessário.


3. A expectativa da população

            A população vivia um clima de euforia sem igual, porque via o sonho realizar-se, acompanhava o desenrolar dos fatos e era parte integrante dele. Os mais idosos permaneciam pasmos diante da realidade, mas esperançosos, e os mais reticentes e pessimistas desabrochavam-se em contentamento. As crianças e os jovens eram o retrato da alegria, alheios às dificuldades que viriam por consequência do ato emancipador. E nós, apesar da satisfação que invadia nossa alma, éramos às vezes alcançados por momentos de preocupação, porque sabíamos que o desafio tinha uma dimensão tal que poderia ser superior às nossas forças. Festejávamos com o povo, porém com os pés no chão, cônscios da enorme responsabilidade que pesava sobre nossos ombros.
Mais tarde, Paulo Edson, em artigo publicado no jornal “O Patrimônio”, retratou com muita felicidade o sentimento das pessoas do lugar. Dizia:

“Plantou-se um esteio e com ele a esperança do lugar.
               Plantamos nossas raízes nesta terra. Criamos aqui nossa história; é por isto que estou pronto a abraçar os desafios daqui... Que orgulho! Estamos entre os caçulas dos municípios goianos. Os desafios empreendem agora novas fases; não terminam aqui. A emancipação foi mais uma conquista, não a última; tão valiosa quanto o primeiro suor que ganhou esta terra.
Todos nós continuaremos guiando os destinos da nossa comunidade. Agora com as decisões mais próximas e mais legítimas. O Legislativo é só nosso e o Executivo também. Nossas sugestões, humildes, coerentes ou até absurdas, não mais viajarão sessenta quilômetros para se submeterem ao crivo da bancada de uma comunidade mista. Os objetivos dos nossos representantes de outrora, nossos objetivos, não serão mais postergados. Não obstante a obediência de escala de prioridades, as decisões dirigir-se-ão tão-somente ao nosso Passa Quatro. Cabe-nos acompanhar.
O nome do nosso São Miguel do Passa Quatro já caminha sem tutela e com liberdade pelos corredores do Estado e da União. Isto é sinônimo de maioridade, discernimento e capacidade do nosso povo. Isto é participação. Isto é emancipação.” 


4. A campanha política

Antes, um crítico inveterado dos políticos e avesso às questões partidárias. Nos seguidos anos de salas de aula, ministrando Língua Portuguesa e Organização Social e Política Brasileira - OSPB, eu achava a classe política muito demagoga, profissionalista e interesseira. Eu acreditava no idealismo político, na possibilidade até de mudar o perfil da administração pública, mas o exemplo da grande maioria dos profissionais do voto não era muito convincente nem animador.
Com esse ponto de vista, jamais imaginei entrar para a política. No entanto, diante da emancipação de minha terra natal, onde cresci e de onde guardo as melhores lembranças da infância e da adolescência; contando ainda com o assédio insistente de amigos e de pessoas de bem que tinham idéias compatíveis com as minhas, para o bem do Município recém-criado;  mesmo morando fora e tendo de interromper uma carreira profissional já exitosa no campo da advocacia, decidi dar minha parcela de contribuição. Eu me sentia como o soldado que é convocado para a guerra. Não tinha como recuar. Pesaram bastante na minha decisão as palavras encorajadouras e as ponderações realistas de José Dênisson, Ex-Prefeito de Silvânia e Deputado.
A insistência era tão grande para que eu assumisse a postura de candidato, que os jornais regionais publicavam matérias dando como certa minha candidatura. Um deles, “A Tribuna de Silvânia”, em edição de dezembro/87, logo depois do plebiscito, publicou o seguinte:

“Há 43 anos o pequeno povoado de São Miguel do Passa Quatro recebia para a vida, num lar modesto e honesto, o hoje advogado Elson Gonçalves de Oliveira. Filho do Sr. Sebastião, um biscoiteiro alegre e trabalhador, e de Dona Maria, Elson ficou em sua terra até 1962 quando saiu para estudar, voltando logo em 1963, lecionando no grupo do povoado até 1970. Fez o segundo grau morando em Vianópolis e cursou Direito em Uberlândia. Antes ainda de concluir o curso, já prestava relevantes serviços à sua gente de São Miguel, quer na área jurídica ou até mesmo fazendo a declaração de renda deles. Muita coisa mudou nesse período. De povoado, São Miguel passou a Distrito. E agora, graças ao trabalho do Deputado João Natal, o sofrido distrito transformou-se em Município. No ano passado, com a instalação do 2º grau no Colégio Graciano José da Silva, o Dr. Elson Gonçalves se mostrou pronto a servir. Sem nenhum interesse econômico - magistério não tem esse retorno -, lecionou aqui todas as quintas-feiras cinco aulas durante todo o ano. No próximo ano acontecerão as eleições para Prefeito. Dr. Elson entra nessa disputa. Irá à convenção do PMDB.”

A primeira batalha foi dentro do diretório do partido político que escolhi na época, o PMDB. Custou muito sacrifício, foi desgastante, alguns meses de trabalho árduo e estafante, mas saímos vitoriosos. Éramos finalmente o candidato escolhido para concorrer ao cargo majoritário de Primeiro Prefeito.
Vencido o primeiro obstáculo, vinha a eleição propriamente dita. Do outro lado, tivemos dois adversários valorosos que não quiseram alinhar-se conosco e preferiram postular também a Prefeitura, o que constituía um direito de cada um: Manoel Martins de Carvalho, pelo Partido Liberal - PL, e Geraldo Magela, pelo Partido dos Trabalhadores - PT. E aí começou a campanha que nos levaria a ser agraciado com o título único de Primeiro Prefeito. Meses e meses a fio visitando casas, cumprimentando o eleitor, proferindo palestras, conversando com as pessoas, enfim, buscando o voto.
O nosso primeiro panfleto de campanha trazia o seguinte texto, cuidadosamente elaborado:

“São Miguel do Passa Quatro agora é município autônomo. Só falta mesmo a instalação que se dará, com sucesso, mediante o esforço e a competência do primeiro prefeito.
O ELSON é a pessoa ideal para essa tarefa. Ele reúne todas as condições necessárias para implantar o município. É sério, competente, bom administrador, entende de leis, trabalhou em Prefeitura muitos anos e é gente daqui.
O ELSON nasceu na roça, ali no Córrego Fundo. É filho do Bastião Gonçalves e da dona Maria, pessoas pobres mas honradas, que prestaram grandes serviços a esta terra. O ELSON cresceu aqui, estudou aqui, lecionou aqui vários anos, inclusive muitos dos eleitores de hoje foram alunos dele.
A COTINHA, esposa do Elson, também é daqui. Ela é filha do saudoso Zé Calixto e da dona Izídia. Os dois saíram daqui apenas para estudar. Hoje o Elson é advogado e a Cotinha é normalista. Agora querem aplicar aqui tudo o que aprenderam lá fora. Eles vão morar aqui e pretendem trabalhar com o povo, especialmente com os mais pobres e necessitados. Querem calçar as ruas e zelar da cidade, para evitar essa buraqueira que existe aí há tantos anos. As estradas e
as pontes serão construídas, reformadas e zeladas com cuidado. A educação terá prioridade e será reestruturada, enquanto que o esporte terá incentivo. As atenções serão voltadas também para a saúde da nossa gente. Outras conquistas urgentes serão o telefone, a água tratada, a energia elétrica trifásica e a eletrificação rural, os serviços de  correio, os cartórios etc.”

Conseguimos muitos adeptos à nossa plataforma política usada na campanha. Um deles, Dr. Shenko, que mais tarde viria contribuir com enorme parcela para a administração pioneira, declarou publicamente o motivo de seu engajamento na nossa candidatura, expressando o seguinte:

“Eu dei o meu apoio maciço ao Elson porque eu achava, e sempre achei, que para que se pudesse fazer a instalação e a institucionalização de um novo município, era necessário que tivéssemos um prefeito com uma formação cultural maior, porque os encargos desse primeiro mandato iriam fazer grandes solicitações a essa pessoa, ao prefeito. Daí o meu apoio ao Elson, que era um advogado, uma pessoa com bastante experiência administrativa, filho da cidade, nascido e criado nela, e que até agora não nos tem decepcionado, mostrando mais uma vez que nós tínhamos razão. É só ver em um ano de administração, a quantidade de realizações do Elson” (Jornal “O Patrimônio”, nº 5).

Ao mesmo tempo em que partíamos para o corpo-a-corpo com o eleitor, engendrávamos já algumas obras e serviços prioritários e urgentes para o lugar. Foi assim que conseguimos a instalação dos serviços telefônicos para a cidade antes mesmo da eleição. Havia um impasse muito grande, porque a Telegoiás só instalaria o posto de telefonia se a prefeitura construísse primeiramente o prédio, exigência essa que era inviável para nós, pois o município não estava ainda instalado.
Porém, através do Deputado João Natal firmamos compromisso condicional com a Telegoiás, de construirmos o tal prédio tão logo tomássemos posse como prefeito.
Antes das eleições nos foi dada também a oportunidade de inaugurar o escritório das Centrais Elétricas de Goiás - CELG em nossa cidade. Na oportunidade dizíamos em nosso empolgado discurso: “Não basta pedir as coisas e ficar parado esperando que elas venham do céu. É preciso lutar por elas, brigar para trazê-las. O povo esperou seis anos. E cansou”.
Há certos episódios pitorescos da campanha que ficaram gravados na nossa mente, como aquele da mãe que pedia uma bicicleta para seu filho; outra senhora que pedia um armário; outra ainda que condicionava o voto à construção de uma casa, antes das eleições; outra mais que se declarou preocupada e até pediu desculpas porque não tinha nada para pedir; um senhor que solicitava emprego para suas quatro filhas e seus três filhos...


5. A eleição


    No dia 15 de novembro de 1988 o povo foi às urnas, numa disputa acirrada mas pacífica, e elegeu seu primeiro prefeito com 705 votos, 165 a mais que o segundo colocado.
Concluída a votação e lacradas as urnas, o cortejo partiu para Silvânia a fim de ver de perto a apuração dos votos. A tensão e a expectativa eram enormes, porque afinal de contas o povo não estava acostumado com fato semelhante: era a primeira eleição, escolha do primeiro prefeito, dos primeiros vereadores, enfim, era o começo de tudo.
Proclamado o resultado das urnas, não pudemos mais conter a emoção que invadia o nosso coração e a alma de toda aquela gente. Muitos cumprimentos, abraços, choro de alegria dos que ganharam e de tristeza de quem perdeu.
Voltamos no meio da noite. Chegando a Passa Quatro, outra surpresa: os que ficaram haviam preparado uma grande recepção. O povo esperou os ganhadores na entrada da cidade, para levar nos braços o primeiro prefeito até a praça central.
A festa vazou a madrugada. Naquele dia concluía-se uma jornada de dez meses de intensa luta em busca do voto, iniciada no dia 15 de janeiro daquele ano, depois de insistentes pedidos de amigos, de populares e de pessoas influentes na região para que assumíssemos a tarefa de instalar o município.
A campanha superou barreiras de todos os tipos para então chegar vitoriosa à final. Praticamente todas as residências do município foram visitadas, muitas delas mais de uma vez. Às vésperas do pleito, a carreata dos nossos candidatos pelas ruas da cidade superou muitas vezes as manifestações dos nossos concorrentes. Os comícios eram movimentados, repletos de gente alegre e festiva, mostrando já a preferência do eleitorado à candidatura que acabou vencedora.
Diversos outros comícios foram realizados em locais estratégicos, na zona rural, sempre terminando com adesão de muita gente. A equipe de apoio crescia cada vez que era pronunciada a chapa que viria a ser vitoriosa, terminando por criar uma unanimidade entre os jovens e um respeito cada vez maior dos mais velhos.


6. Local de funcionamento da Prefeitura e da Câmara de Vereadores

Com o sucesso das urnas, passada a fase de festas e comemorações, era preciso começar a pensar no mais difícil: a administração municipal. Os nossos projetos administrativos foram concebidos antes mesmo da campanha, porém havia chegado o momento de colocá-los em prática. O desafio era grande, disso estávamos conscientes. E partimos para a luta.
A realidade mostrava-nos que devíamos começar do nada. E do nada começamos, sempre com muita fé em Deus e contando com a intercessão valiosa de São Miguel.
O local de funcionamento da Prefeitura e da Câmara foi a nossa primeira preocupação. Passada a ressaca dos festejos da vitória, demo-nos conta de que para iniciar nossa administração não tínhamos uma caneta para assinar os primeiros atos, nem uma vassoura para varrer, nem tampouco um banco para sentar, e muito menos um local para assentar os órgãos que comporiam a administração municipal. Lembro-me de que virei para minha esposa e fiz aquela clássica pergunta, cuja resposta já sabíamos por antecipação (ou não sabíamos?): “E agora?”.
A primeira iniciativa foi instar com o Secretário Estadual da Educação, em Goiânia, que gentilmente nos cedeu o antigo pavilhão do Colégio local a fim de que pudéssemos fazer as adaptações necessárias, com vistas a instalar os órgãos públicos municipais. Mas como providenciar essas instalações se não havia dinheiro?
A constatação crua e nua era a de que o novo Município não tinha nem receita tributária. Era um município florescente, porém vinculado ainda apenas à própria lei de sua emancipação.
Para a instalação dos Poderes Executivo e Legislativo era preciso promover a adaptação do acanhado prédio, e o fizemos através dos serviços de divisórias, separando primeiramente os dois Poderes e, depois, dividindo as salas internas para abrigarem o gabinete do Prefeito, a sala da Secretaria, da Tesouraria e uma de espera. Tudo foi improvisado em salas escolares capazes de acomodar a estrutura funcional do governo iniciante. Mais uma vez o Dr. Shenko nos avalizou nessa empreitada, pois o pagamento pelos serviços desenvolvidos pela empresa contratada, a “Renomaq Ltda”, só viria lá pelo mês de março seguinte.


7. A Receita Tributária do Município

            O Município não dispunha de recursos nem para ensaiar os seus primeiros passos. A instalação dos órgãos administrativos, como divisórias, móveis, utensílios em geral e tudo mais que se fazia indispensável no momento foram comprados a prazo. Inclusive nos primeiros três meses de administração nós sobrevivemos do esforço de cada um, até mesmo dos nossos abnegados funcionários, que tiveram de trabalhar todo esse tempo sem receber salário algum.
            Era preciso pensar então na receita tributária. Sabíamos que o repasse federal, o Fundo de Participação dos Municípios - FPM, só começaria a chegar lá pelo mês de março/89. Receita local era inexistente, pois não havia ainda nenhuma fonte geradora assentada. Tudo ocorreria após a instalação do Município.
            Havia também a perspectiva do repasse estadual, a participação no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, que nos primeiros dois anos deveria ser retirado da cota de participação do município-mãe, no caso, Silvânia. A alíquota do novo Município, no entanto, carecia de aprovação da Assembléia Legislativa. E diante disso, partimos para o embate junto aos senhores Deputados.
Acontece que um dos parlamentares da Casa, José Dênisson, acabara de ser eleito Prefeito de Silvânia, portanto diretamente interessado em defender o Município que iria administrar. A discussão do assunto, por sinal muito calorosa, foi travada entre mim e o Dênisson no Plenário da Assembléia, sob os olhares atentos dos demais Deputados.
No final, acabamos fechando um acordo, fixando o ICMS de São Miguel do Passa Quatro em 15% do total que seria repassado mensalmente para Silvânia, durante os primeiros dois anos.


8. Preparação da primeira equipe de trabalho

            Era necessário e imperioso escolher a primeira equipe de trabalho que iria dar suporte à instalação do jovem município e executar conosco os projetos já delineados e muitos deles definidos. A cidade não contava com muitos recursos humanos disponíveis, porém preferimos investir nas pessoas do lugar. Para isso usamos os critérios da escolaridade e da aptidão para cada área, princípios esses que nos levaram a aproveitar grande parte dos alunos concluintes de 2º grau que naquele ano terminavam seus estudos em Cristianópolis.
            Formado o quadro de funcionários, era preciso dar-lhes um mínimo de formação, porque ninguém até o momento conhecia os meandros de funcionamento dos órgãos públicos. Aliás, nenhum deles tinha a menor noção do que era o acionamento da máquina administrativa de uma Prefeitura. O único que tinha experiência no ramo era o Secretário-Geral, que possuía formação contábil.
Contando então com a ajuda abnegada do Gilberto (Gilberto Vieira Machado), nomeado Secretário-Geral, pessoa a quem Passa Quatro deve muito pelo seu idealismo e força de vontade, fomos aos poucos, de um por um, treinando a equipe de trabalho. Alguns mandei para estágios em outras cidades para uma assimilação mais rápida. Eram jovens vigorosos e esforçados, que sabiam entender o momento histórico do Município e não se acovardavam diante dos incessantes desafios daquela administração pioneira. Não mediam sacrifícios para dar seu contributo ao desenvolvimento do município que nascia sob o signo do trabalho, da garra, da luta destemida de sua gente e do idealismo sem limites de seus benfeitores.


9. Identificação do Município e do seu povo por ocasião de sua criação e instalação

Área territorial: 547 quilômetros quadrados.
Altitude: 801 metros.
Latitude: 17º03’31’’
Longitude(w.gr.): 48º39’46’’
Confrontação: Ao norte pelo Município de Silvânia; ao sul pelos Municípios de Bela Vista de Goiás e Cristianópolis; a leste pelo Município de Vianópolis; a oeste pelo Município de Bela Vista de Goiás.
Localização: A sede do Município de São Miguel do Passa Quatro fica a 50 km de Silvânia, 40 km de Vianópolis, 45 km de Orizona, 45km de Santa Cruz, 18 km de Cristianópolis, 40 km de Bela Vista, 90 km de Goiânia e 200 km de Brasília.
    Lavoura: Mais ou menos 8 mil hectares plantados em soja; 3 mil hectares de lavoura de arroz; 1 mil hectares de milho.
Gado: O rebanho bovino constituía-se de cerca de 15 mil cabeças de gado de leite e de corte. A bacia leiteira com produção de 20 mil litros de leite/dia.
Carvoeiras: Foram contadas 30 carvoeiras que produzem aproximadamente um caminhão de carvão/dia.
Comércio: Comércio bastante variado, constituído de: 1 posto de gasolina, 1 posto de resfriamento de leite, 1 fábrica de queijo, 1 depósito de pimenta, 5 armazéns, 9 bares, 2 armarinhos, 1 confecção, 2 açougues, 1 frutaria, 3 máquinas de beneficiar arroz, 1 marcenaria, 1 serraria, 2 salões de beleza.
A índole do povo: O passaquatrense é pessoa de índole humilde e sincera. Nada precipitado, quase sempre resolve suas pendências sob as árvores da praça, sem pressa, com tempo para uma boa piadinha e discussão satisfatória de assuntos diversos.
Diversões: O futebol e o truco, acompanhados de uma boa pinguinha e um bom bate-papo, são atividades constantes no município inteiro. Gente muito unida, já que há um grau de parentesco entre a grande maioria das pessoas. Raramente há brigas e o gosto pela cidade é evidente. Normalmente quem não é parente se torna compadre.
A juventude: A juventude passaquatrense é participativa e nunca deixa um motivo de festa passar em branco. Muitas vezes chega a criar situações para festejar.
A praça: O que dá uma característica especial à cidade é a praça central, que tem um formato retangular, com árvores enormes, sombrias e espaçosas, sob cujas folhas proliferam-se as lagartinhas minúsculas chamadas aqui de lacerdinhas, muito ardidas nos olhos dos transeuntes. As árvores ainda servem para o pessoal da zona rural amarrar os cavalos quando vem à cidade. As árvores foram plantadas em 1958, atendendo a um projeto do vereador Érico Josué Meireles (Lico).
O sobradinho: O sobradinho, de propriedade de Edson Dias, o Edinho do Braulino, era, talvez, a construção de maior destaque da cidade, despertando a curiosidade dos visitantes, embora muitas outras casas antigas tivessem histórias de sobra para contar. Era uma relíquia do lugar. Foi construído em 1937 pelo Sr. Galdino Chagas. Tombou demolido em 1998 pela Prefeitura, sem nenhum escrúpulo e nenhuma justificativa convincente. Foi como uma punhalada no peito do passaquatrense de sangue e de coração.
O Lajeado e o Poço da Pedra: O Lajeado e o Poço da Pedra eram dois pontos de encontro da criançada e da juventude. Quem mora aqui, ou já morou, ou ainda manteve pequeno contato com esta terra, tem um causo passado nesses lugares. São pontos assim onde o folclore da cidade é o folclore de cada um.     




[1] Elson G. Oliveira - Trecho do discurso de posse na solenidade de instalação do Município, em 1/1/1989.



      Capítulo II

              A INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO



1. A posse dos eleitos

            Determinava a lei de criação (Lei nº 10.432/88) que o Município criado seria instalado com a posse do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos simultaneamente com os dos municípios já existentes.
            A eleição municipal aconteceu no dia 15 de novembro de 1988. E a posse das autoridades eleitas se deu em 01 de janeiro de 1989, consumando-se, assim, a instalação do Município de São Miguel do Passa Quatro, de acordo com a lei.
            Na condição de vereador mais votado, coube ao edil Gilmar Pereira de Sousa assumir os históricos trabalhos do dia primeiro de janeiro de mil novecentos e oitenta e nove e dar posse, primeiramente, aos demais vereadores e, em seguida, ao Prefeito e ao Vice, em uma cerimônia simples, realizada no salão paroquial.
            Após as solenidades de posse, houve missa e bênção celebradas pelo Padre Pedro Celestino, líder espiritual, benfeitor e grande defensor do lugar.
            Logo depois os vereadores se dirigiram à sede improvisada da Câmara Municipal para a escolha da mesa diretora que ficou assim composta:

         Presidente da Câmara: César Antônio de Oliveira
               Vice-Presidente: Gilmar Pereira de Sousa
               1º Secretário: Domingos Rodrigues Pereira
               2º Secretário: Manoel Tobias da Silva
               Líder do PMDB: Domingos Rodrigues Pereira
               Líder do PL: Valdivino Inácio de Carvalho
               Líder do Prefeito: Manoel Tobias da Silva

            Encerradas as cerimônias de posse, houve um grande churrasco, regado a chopp gelado e animado com show musical ao vivo, oferecidos à enorme multidão que se aglomerava na Praça da Igreja e que delirava com aquele acontecimento histórico e único.
                                              
2. Ata de posse dos eleitos, na íntegra

“Ata da primeira sessão solene de instalação do Município de São Miguel do Passa Quatro e da legislatura de 1989-1992.  Ao primeiro dia de janeiro de um mil novecentos e oitenta e nove, às 9,00 horas, na sala de reuniões da Câmara Municipal de São Miguel do Passa Quatro, de Goiás, reuniram-se os senhores Vereadores, Prefeito e Vice-Prefeito eleitos em 15 de novembro de 1988, sob a presidência do Vereador mais votado dentre os presentes, senhor Gilmar Pereira de Souza, que designou para secretariar os trabalhos o senhor Valdivino Inácio de Carvalho. Compareceram para apresentar declaração de bens, prestar compromisso e tomar posse os Vereadores, Senhores: Gilmar Pereira de Souza, Valdivino Inácio de Carvalho, César Antônio de Oliveira, Domingos Rodrigues Pereira, Edson Dias, José Alonso de Carvalho, Manoel Tobias da Silva, Geraldo José de Carvalho e Walter Martins de Carvalho, o Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira e o Vice-Prefeito Márcio Cecílio Ceciliano, todos eleitos e Diplomados. O Vereador Gilmar Pereira de Souza possui os seguintes bens: imóveis, Cz$8.800.000,00; o Vereador Valdivino Inácio de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis: Cz$2.000.040,00; o Vereador César Antônio de Oliveira possui os seguintes bens: Cz$4.000.000,00; o Vereador Domingos Rodrigues Pereira possui os seguintes bens: saldo bancário Cz$100.000,00; o Vereador Edson Dias possui os seguintes bens: imóveis, Cz$12.000,00 e saldo bancário Cz$150.000,00; o Vereador José Alonso de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis, Cz$48.000.000,00; Automóveis, Cz$700.000,00; o Vereador Manoel Tobias da Silva possui os seguintes bens: imóveis, Cz$18.000.000,00; o Vereador Geraldo José de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis, Cz$24.000.000,00 e automóveis Cz$1.500.000,00; e o Vereador Walter Martins de Carvalho possui os seguintes bens: imóveis, Cz$51.000.000,00 e automóveis Cz$1.500.000,00. O Prefeito, senhor Elson Gonçalves de Oliveira possui os seguintes bens: imóveis Cz$27.300.000,00 e automóveis Cz$2.000.000,00. O Vice-Prefeito, senhor Márcio Cecílio Ceciliano possui os seguintes bens: imóveis Cz$39.500.000,00 e automóveis Cz$11.500.000,00. Após as declarações, os Vereadores eleitos tomaram posse prestando o seguinte compromisso: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição da República, a do Estado, observar as leis, particularmente a Lei Orgânica dos Municípios, promover o bem coletivo e exercer com patriotismo, honestidade e espírito público, o mandato que me foi conferido.” Em seguida assinaram o Termo de Posse, dando prosseguimento aos trabalhos, o Presidente deu posse ao Prefeito e Vice-Prefeito, que prestaram o mesmo compromisso acima e assinaram o Termo de Posse. Após estas solenidades, foi declarado, com a posse dos eleitos, instalados o novo Município e a Legislatura de 1989/1992. Continuando as solenidades de posse, foi dada a palavra ao senhor Elson Gonçalves de Oliveira, Prefeito desta cidade, que falou sobre o nascimento do Município e da esperança depositada em todos os segmentos da comunidade; falou do porquê da emancipação e também da gratidão ao Município-mãe, das dificuldades que vai ter com o novo Município, mas que apesar disso confia na capacidade de trabalho de todos; e logo em seguida enumerou as prioridades básicas do Município, que são: Saúde, Educação, Bem-Estar Social e Alimentação e do incentivo ao incremento industrial de pequeno porte para absorção da mão-de-obra e, finalizando, pediu a todos para nos unirmos para o progresso de São Miguel. Também foi dada a palavra ao senhor Domingos Rodrigues Pereira, que falou sobre a esperança da Câmara em poder ajudar o Executivo, elaborando leis que atendam as exigências da comunidade e que as portas estão abertas e os vereadores também estão à disposição do diálogo para o aprimoramento democrático de nossa cidade. Empossados os eleitos, e após o uso da palavra pelos oradores, o Presidente convocou os Vereadores para elegerem a mesa do Legislativo na próxima sessão. Nada mais havendo para tratar, o Senhor Presidente deu por encerrada a presente sessão solene de instalação do Município e da Legislatura de 1989/1992. Eu, Valdivino Inácio de Carvalho, Secretário, lavrei a presente ata, que depois de lida e achada conforme, será assinada por mim, pelo Presidente, pelo Prefeito, Vice-Prefeito e os demais Vereadores presentes. Sala das sessões da Câmara Municipal de São Miguel do Passa Quatro, ao primeiro dia do mês de janeiro de 1989.” (Seguem as assinaturas)             

3. O discurso do Prefeito, na solenidade de posse

                                “Exmº Sr. Presidente da Câmara Municipal
                                Exmºs. Srs. Vereadores
                                Exmº Sr. Vice-Prefeito
                                Senhores e Senhoras:

São Miguel do Passa Quatro nasce sob o signo da esperança. Todos nós, jovens, adultos, crianças, donas de casa, trabalhadores braçais, estamos confiantes no futuro desta cidade-menina. É o sonho que se torna realidade.
Perguntaram-me certo dia: por que vocês querem a emancipação? - Ora, queremos ser livres - respondi. Queremos cuidar pessoalmente do nosso destino. Queremos mostrar que temos competência, que somos dotados de auto-suficiência para enfrentar os desafios e resolver nossos próprios problemas.
Ao povo de Silvânia somos gratos, principalmente porque entenderam o nosso ato de independência. Não dava mais para continuar sob a tutela bonfinense, porque o sentimento de liberdade e a pressa de crescer norteavam a mente da unanimidade da população passaquatrense.
E quis o povo, sob as bênçãos do padroeiro São Miguel, que eu me tornasse o primeiro Prefeito. E aqui estamos agora no firme propósito de corresponder ao chamado popular, de não decepcionar a confiança que a grande maioria das urnas depositou em mim, em minha esposa e na competente equipe que empunhou conosco a bandeira da campanha.
Creio que a população inteira tem consciência de que vamos enfrentar grandes dificuldades nesse início de administração. Estamos começando do nada. Perguntaram-me, também, há poucos dias, se a Prefeitura tinha pelo menos uma caneta, uma vassoura, ou um banco. - Como, se não existe nem Prefeitura? - foi a minha resposta.
Apesar disso, nós confiamos na proteção de Deus e na nossa capacidade de trabalho. E asseguramos que todos os compromissos de campanha serão cumpridos.
Aproveitamos para confirmar que o ensino de primeiro e segundo graus será incrementado e terá prioridade na nossa administração; que aos filhos do agricultor, do homem do campo, será dada condição de escolaridade, através de uma escola mais digna e de transporte subsidiado e gratuito. Na saúde, a Prefeitura propiciará condições para que o atendimento médico e dentário seja ampliado cada vez mais. As pessoas carentes terão de nossa parte toda a atenção de que são merecedoras. Programas de alimentação serão fomentados para que a mesa do trabalhador e do carente seja farta.
Vamos investir no esporte, como prometemos. E o nosso jovem vai aprender a curtir melhor sua cidade, a viver plenamente em Passa Quatro.
Os produtores, os comerciantes e os pequenos industriais terão o nosso incentivo. A Prefeitura irá proporcionar os meios para o incremento da produção agrícola, do leite e da ampliação do comércio. Criaremos leis que trarão incentivo à instalação de indústrias de pequeno porte, para absorver a mão-de-obra local e construir conosco o progresso que almejamos.
Povo de minha terra! Nesta hora quero conclamar a todos ao trabalho. É através do esforço somado de cada um de nós que conseguiremos vencer as dificuldades. Vamos trabalhar para construirmos o grande município do futuro.
Às autoridades presentes e ao povo os nossos agradecimentos pelo brilhantismo da visita que muito nos honra; aos senhores vereadores a nossa palavra de fé e confiança na capacidade de trabalho e discernimento de cada um; as nossas responsabilidades são idênticas na condução dos destinos desta terra; e a Deus o nosso pedido para que derrame sobre nós as bênçãos de que necessitamos para edificar o futuro de São Miguel do Passa Quatro.
                                Muito obrigado”


4. Organização política

            A organização política do novo município ficou assim constituída:

            PODER EXECUTIVO

PREFEITO: Elson Gonçalves de Oliveira, brasileiro, casado com Aparecida Pires de Oliveira, advogado, com 44 anos de idade; é filho de Sebastião Gonçalves da Silva e Maria Fernandes da Silva.
PRIMEIRA-DAMA: Aparecida Pires de Oliveira (Dona Cotinha), brasileira, casada com Elson Gonçalves de Oliveira, com 38 anos de idade; é filha de José Calixto de Carvalho e Izídia Pires de Carvalho.
VICE-PREFEITO:    Márcio Cecílio Ceciliano, brasileiro, casado, comerciante; é filho de Jair Cecílio Ceciliano e Sebastiana de Lourdes Fernandes.

PODER LEGISLATIVO – VEREADORES

Manoel Tobias da Silva foi eleito pelo PMDB com 61 votos e tem 45 anos de idade. É filho de Sebastião Tobias da Silva e Júlia Maria Xavier, velhos fazendeiros na região da Água Vermelha e eméritos benfeitores do lugar. Há muito tempo faz a corrida de Passa Quatro a Silvânia, de Kombi, e nessas viagens presta aos passageiros todo tipo de favor. Ele é também um grande incentivador do esporte local, além de sempre ser procurado para intervir em assuntos da comunidade. Seu esforço e sua contribuição para o bem de Passa Quatro foram relevantes.
            César Antônio de Oliveira tem 30 anos e foi eleito pelo PMDB com 90 votos. É filho de José Orlando de Oliveira e Altiva Batista de Oliveira, antigos moradores de Passa Quatro e fazendeiros influentes no Município. César é produtor rural e já foi funcionário do IBDF e professor em São Miguel.
            Domingos Rodrigues Pereira foi também eleito pelo PMDB com 90 votos. Tem 29 anos e é funcionário público, responsável pelo funcionamento do posto de saúde do lugar. Domingos é filho de Adjunio Rodrigues Pereira e Maria Filomena de Oliveira, pessoas que sempre residiram na cidade e muito contribuíram com o desenvolvimento da cidade.
            Edson Dias (Edinho) é comerciante e dono de um dos locais mais característicos de Passa Quatro, o sobradinho. Tem 40 anos de idade e foi eleito pelo PMDB com 83 votos. É filho de Braulino e Gercina Camila Dias, respeitados comerciantes na cidade.
            Valter Martins de Carvalho é fazendeiro, filho de Pompílio Martins de Carvalho e Maria Joana de Jesus, pessoas que eram muito conhecidas e respeitadas principalmente na região do Aborrecido, onde sempre residiram. É o vereador mais velho, com 46 anos, e foi eleito com 56 votos pelo PMDB.
            José Alonso de Carvalho tem 43 anos e foi eleito pelo PL com 69 votos. É filho de Alonso Joaquim de Carvalho e Maria José de Carvalho. É fazendeiro e é o representante da região do Rio dos Bois (de cima), onde teve a quase totalidade de seus votos.
            Geraldo José Batista é fazendeiro e representante da região do Rio dos Bois (de baixo). Foi eleito pelo PL com 59 votos e tem 38 anos de idade. É filho de João Batista de Carvalho e Maria José de Carvalho, que foram fazendeiros de alta influência naquela região do Rio dos Bois.
            Gilmar Pereira de Sousa tem 30 anos de idade e foi o vereador mais votado, com 116 votos, pelo PL. É filho de Benedito Gregório de Sousa e Ana Pereira de Sousa, fazendeiros no Município e provenientes de famílias tradicionais.
            Valdivino Inácio de Carvalho foi eleito pelo PL com 92 votos e tem 30 anos de idade. É filho de Joaquim Calixto de Carvalho e Maria Vieira de Carvalho, fazendeiros no Município.


5. Organização administrativa       

No campo jurídico, a primeira providência foi cuidar da estruturação administrativa e funcional. Nasceu então a Lei nº 001/89, que estabeleceu a quantidade de funcionários que o Município teria e as diversas distribuições dos cargos, segundo o interesse da filosofia de governo a ser implantada.
Realizado concurso público, em dezembro de 1989, o Município passou a contar  em seu quadro de funcionários com 58 servidores concursados e 18 comissionados, num total de 76, assim distribuídos:

1 Secretário do Governo Municipal
5 Superintendentes  (educação, administração,  finanças, saúde e assistência social, transporte e agricultura)
6 Assessores de gabinete “A”
3 Assessores de gabinete “B”
3 Assessores de gabinete “C”
7 Zeladores
1 Vigilante
3 Telefonistas
5 Pedreiros
10 Assistentes de Ensino Classe “A”
4 Assistentes de Ensino Classe “B”
4 Operadores de máquinas
5 Motoristas
6 Merendeiras Escolares
1 Gari
1 Encarregado de Obras
3 Auxiliares Administrativos “A”
3 Auxiliares Administrativos “B”
5 Assessores Administrativos


6. Primeiras aquisições materiais

·         Adaptação de um pavilhão do Colégio, com divisórias internas e pintura, para abrigar a Prefeitura e a Câmara;               
·         Aquisição dos móveis e utensílios para funcionamento dos órgãos dos Poderes Executivo e Legislativo;
·         Aquisição de um carro “Prêmio”, Fiat, 4 portas, zero km, para representação do Prefeito. Esse veículo foi o único utilizado pelo Poder Executivo durante os 4 anos de mandato por questão de economia para os cofres públicos;
·         Aquisição de uma viatura para uso da polícia civil, fornecida pelo Governo do Estado, em regime de comodato;
·         Aquisição de uma Kombi doada pelo Ministério da Agricultura;
·         Aquisição de uma máquina xerox;
·         Aquisição de uma casa na Praça Sebastião Gonçalves da Silva para construção do prédio da Prefeitura e da Câmara;
·         Aquisição de 14 lotes para construção de casas populares no Setor Marajoara;
·         Aquisição de 4.000 metros quadrados de terreno na Av. Alcides Pereira de Castro e 12.000 metros quadrados na Rua Guilherme Veloso para futuras instalações de órgãos públicos, inclusive hospital e creche;
·         Recuperação da área de terras do antigo cemitério da cidade para construir a Praça da Bíblia.

                                                        Capítulo III


      PLANEJAMENTO ADMINISTRATIVO


                                              
1. O jornal “O Patrimônio”

Sentimos de imediato a necessidade de criar um veículo de divulgação e de integração do Município. Víamos que o sentimento patriótico e até mesmo bairrista com relação à emancipação não havia ainda ganhado proporções que abrangessem os quatro cantos da nova Unidade da Federação.
Era preciso despertar na população o orgulho de ser passaquatrense. Inclusive as expressões “passaquatro” e “passaquateiro” eram nomes pejorativos em toda região. O termo “passaquateiro” era sinônimo de caipira, matuto, sem instrução etc. E quando se queria dizer que alguém era meio abobalhado a frase usada era “Fulano é passaquatro de tudo!”; ou  “Liga não, fulano é assim meio passaquateiro mesmo!”, e assim por diante. Por essa razão muitas pessoas do lugar sentiam-se intimidadas e não raras vezes omitiam sua identidade passaquatrense.
Por isso era urgente mexer com o brio do nosso povo para levantar-lhe o moral. Sabíamos que para construir o Município precisávamos de gente animada, dinâmica, com amor pelo lugar e pela causa municipal. Então tínhamos de empreender um trabalho para fazer nascer em alguns, despertar em muitos e desenvolver na maioria esse lado sentimental, patriótico e de afeto por Passa Quatro.
Em resumo, era preciso dar condições para que o passaquatrense descobrisse sua verdadeira identidade. E a melhor maneira que achamos na época foi criar um jornal bem nosso para divulgar nossa cidade, a zona rural, nossas fontes produtivas, nossos lugares turísticos, a história da povoação, a saga dos pioneiros, o comportamento dos nossos jovens, nossos usos e costumes etc.
Nasceu então “O Patrimônio”, que circulou durante os quatro anos da administração pioneira. A direção foi entregue ao jovem jornalista Vassil José de Oliveira, que era ao mesmo tempo editor, repórter, fotógrafo e responsável pela coordenação da equipe de voluntários que vinham colaborar nessa empreitada. Não poupou ele nenhum sacrifício para extrair as notícias que faziam a história e retratavam a satisfação de um povo que vibrava de euforia, diante da realidade de presenciar o sonho virando realidade, em curto espaço de tempo.
“O Patrimônio” surgiu no mês de março de 1989, impregnado de idealismo e do desejo de não voltar mais ao anonimato. A festa de lançamento foi totalmente improvisada. De cima de uma camioneta, num dos cantos da praça central e interrompendo uma animada festa dançante, o diretor do jornal, o Prefeito e os Vereadores falaram cerca de meia hora à platéia presente, que acabara de receber a primeira edição do jornal, bastante curiosa e estupefata. Muitos não acreditavam ser verdade que Passa Quatro pudesse ter um veículo de informação sério, disposto a relatar a verdade e apresentar soluções administrativas de maneira clara e inteligente.
Sobre o jornal e seu editor, transcrevemos abaixo o artigo de Joana Aparecida Caixeta, filha de Passa Quatro e moradora de Vianópolis-GO, onde foi primeira-dama, vereadora e professora, publicado na edição de setembro-outubro/89.

“A OUSADIA
Ousamos muitas vezes a penetrar por um mundo desconhecido e surpreendedor..., tão vasto, tão maravilhoso, tão iluminado, tão potente e magnífico - o mundo da nossa intelectualidade.
Bendita ousadia que leva você, Vassil, à coragem de sondar esse universo maravilhoso que ainda dorme, mas que já começa a revirar-se no seu leito, espreguiçar-se, dar uns bocejos, entreabrir as pálpebras, para descobrir já bem cedo, e, daqui a algum tempo, irromper-se num arrojo intelectual de Carlos Drumond de Andrade. E assim como ele surgiu de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, você também surgirá de uma cidadezinha do interior de Goiás - São Miguel do Passa Quatro, que por sinal tem filhos dos quais pode-se orgulhar pelo que são. São filhos como seus pais - Elson e Cotinha e outros -, que ousaram ir além do possível e revelar que dentro de cada um existe uma força maior do que os limites das próprias limitações.
Sou feliz por vocês estarem aí a serviço do nosso povo e a serviço de Deus, numa explosão de forças para cumprir a missão que lhes fora confiada.
Sou feliz por você, meu ex-aluno e pioneiro do jornal “O Patrimônio”, e por toda a sua equipe, porque em vocês se concretizam os meus sonhos, pois eu também sou filha dessa terra maravilhosa.
O meu abraço carinhoso a todos e especialmente a você.
Vps., 5.7.89”

Retratando os objetivos do jornal, o valioso colaborador Leomar de Castro, na primeira edição que circulou em março de 1989, escreveu o seguinte:

“OS PLANTADORES DA CIDADE

Nasceu de mãos que trabalham e acenam com objetivos amigos. Da luta, da fé, da esperança, da persistência de Homens e Deuses.
Numa reconstituição histórica do Passa Quatro, não poderíamos deixar de citar figuras ilustres como: Felipe da Costa, Guilherme Veloso, Francisco Baiança, Adonias do Prado, Moisés Roriz, José Patrício, Francisco Domingos, Alcides Pereira, Érico Meireles (Lico), Joaquim Fernandes, Chiquito, Joaquim Vieira Machado, Antônio Francisco, Aurélio, Galdino Chagas, José João, Zé Calixto, Manoel Luiz, Antônio Ferreira, Emídio Faleiros, José Teófilo, João Gregório, Bilico Carreiro, João Militão, Pocidônio, Joaquim Costa, Sebastião Bino, Horácio Cecílio e muitos outros de relevante importância, homens que já ficaram pelo caminho e hoje são lembrados e reverenciados como mitos. Temos a felicidade de ter ainda entre nós alguns empreendedores como: Jaime Fagundes, Cipriano, Israel da Costa, Sebastião Gonçalves e muitos outros.
‘O PATRIMÔNIO’ tem o propósito de extrair a história minuciosa desses personagens para que a geração atual possa conhecer os pioneiros. No primeiro número, de maneira abrangente, gostaríamos de homenagear e externar nossos agradecimentos a essas pessoas que tanto contribuíram para a concretização dos ideais de dantes, fazendo com que o sonho se tornasse realidade, sem todavia, deixar de ser sonho.
O advento da emancipação trouxe desafios e esperanças. Na ordem natural dos fatos, estamos no prefácio de uma nova história que se iniciou em 1º de janeiro próximo passado com a instalação do Município e a posse do primeiro Prefeito. Os primeiros esboços administrativos estão sendo acatados com satisfação. Não obstante as dificuldades, provindas da falta de infra-estrutura, o nosso Prefeito tem conseguido feitos notáveis, o que deixa a perspectiva de, num futuro bem próximo, sermos um Município desenvolvido, já que possuímos um potencial extraordinário, com a agricultura em célere expansão, a pecuária com grande força e a indústria iniciando seus primeiros passos - estando aí, portanto, os recursos naturais que viabilizam e garantem o crescimento.
Num relato honesto e sem nenhum fisiologismo, enche-me de prazer destacar a preocupação do Prefeito e sua equipe com a educação e cultura, fazendo delas prioridade de governo. A educação, fator de suma importância para um povo, tem merecido tratamento especial. A cultura está recebendo fomentações e incentivos, com a efetivação de uma biblioteca municipal e a promoção de eventos culturais. Estas sábias medidas vêm ao encontro de pressupostos lógicos de que o desenvolvimento de um povo, quer no campo moral, social e econômico depende de uma formação cultural eficiente.
‘O PATRIMÔNIO’, idealizado por sonhadores e contando com a ajuda de colaboradores, visa a contribuir com a construção do Município no sentido de informar, fazer críticas construtivas e propiciar lazer aos leitores. Num breve discorrimento, os anais da história mostram que homens e ferramentas trabalham ardilmente e, depois de sessenta anos de existência e lutas, São Miguel do Passa Quatro é livre, plantado com sonho e suor.”


2. O Projeto Educacional e o Êxodo Rural

            Outro impasse inicial foi que ficamos diante de um dilema, pois de um lado era necessário desenvolver a cidade, que mais parecia ainda um arraial ou vila dos tempos coloniais, sem a fisionomia de uma urbe que merecesse sediar um Município; de outro, tínhamos em mente que haveríamos de administrar um Município pobre, sem estrutura, e com vocação eminentemente rural.
            Assim, se déssemos prioridade ao desenvolvimento urbano, correríamos o risco de ver a cidade inchar de repente, perdendo o Município suas características ruralísticas, com reflexos negativos nas suas reais fontes de riqueza; se priorizássemos o campo, a cidade poderia permanecer indeterminadamente raquítica e sem base para abrigar a estrutura política e administrativa municipal.
            Diante disso, era imperioso e prudente promover  o desenvolvimento integrado da cidade e do campo, na esperança de que o progresso alcançasse o Município como um todo. E foi aí que nasceu a idéia de transportar os alunos da zona rural para a escola da cidade. Aliás, o projeto foi considerado, na época, ousado e pioneiro na região.
            Acreditava-se que era preciso desenvolver a cidade com urgência, porém não sem o cuidado de preservar o homem do campo no seu habitat, onde fora criado e onde aprimorara suas potencialidades e conhecimentos para extrair da terra não só o sustento de sua família, mas também para contribuir de maneira mais satisfatória com a geração de riquezas da qual o novo Município era tão carente.
            Quando alguém da zona rural vinha me pedir lote para construir casa na cidade, normalmente eu o desencorajava, tentando convencê-lo de que a cidade não oferecia emprego e que no campo ele era mais útil para sua família e para o Município. Dizíamos ainda que tudo faríamos para dar escola aos seus filhos e conforto aos seus entes queridos lá no seu pedacinho de terra, sem a preocupação de buscar vida melhor em outros cantos.


3. Planejamento Urbano 

O Plano Diretor

Sentindo a euforia da população com relação à nova realidade, afinal de contas Passa Quatro saíra da condição de povoado inexpressivo de Silvânia para uma vida administrativa inteiramente independente, foi então por nós encomendado um projeto urbanístico da cidade para não permitir que ela crescesse de maneira desordenada, e também para melhor descobrir sua real vocação para o progresso da expansão urbana.
O autor do projeto foi o arquiteto Melchíades Domingos Dias Junior (Shenko), fazendeiro no Município, nas proximidades da cidade, e bastante interessado no crescimento ordenado da área urbana, um profissional sério, que antes de mais nada declarou o seguinte:
“Meu trabalho é voluntário, sem receber nada em troca como pagamento, apenas o carinho, o amor e a receptividade da população.”
Com base nesse trabalho tão bem elaborado, definiu-se o perímetro urbano, as áreas públicas e as particulares para permitir novos loteamentos, bem como a denominação das ruas e praças.
O ponto inicial da planta da cidade é a Praça São Miguel, onde se colocou o busto do Santo Padroeiro, na parte norte, a mais alta do lugar. Olhando dali em direção ao sul, e nas mãos o mapa, percebe-se que a cidade esboça um “S”, o esse de São Miguel. E é ali o tronco onde nascem as outras vias públicas.
Cortando a cidade ao meio, desce a Av. Alcides Pereira de Castro, a mais importante delas, e a Rua Érico Josué Meireles;  ao lado, pela esquerda, a Rua Felipe da Costa e a Av. Graciano José da Silva; do outro lado, ainda em sentido paralelo, a Av. das Palmeiras e a Rua 9 de Janeiro, ambas apenas projetadas, mas que foram abertas em seguida. Na direção leste-oeste se vêem as Ruas Levi Verônica Pinto, que faz ligação pela esquerda com o trevo previsto para a área do futuro clube da cidade, o CRELA - Clube Recreativo e Educacional do Lajeado; a Rua José Patrício de Carvalho, que dá saída para o trevo de Bela Vista, pela direita; logo abaixo a Rua Guilherme Veloso, que corta a cidade desde o trevo de Bela Vista até a Av. Graciano José da Silva, do outro lado; mais embaixo a Rua José Martins de Carvalho; em seguida, a Rua José Calixto de Carvalho; depois, Rua Miguel Gregório de Souza, Rua Horácio Cecílio Ceciliano, Rua Joaquim Fernandes de Oliveira, Rua José Anastácio de Carvalho, Rua Valdivino Abrão de Carvalho, Rua João Pereira de Carvalho, Rua Moisés Teófilo de Lima, Av. Joaquim Vieira Machado e Rua Delcides Verônica. Partindo do trevo de Bela Vista, em sentido norte-sul, projetou-se ainda a Av. do Contorno, a única que não foi aberta.
As praças. Além da Praça São Miguel, já citada, vem a Praça Sebastião Gonçalves da Silva, a mais importante por ser a do centro; a Praça da Bíblia, erigida sobre o antigo cemitério da cidade, reconhecido como primeiro marco da povoação. Ficaram também reservadas no projeto áreas previstas para os seguintes fins: para praça, ao lado do Colégio, à direita; hospital e prefeitura, abaixo do Colégio; para clube, o CRELA, às margens do Córrego das Vacas; esporte, na entrada da cidade, à direita; e rodoviária, próximo ao cemitério em uso. 
Sobre o Plano Diretor, em entrevista concedida ao jornal “O Patrimônio”, respondendo a uma pergunta do repórter, o arquiteto e urbanista Shenko falou sobre o trabalho por ele desenvolvido.

PERGUNTA: - “Depois da emancipação, você engajou na luta pela construção de um município bonito, bem organizado e estruturado. E uma das coisas que você preparou foi o Plano Diretor. O que é e o que ele significa para a cidade?”
RESPOSTA: - “O parcelamento urbano, ou seja, o loteamento do núcleo histórico existente em Passa Quatro, foi desenhado por volta de 1935. Apesar da boa vontade de seu autor, que não era um profissional da engenharia nem da arquitetura, ele conseguiu fazer um parcelamento do solo de acordo com a topografia existente e de acordo com as facilidades que ele encontrou na época. Naquele tempo, praticamente não existiam aparelhos de topografia tão modernos quanto existem hoje, mas conseguiu-se acomodar uma planta urbana em cima de um planalto, em que de um lado e de outro existiam dois fundos de vales, um caracterizado pelo Rio Passa Quatro e outro pelo Córrego das Vacas.
Quando o Elson tomou posse na Prefeitura, ele veio conversar comigo, demonstrando preocupação em fazer um levantamento da planta da cidade, para que pudéssemos fazer algum loteamento, tendo em vista que o Passa Quatro estava inchando, a localidade estava crescendo e não existiam lotes vazios nem casas para alugar. Com esse crescimento, surgiu a necessidade de novos tipos de serviços, especialmente porque as solicitações eram muito grandes e constantes. As pessoas que vinham para Passa Quatro não tinham realmente onde morar. Daí, batendo um papo com o Elson, nós decidimos que, ao invés de fazermos pura e simplesmente um levantamento da cidade, de abrirmos novos loteamentos, nós íamos fazer um Plano Diretor da cidade de São Miguel do Passa Quatro. Por que o Plano Diretor? O que é o Plano Diretor?
Esse Plano Diretor nada mais é que a definição de um sistema viário homogêneo que coloca a cidade à luz do desenvolvimento moderno, caracterizando novas aberturas de ruas, novas avenidas, levando em consideração as suas necessidades.
O ponto de partida foi o reconhecimento do núcleo histórico existente, ou seja, o Passa Quatro desenhado no passado. Esse traçado feito é um pouco acanhado, com ruas estreitas, lotes pequenos, construções feitas sem os afastamentos necessários, o que vinha dificultando um pouco a cidade, o seu direcionamento para um crescimento mais homogêneo, mais organizado.
Então a povoação teve um crescimento totalmente desorganizado no sentido, principalmente, das construções. Esse Plano Diretor, como o próprio nome indica, irá direcionar um crescimento ordenado do núcleo urbano. A nova cidade será composta de grandes eixos viários ditados pela Avenida Perimetral (mais tarde Av. Graciano José da Silva) e também pela Avenida do Contorno, que orienta as entradas e saídas da urbe para os municípios vizinhos. Depois de organizarmos essas entradas e saídas de uma maneira mais eqüânime, mais equilibrada, nós possibilitaremos orientar o crescimento de novos loteamentos que fazem falta à cidade. Porém, esses novos loteamentos que virão, estarão concentrados dentro de um direcionamento da cidade que a Prefeitura propõe através desse Plano Diretor. Quer dizer: tudo que se fizer em termos de loteamento aqui em Passa Quatro deverá ser aprovado pela Prefeitura, fazer parte do Plano Diretor adotado. Ou seja: uma orientação segura e bem caracterizada dentro de tudo aquilo que nós pretendemos para Passa Quatro. Não faremos mais nada de maneira aleatória. O crescimento de agora em diante será dentro de uma ordenação, de acordo com o Plano Diretor.”


4. “Passa Quatro muda de feição”

            No dia 22 de junho de 1990, portanto um ano e meio depois da instalação do Município, o jornalista Eurípedes Martins Lemes, do jornal “Correio do Sudeste”, fez publicar um artigo sobre Passa Quatro, nos seguintes termos:

               “PASSA QUATRO MUDA DE FEIÇÃO

               Agora, quem vai ao recém-emancipado Município de São Miguel do Passa Quatro depara com seu novo visual. É que em apenas um ano e cinco meses o dinamismo do Prefeito, Dr. Elson Gonçalves de Oliveira, mudou extremamente a fisionomia da cidade, com reflexos altamente positivos para a zona rural. Com esse impulso, percebe-se que São Miguel do Passa Quatro cresce a passos agigantados.
               Conforme afirmações do Prefeito, a mudança visível no aspecto da cidade está na execução do seu Plano Diretor, uma das suas principais preocupações assim que assumiu os destinos do Município, facilitando com isto a sua parte organizacional.
               Cercado de muito idealismo, a marca registrada do seu governo, Dr. Elson desenvolveu ali o seu projeto maior: construir o Município que foi o berço da sua infância. Embora sendo um lugar sem vício político, nascido pela garra do seu povo, o seu primeiro ano de governo esbarrou em sérias dificuldades, pelo fato de não possuir a mínima estrutura formada, pois estava nascendo, tendo que montar as engrenagens da sua máquina administrativa em todos os detalhes. Não podia falhar em nada, porque a largada para o progresso estava no sucesso dessa dinâmica. E segundo garante, através do Plano Diretor a cidade está preparada para os próximos 40 anos de crescimento.
               Depois de organizada a estrutura da Prefeitura, entrando em funcionamento acelerado a fase administrativa, foi dada a largada inicial e os ventos sopram para o lado favorável, porque em São Miguel do Passa Quatro já existe a marca do novo. A administração do Dr. Elson foi iniciada voltada para todos os setores, mas ele teve preocupação maior com a educação, primordialmente para o aluno da zona rural que às vezes não continuava seus estudos por falta de condições de locomoção ou incentivo do Poder Público Municipal. A agricultura, o esporte, o lazer, a saúde, o social, a humanização e a urbanização da cidade são objetivos do seu governo. E a instalação de órgãos governamentais, parte integrante da formação estrutural do Município, foi o resultado de um insano trabalho do Prefeito junto ao Governo estadual.”


5. Diagnóstico do Município

Outra preocupação era conhecer detalhadamente o potencial do Município que acabávamos de assumir e cuja responsabilidade de construir foi jogada em nossos ombros.
Logo no início da administração percebi que era imperioso encomendar um estudo mais sério e aprofundado das realidades do novo Município, a fim de se ter uma base sólida, para então sobre ela edificar o município que queríamos, ou, numa frase que se tornou o nosso slogan, para “Construir o Município do futuro”.
Na mesma época estávamos já empenhados em levar a comunidade a participar do Fundo de Desenvolvimento Comunitário - FUNDEC, do Banco do Brasil, cujo programa carecia de planejamento básico. E para viabilizar os dois objetivos que tínhamos em mente, mantivemos contato com a Emater-GO para a elaboração do que se chamou “Diagnóstico do Município de São Miguel do Passa Quatro”.
Os trabalhos ficaram concluídos em abril de 1990 e foram produzidos pelos técnicos da Emater-GO de Silvânia, a saber: Euter Paniago Júnior (Engº Agrônomo); Paulo Ernesto Pereira   (Técnico Agrícola); Manuel Jacob dos Santos      (Técnico Agrícola); Claudia Inês Frota C. Chadud  (Médica Veterinária);
Eis, em alguns tópicos e de maneira resumida, o resultado do tão bem elaborado diagnóstico:

Comunidade. Evolução histórica. Comunidade nascida provavelmente por volta de 1928. Posteriormente o arraial passou de porte médio, e, depois, por força de Lei Estadual, nº 7.175 de 5.11.1968, a Distrito de Silvânia. Em 1988 foi emancipada, tendo o primeiro prefeito assumido em 1º de janeiro de 1989.
            Hoje possui sede municipal e uma população total de 5.850 habitantes.
            Toda a economia do Município está baseada na agricultura, notadamente na de subsistência, e na pecuária extensiva. O comércio é ainda muito limitado.
            Após a emancipação, o Município vive uma fase de euforia, podendo iniciar a discussão do seu próprio desenvolvimento.
            Os moradores mantêm excelente relacionamento e, por isso, realizam freqüentemente ações comunitárias, como mutirões, que são mais exercitados na área rural e entre pequenos agricultores que se reúnem para executar o plantio, colheita ou limpeza de pastagem em ritmo de mutirão ou em troca de serviços.

Situação geográfica e política.         O Município está localizado na Microrregião Sudeste Goiano. Os centros urbanos mais próximos são:
 Bela Vista, distante 40 km, onde são adquiridos bens de consumo, de produção, e obtida assistência médico-hospitalar. Lá são também comercializadas partes dos excedentes da produção local, produtos artesanais e a produção da bacia leiteira do Município.
Cristianópolis, situada a 18 km, é uma cidade de porte pequeno. Assim sendo, o relacionamento com S. M. do Passa Quatro é menos intensivo. Demandam àquela localidade, em busca de serviços básicos e comercialização da produção, principalmente as pessoas residentes nas áreas próximas às divisas do município.
Silvânia, localizada a 50 km, embora mantenha relações históricas com S. M. do Passa Quatro, sua influência está diminuindo com o passar do tempo. O maior relacionamento se dá no setor norte do Município e principalmente entre os sojicultores, que dependem de crédito do Banco do Brasil e comercializam sua produção por intermédio de interpostos situados no município de Silvânia. Registra-se também o acesso de cidadãos passaquatrenses à procura de assistência médico-hospitalar e de serviços cartorários, tendo em vista que as terras do Município ainda estão registradas no cartório de Silvânia.
Vianópolis, situada a 40 km, mantém ainda relativa influência sobre o município de S. M. do Passa Quatro, principalmente sobre a população residente próximo à divisa.

Arrecadação. São Miguel do Passa Quatro apresenta uma arrecadação insuficiente para dotar sua população urbana e rural dos serviços básicos necessários, dependendo de recursos estaduais e federais.

Produção: Apesar de sua localização próxima de três grandes centros consumidores, Goiânia, Brasília e Anápolis, o Município ainda não promoveu mudanças internas, de organização da produção, para explorar convenientemente esse potencial. Precisa superar vários entraves para fomentar um processo de desenvolvimento auto-sustentável, problemas estes que podem ser deduzidos pelos seguintes indicadores:
            1º) Agropecuária tradicional - pecuária leiteira e agricultura de baixa produtividade;
            2º) Infra-estrutura precária - precariedade em armazenagem, transporte, energia, educação, saúde e saneamento;
            3º) Produção de substâncias com o uso inadequado de disponibilidade de terras;
            4º) Crescente migração campo/cidade e da cidade para pólos regionais;
            5º) Sede municipal com características semi-rural e estrutura de comércio e indústria limitados.

Dotação de recursos naturais - Aspectos físicos. O clima é tropical úmido, com temperatura média anual em torno de 21ºC. De maio a outubro são registradas as mais baixas temperaturas, entre 18º e 21ºC, com média mínima de 9º a 13ºC. Os meses mais quentes, de setembro a novembro, registram temperaturas máximas de 36º a 38ºC.
            O índice pluviométrico apresenta precipitação anual em torno de 1.400mm, sendo que 77% está concentrado entre os meses de novembro a março.
            Altitude média: 600-900 metros.
            Área do Município: 547 km2.
            Topografia: 20% de topografia montanhosa, 50% ondulada e 30% plana.
            Solo. Tipo. O tipo predominante é de latossolo vermelho-escuro e vermelho-amarelo, com uma pequena ocorrência de cambissolo e litossolo.
            Solo. Composição. Ph: 5,2; matéria orgânica: 2,09%; fósforo: 1,0 ppm; cálcio + magnésio: 1,29 me/100ml; alumínio: 0,4 me/100ml. Varia de acordo com o tipo de solo. Constatam-se em média baixos níveis de fósforo e níveis médio/alto de potássio; são solos em geral ácidos, com níveis médio/alto de alumínio.
            Solo. Possibilidade de mecanização.  Nas partes planas e onduladas apresenta condições favoráveis à utilização desta prática. As regiões mais acidentadas, em pequena percentagem, apresentam fortes limitações ao uso de máquina agrícola. Em praticamente todas as regiões é necessária a utilização de práticas específicas de controle à erosão.
            Solo. Aptidão agrícola. As condições edafo-climáticas possibilitam o cultivo de inúmeros produtos, entre os quais os hortigranjeiros. Considerando os hábitos da população e a infra-estrutura existente, inclusive de comercialização, predominam soja, arroz, mandioca e milho e pastagem.
Atividade agrícola. O Município apresenta regiões com características distintas no que se refere à ocupação do espaço e desenvolvimento das atividades agrícolas. No norte do Município predomina a cultura de soja, em uma região de chapada com grande utilização de tecnologia, onde se verifica a predominância de grandes propriedades. Contudo, no restante do Município ainda predomina a agricultura tradicional, sem uma exploração racional dos recursos naturais, notadamente nas pequenas propriedades, onde se verificam atividades econômicas com baixa incorporação de tecnologia.
            Elementos climáticos e a atividade agrícola. A ocorrência de um período de seca bem definido, com as chuvas distribuídas em alguns meses do ano, bem como a predominância de vegetação típica de cerrado, condicionam as atividades agrícolas, com reflexos na produção. A utilização racional das glebas de maior potencial dentro das propriedades é limitada pelo custo de insumos e utilização de equipamentos. Principalmente nas regiões de predominância de pequenas propriedades, o padrão de uso atual de terra e a baixa produtividade do setor agropecuário estão intimamente correlacionados a uma tecnologia rudimentar.
            Potencialidade. Embora tenha regiões com características distintas, o Município de São Miguel do Passa Quatro, mesmo em regiões mais carentes, apresenta grande potencial para a implantação de projetos calcados no adequado aproveitamento de seus recursos naturais, a saber: expansão da área cultivada de arroz, feijão e milho; diversificação produtiva com exploração de outras opções agronômicas adaptadas às características edafo-climáticas do Município e elevação da produtividade das lavouras existentes (arroz, milho, feijão e mandioca) e da pecuária leiteira, cujas mudanças tecnológicas requerem adequações simples, de fácil adoção pelos produtores.
Aspectos demográficos. Total de habitantes do núcleo urbano: 2.250; rural: 3.600; do Município: 5.850.

Distribuição da população:
Idade                          masc.             fem.          cidade         campo
Até 6 anos                   320               430              350              400
Entre 7 e 14 anos        400               500              400             500
Entre 15 e 21 anos      550               450              400              600
Entre 22 e 50 anos   1.300             1.000            800            1.500
Superior a 50 anos     500                  400            300               600
Total                        3.070             2.780          2.250          3.600

Grau de instrução:
Grupo etário   analfabeto       1º grau                                    2º grau 
comp.   incomp.   comp.   incomp.
Entre 14/35 anos        360      1.280       570        632          152
+ de 35 anos              555           854        854     178           415
                       
Ocupação principal: agricultura, pecuária e comércio.
Renda média mensal: 1 (um) salário mínimo.
Migração. Não se registra elevado índice. Ocorre, no entanto, que parte dos jovens que buscam ensino de segundo grau nas cidades vizinhas não retorna a São Miguel do Passa Quatro, passando a trabalhar e residir em outras localidades. Entre as principais causas incluem-se a falta de oportunidade de emprego com remuneração compensatória e a ausência de determinados serviços básicos.

Estrutura produtiva: agricultura e pecuária.
Produto           Área cultivada            Produtividade     Vol. Produz.
Arroz                  500 ha                         840kg/ha                 420 ton.
Feijão                    50 ha                         400kg/ha                   20 ton.
Mandioca              56 ha                      8.000kg/ha                 448 ton.
Milho                  960 ha                         540kg/ha                 518 ton.
Soja                 7.260 ha                      1.800kg/ha                 130 ton. 

Especificação  Cabeças          Prod. anual    Unidade           Quantidade
Bovino/corte     5.000               2.500           arrobas              17.500
Bovino/leite    20.000                        10.000             litros/leite        105.600
Ovinos                            500                 500              arrobas                            1.500
Caprinos             300                 300              arrobas                               600
Suínos             1.000              1.000               arrobas                           7.000
                                                                      
Estrutura fundiária. O Município compreende uma área de 50.617,63 hectares, ocupada por 351 estabelecimentos agropecuários, sendo que 38% dos imóveis se situam em áreas inferiores a 50 hectares, correspondentes a apenas 6,05%. Já os estabelecimentos superiores a 200 hectares correspondem a 21% das unidades agropecuárias, perfazendo 64% da totalidade do Município.
            Os produtores localizados em áreas de 10 a 50 hectares cultivam sobretudo arroz, milho, feijão e mandioca. A pecuária neste extrato identifica-se pela presença de pequenos animais (suínos e aves) e algumas vacas. E é aqui que se verifica o mais baixo nível de exploração, sendo, em média, utilizadas menos de 12% das áreas disponíveis por estabelecimentos agropecuários. Produtores em estabelecimentos acima de  50 hectares apresentam um melhor índice de exploração agrícola. Neste extrato se constata a intensificação de pecuária leiteira. Na região norte predomina a exploração da cultura de soja, com produtividade satisfatória.

            Os produtores estão assim distribuídos: os miniprodutores são em número de 134 e correspondem a 38% da classe; os pequenos produtores são 198 e representam 56%; os médios produtores são 20 e representam 6%.


                                                      Capítulo IV


                 A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
                        ATIVIDADES URBANAS



1. A construção das Praças

            Já dentro das linhas traçadas pelo Plano Diretor da cidade, foram construídas três praças: a de São Miguel, a da Bíblia e a Praça Sebastião Gonçalves da Silva. Os serviços de arquitetura desta última foram do Dr. Shenko, e os de ajardinamento de todas elas ficaram a cargo do saudoso paisagista Robinho Martins de Azevedo.
            A Praça São Miguel é a que abriga o busto do Santo Padroeiro da cidade, na parte norte, de onde se tem uma visão panorâmica de quase todo o ordenamento urbano. É onde nasce a cidade. Ali foram plantadas: - Forrações: rabo de gato, grama amendoim, piriquito, petúnia e orelha de lebre; Palmeiras: fênix, latânia, cariota urens, cariota mitis e palmeira imperial; Arbustos: malpigia, bouganvília e camarão.
            A Praça da Bíblia foi edificada no terreno que serviu de jazigo para as famílias pioneiras da região, as reais plantadoras das raízes passaquatrenses. Foi lá, a partir do Cemitério Velho, cuja construção fora autorizada no ano de 1923 pela Paróquia de Bonfim, que nasceu a povoação. E a intenção era não só de preservar o local como patrimônio histórico para as novas gerações, mas também proporcionar aos descendentes dos pioneiros e pioneiras ali sepultados, momentos de meditação e orgulho.
            O cemitério estava desativado há mais ou menos 30 anos. E no meio da praça foi também projetado e erigido um monumento em homenagem póstuma aos pioneiros ali sepultados e que servirá de ponto de reflexão.
            Foram plantadas na Praça da Bíblia: latânea, bulbié lilás, grama amendoim e comum, rucélia, cana da India, piriquitos vermelhos e amarelos, cariota mitis (palmeiras) e ciaphortia (palmeira).
            A respeito da construção da Praça da Bíblia, o Dr. Shenko fez a seguinte consideração:
            “O Prefeito, num grande momento de inspiração, bolou essa praça para aquele local em respeito a toda família de Passa Quatro que tem ali os seus antepassados enterrados e que não poderia deixar de fazer dali um local de contemplação; uma praça com bastante verde, onde as pessoas pudessem ter os seus grandes momentos de concentração espiritual.”
            A Praça Sebastião Gonçalves da Silva - O projeto da praça central, praça esta denominada antes de Praça São Miguel para depois ser substituída pelo nome de  “Praça Sebastião Gonçalves da Silva”, previa a construção dos canteiros com flores e ajardinamento, bem como o erguimento de um coreto traçado em linhas modernas, mas que lembrassem o antigo coreto que existia ao lado da Capela; previa ainda a preservação do cruzeiro, outro marco indelével da cidade, a colocação de bancos e uma passarela nos contornos.
            Porém a execução do projeto esbarrava em outra exigência arquitetônica: a substituição de grande parte das árvores ali existentes, o que deveria ser feito sem esquecer de preservar as características históricas. Segundo os especialistas, a troca das árvores se fazia necessária em face da idade de cada uma, mais ou menos trinta anos, portanto já no final do seu ciclo de vida natural. Algumas até já apresentavam sinais de apodrecimento.
            Era muito difícil demolir aquelas árvores frondosas, que contavam um pouco da história de Passa Quatro e que meu pai havia ajudado a plantar e a preservar com muito carinho. Todavia era preciso. Mas não sem antes esclarecer e consultar a população a respeito.
            Fez-se então um plebiscito. A votação para saber  a opinião dos passaquatrenses sobre a substituição ou não das árvores da praça foi organizada e conduzida de ponta a ponta pelos alunos do Colégio: Denise, José Romer, Waber, Waldirene, Vonim, Sebastião Heli, Divina, Aparecida Páscoa, Coldeci e Águida. No dia 27 de abril de 1990, na presença do Prefeito, Vereadores, do Diretor do Colégio, de professores e alunos,  as urnas foram abertas na quadra de esportes do Colégio local. O resultado da votação foi o seguinte: 516 votos “sim”, 127 votos “não”, 6 nulos e 4 brancos.
            A Praça Sebastião Gonçalves da Silva, que logo passou a ser o cartão postal da cidade, até hoje enchendo de admiração as pessoas que por ali transitam, recebeu do competente paisagista Robinho as seguintes plantas: plumbago, camarão, cipreste, latânea (palmeira), areca bambu, cinerária, hibisco, penta, bulbine lilás (alho), rabo de gato, grama amendoim, grama comum, rucélia (brinco de princesa) e phicus (árvores).
            Sobre a Praça Sebastião Gonçalves da Silva, em março de 1991 escreveu o jovem sonhador e jornalista Vassil José de Oliveira:

               “A PRAÇA, ESSA HISTÓRIA

Até há pouco, quem vinha a São Miguel do Passa Quatro vinha para visitar a família, rever um ou outro amigo, ou mesmo para conhecer esta cidade de nome estranho e curioso. Hoje não. Quem vem a Passa Quatro vem também para conhecer a praça: a Praça do ‘lacerdinha’, retangular, cheia de árvores, uma sombra sem tamanho, bonita e eriçada.
O coreto é imponente. Leva a cidade lá para aqueles antigos anos em que ele ficava de frente para a praça e não dentro dela. Ficava ao lado da igreja. E foi ali que um dia deram pinga para o sino, fingiram-se de soldados e fizeram um tonto permanecer horas em posição de sentido, depois roubaram galinha para fazer farofa. Como diz o nosso Ivam Gonçalves, ‘Passa Quatro é uma cidade cheia de meninos traquinas...’
E a praça. Plantaram tantas qualidades diferentes de grama nela e muitas roseiras, fizeram uma passarela de dez metros bem no meio dela e hoje é ali que param de vez em quando os namorados. Pra conversar, porque para beijar é melhor entre uma volta e outra pela calçada, que o bom mesmo é ficar rodeando a praça com o ‘broto’, com a galera rindo ou sussurrando.
O cruzeiro está lá. Enorme cruz lavrada, renovada, de frente para a Matriz. Fizeram até um pedestal para ela. Mas a praça não é só beleza, é gente. Muita gente. Pois não é nem um nem dois que ficam ali debaixo das árvores todo ‘sinsenhor’ da vida, fazendo um pito, pitando uma palha, batendo um papo, descansando o lombo e a mente.
Já levaram dama pra lá. Já jogaram truco por lá. Já até fizeram comício por lá. A nossa praça já foi cama para os boêmios, já foi ouvido para seresteiros, já foi palco para barraqueiros de festas e nossa praça está viva.
A praça então é tudo. É o cartão-postal, a beleza natural, a curiosidade, o lado pitoresco, a marca registrada, o cenário da vida passaquatrense, os olhos de quem foi daqui e de quem ficou para contar a nova história. Quisera eu ter estado vivo desde os passados de meu pai e aprontar tudo que ele e seus companheiros aprontaram.
Só quem conhece Passa Quatro e já passou um dia debaixo das árvores da praça, ou só quem tem o prazer de olhar hoje para a nova beleza colorida e florida e gramada e cuidada da praça é que entende uma alma passaquatrense. Ora, a praça é simples mas nós somos simples. E a praça carrega consigo um tempo antigo de coisas deliciosas que se voltam para o futuro.
Eu imagino o Senito voltando a Passa Quatro e dando de cara com a nova cara da cidade onde ele foi pai, irmão e amigo de todo mundo. Certamente Senito ia dizer que a praça ressuscitou e a vida está aí de volta ao lar. Não por ter ido embora, mas porque ele viu tudo diferente, pois tinha partido e descobriu que não poderá sair mais da praça. Como tantos outros passaquatrenses, Senito faz parte da história dessa praça que não sabe o que contar primeiro.”


2. Abertura das ruas. Indenizações

            A cidade que me foi dada para administrar não tinha timbre de cidade, não era uma cidade ainda. Tratava-se de um povoado de 190 casas construídas sobre uma área de terras pertencentes à Igreja e com os traçados urbanísticos desenhados em 1939 por Guilherme Veloso. Não havia loteamentos nem espaço para a expansão urbana, talvez pela falta de demanda nesse sentido. Naquela época ninguém em sã consciência arriscaria investir capital na construção de casa em Passa Quatro, porque as casas ali tinham valor irrisório.
            Era preciso mudar a mentalidade das pessoas acerca da cidade que nascia, mas ao mesmo tempo era prudente proteger a povoação de um possível inchamento urbano irregular. Daí por que se concebeu o Plano Diretor da cidade.
Por outro lado, com a emancipação ficava mais fácil despertar o interesse dos habitantes pelo lugar. E algumas medidas de impacto se faziam necessárias e urgentes naquelas alturas dos acontecimentos. Assim, enquanto se desenvolviam os trabalhos de elaboração do Plano Diretor, começamos a contactar alguns proprietários visando à abertura de ruas e avenidas.
Nesse sentido, havia duas direções para a efetiva abertura dos logradouros públicos: a força da desapropriação ou a sensatez da negociação. Preferimos a última alternativa. E conversando amigavelmente com as pessoas, conseguimos abrir quase todas as ruas e avenidas que nos pareciam indispensáveis para o projeto de expansão urbana. Tudo se fez sem traumas nem inimizades e sem a necessidade de recorrer aos meios judiciais.
A Rua Miguel Gregório de Souza, por exemplo, era interrompida por uma casa construída no seu leito, pertencente a Olinda Marçal. Providenciamos sua demolição e a abertura da rua e, em troca, edificamos outra igual para a proprietária.
A Rua José Martins de Carvalho, a Rua José Calixto de Carvalho, a Rua Horácio Cecílio Ceciliano, a Rua José Anastácio de Carvalho e a Rua João Pereira de Carvalho foram todas abertas e os respectivos  donos das terras indenizados, para fazer ligação com a Av. das Palmeiras.
Concluído o Plano Diretor, era urgente corrigir um dos grandes defeitos da cidadezinha que apresentava apenas a Av. Alcides Pereira de Castro como meio de acesso à povoação. Inclusive por ocasião dos festejos cívicos, em que havia desfile tomando todo o leito da rua, o tráfego ficava paralisado por falta de outra opção de trânsito. Por isso, inicialmente abrimos a Av. das Palmeiras, inaugurando uma nova mostragem urbanística, bastante moderna e condizente com a época atual. Para esse feito indenizamos os seguintes proprietários dos terrenos: João do Otacílio, Olaércio de Carvalho, José Martins de Carvalho, Manoel Tobias da Silva, Cloves Cotrim e  Florípio José Elias.
Pelo outro lado, em sentido paralelo, providenciamos a abertura da Av. Graciano José da Silva, pelo que negociamos as devidas indenizações a Abdom Rodrigues Pereira e a Olaércio de Carvalho. Abrimos ainda a rua Levi Verônica Pinto, não sem antes indenizar o dono do imóvel, Abdom Rodrigues Pereira.
Ao todo, para a abertura da Av. das Palmeiras e outras vias públicas, foram indenizados aproximadamente 20.000 metros quadrados de área urbana.


3. Água tratada

            Desde que me entendi por gente, de calças curtas e de pés no chão pelas ruas de Passa Quatro, via que a maior dificuldade da população era com a água. Mesmo banhada de um lado pelo ribeirão Passa Quatro, e de outro, pelo córrego das Vacas, ambos com água em abundância, a povoação se ressentia de um serviço de abastecimento à altura de sua gente. Até então o precioso líquido vinha das cisternas cavadas nos quintais das casas, onde eram feitas também, ali por perto, as fossas que serviam as residências, fato que comprometia a saúde dos moradores.
            Pensando seriamente em resolver o quanto antes o problema, fomos ao presidente do Saneamento do Estado, Saneago, e expusemos as nossas dificuldades, esclarecendo que o povo de Passa Quatro, por não contar ainda com os benefícios da água tratada, recorria aos métodos ultrapassados das cisternas que eram quase sempre contaminadas pelas privadas dos quintais. E diante da nossa insistência, o Dr. Marcos de Almeida acabou canalizando os recursos necessários para a viabilização da empreitada.
            E foi assim que em agosto de 1990, depois de muita luta e espera, a população de Passa Quatro passou a beber e a usar comodamente água tratada.


4. O Posto do BEG

            Desde antes sabíamos do grande desafio que seria estruturar, modelar e efetivamente construir um Município recém-criado, especialmente o nosso que eu conhecia muito bem e sabia de cor as suas carências e deficiências.
            Estávamos iniciando uma trajetória de muita luta e de muito sacrifício. Tínhamos também a consciência de que o futuro do Município dependia especificamente do sucesso da primeira administração, onde deveríamos plantar o alicerce ou a semente do futuro.
            Porém não nos preocupavam muito as obras materiais. Nossa atenção voltava-se mais para a melhoria do nível de vida da nossa população. E um fato que nos chamava a atenção era ver os nossos aposentados terem que se deslocar para outras cidades vizinhas, para receber sua aposentadoria.
            Sentia que era preciso dotar o povo de um maior conforto, de uma melhor condição de vida. E por outro lado, a vida econômica do Município já estava em franca atividade, com o comércio, a agricultura e a pecuária leiteira em expansão. E havia ainda a questão dos recursos municipais que de uma certa forma já justificavam a exigência de um estabelecimento bancário no local.
            E diante de nossa modesta argumentação, contando também com a receptividade do Dr. Castro, um dos Diretores mais receptivos do BEG, no dia 27 de julho de 1989 inauguramos um Posto do Banco do Estado de Goiás S/A que, na época, representou um acontecimento de vulto para a economia municipal nascente.


5. Os mutirões

            Passada a euforia da eleição e das solenidades de posse, víamos que se quiséssemos ter sucesso na obra de edificação do novo Município era necessário esquecer todas as picuinhas político-partidárias e reunir o povo em torno de um só objetivo: “Construir o Município do futuro.”
            Para isso, tomamos a iniciativa de promover a aproximação principalmente com as pessoas que nos fizeram oposição. Estendemos a mão a todos e mostramos que o interesse do Município estava acima de qualquer divergência política.
            Nesse sentido, várias foram as experiências que vivemos. Uma das mais expressivas foi a construção de cinco casas para pessoas carentes, no dia 11 de maio de 1989, no loteamento “Guarujá”. Para surpresa nossa, das 7h às 8h apareceram cerca de 200 pessoas para o desempenho da tarefa. Lideradas pela Primeira-Dama do Município, Dona Cotinha, foram erguidas casas simples de quatro compartimentos, com 32 metros quadrados de área cada uma, tendo consumido 10.000 tijolos e muitas telhas “brasilit”, num mutirão que mobilizou não só a população da cidade, mas de todos os cantos do Município.
            Mais do que o erguimento das casas, o mutirão valeu a pena notadamente pela construção da unidade das pessoas do lugar, numa constatação claríssima de que povo unido é povo forte e invencível.
            Na solenidade da entrega das casas e outras obras, aliás, as primeiras do novo Município, em 27 de julho de 1989, permanecíamos atentos às palavras do Deputado João Natal, que para nós eram de vital importância, especialmente pelo respeito e pelo reconhecimento de tudo que ele havia feito por Passa Quatro. De sua boca deveria sair a aprovação ou a reprovação pública da administração que estávamos empreendendo.
            Ao se referir às casas populares do mutirão,  disse ter sentido nelas “algo mais do que as paredes e as telhas que dão forma àquela habitação simples”. “Eu senti ali” - afirmou - “um atestado eloqüente de que nada deterá a nossa caminhada; que nada impedirá que São Miguel caminhe para a frente e para o alto, buscando um futuro melhor para os seus filhos e para nossa gente.”
            Outra experiência de mutirão aconteceu logo que assumimos a Prefeitura, com a área urbana repleta de lixo, muito capim, vassoura curraleira e entulhos. Convidamos a população para pegar na enxada conosco e o povo atendeu ao nosso apelo. Parecia uma festa! De fato foi mesmo uma festa, uma festa de solidariedade, de dedicação e de civismo. Diversas Prefeituras, como as de Santa Cruz de Goiás, Palmelo e Leopoldo de Bulhões, mandaram caminhões basculantes para ajudar na coleta do lixo.
            O certo é que de repente a cidadezinha ganhou outro visual. O povo começou a ficar mais animado e logo se podia sentir uma pontinha de orgulho pela cidade, no semblante e mesmo nas colocações de cada habitante.


6. A reforma do cemitério da cidade

            Chamava muito a nossa atenção a situação de abandono do cemitério. Não o antigo, hoje Praça da Bíblia, mas o que estava em uso. Muito sujo, túmulos derrubados por animais que ali entravam, muros caídos, portão sem tranca e assim por diante.
            Por isso uma das primeiras iniciativas nossas foi destacar alguém da Prefeitura para ser o responsável pela preservação daquele campo santo.
            E imediatamente desenvolvemos a obra de restauração, promovendo a limpeza geral do terreno e dos túmulos, fizemos passarelas de cimento, reformamos os muros e demos-lhes pintura e reconstruímos a Capelinha. De sorte que as pessoas do lugar e as que vinham de fora já denotavam satisfação de poderem visitar seus entes queridos ali sepultados.


7. A reforma do prédio e da estrutura da Igreja local

            Quando assumimos a chefia do Executivo, com todos aqueles desafios e propósitos de dotar o Município de uma estrutura sólida, tanto no campo físico quanto na área do contingente humano, outra prioridade que elegemos foi a reforma do prédio da Igreja e da estrutura básica de seu funcionamento.
            Recordo-me de um fato interessante: até então, quase todos os casamentos religiosos eram realizados em igrejas das cidades vizinhas, porque a rejeição das noivas à igreja local era bastante grande. Alegavam que ela era muito feia, mal-acabada, os bancos eram velhos, quebrados e tortos. Por isso aquele prédio não comportava uma solenidade digna de uma noiva que se veste de branco, que sonha com uma entrada nupcial de gala e que quer fazer-se acompanhar de uma dúzia de padrinhos e madrinhas.
            Era o orgulho ferido de uma população que na sua quase totalidade professava o catolicismo, mas que carecia de uma liderança e um acompanhamento espiritual.
            Fomos ao trabalho. Trocamos a porta de entrada, os vitrôs e as portas laterais, substituindo-os por outros similares bem mais modernos. Aplicamos uma pintura geral e adquirimos bancos novinhos e bem acabados, assim como uma proteção de madeira na entrada, a pedido do Pe. Pedro, vigário de Silvânia.
            As despesas com esses empreendimentos foram rateadas da seguinte maneira: metade distribuída com os comerciantes e os fazendeiros de maior influência; a outra metade com os funcionários da Prefeitura, incluindo-se o Prefeito. E assim, no primeiro pagamento que a municipalidade fez aos seus servidores, em março de 1989, mas referente a janeiro/89, foi descontado o percentual de 30% no salário de cada um, após a concordância de todos.
            Subido esse degrau, os casamentos e os batizados passaram a ser celebrados na igreja local sem constrangimento algum. Mas não era o suficiente para nossas aspirações. Continuamos então a sonhar mais alto. Já estávamos no segundo ano da administração e as bases mestras da estruturação municipal pareciam consolidadas: máquina administrativa montada, o projeto educacional em ascensão, a saúde regularmente cuidada, o social bem atendido, a cidade planejada, a zona rural com programa de atendimento já delineado e em execução...
            Porém, como católicos praticantes que sempre fomos, sentíamos que alguma coisa estava faltando: era o desenvolvimento da parte religiosa, vez que não havia por parte da Igreja Paroquial de Silvânia nem mesmo da Igreja Diocesana de Goiânia nenhum projeto em execução nesse sentido. Apenas o esforço gigante dos padres João, Antonio, Lancísio e Pedro Celestino que, não obstante as limitações de distância, comunicação precária e dificuldade de meio de transporte, prestaram relevantes serviços a Passa Quatro nessa área.
            Decidimos, eu e minha esposa, falar com o Arcebispo. Em audiência respeitosa, colocamos ao representante da Arquidiocese que o que era de nossa alçada, com relação à estruturação do Município, já estava com seus alicerces plantados. Contudo, faltava o aprimoramento catequético-religioso da população, que naquele momento estávamos entregando à responsabilidade do Bispo. Dissemos também que Passa Quatro nasceu sob o signo do cristianismo, especialmente do catolicismo, e desejávamos que o nosso povo continuasse recebendo essa mesma formação espiritual.
            Lembramos Sua Excelência do antigo projeto entregue ao Pe. Lancísio, de criação da Paróquia de São Miguel, abrangendo S. M. do Passa Quatro e Cristianópolis, que foi sepultado com a morte prematura daquele piedoso e diligente sacerdote.
            A resposta que obtivemos foi a de que em Passa Quatro não havia casa paroquial para abrigar a residência de um padre. E foi aí que respondemos, com o coração cheio de fé e de esperança, que se o problema era aquele, poderia ele preparar o padre pois dentro de três meses conseguiríamos levantar a reclamada casa paroquial.
            Regressando, entramos imediatamente em contato com a Comissão da Igreja, responsável pela sua administração, liderada pelo Braz Osório da Costa e pelo João Mateus. E num esforço comum da Prefeitura, Comissão da Igreja e Povo, no final do prazo marcado a construção estava pronta.
            Voltamos ao Sr. Arcebispo para marcar a data da entrega das chaves. Ele ficou espantado, surpreso, mas feliz. Pediu-nos dez dias de prazo para apresentar-nos o vigário, alegando que estava muito difícil a disponibilidade de padres.
            Escoado aquele prazo, fomos por ele chamados a Goiânia. Naquela oportunidade o Pastor Diocesano ponderou que não havia conseguido o padre que reivindicávamos, contudo estavam à disposição de nossa comunidade “umas freiras que pareciam muito caridosas, com experiência catequética no Norte, e certamente iriam desenvolver um trabalho muito bom em Passa Quatro”. Adiantou-nos ainda que devido ao limitado número de sacerdotes na Diocese, gostaria de fazer uma experiência-piloto que, se desse certo, poderia resolver pelo menos em parte esse “problema tão angustiante”.
            Apenas reiteramos, não muito conformados, que a responsabilidade pela formação religiosa dos fiéis do novo Município era dele. E fomos embora, um tanto ressabiados, diante da informação da linha de trabalho das religiosas que logo passaríamos a conhecer, pois temíamos que a catequese se direcionasse para os rumos da incitação agressiva e radical dos movimentos sindicalistas de esquerda.
            No entanto recebemos as religiosas enviadas pelo Bispo e procuramos cercá-las do apoio de que eram merecedoras. Acharam elas por bem deixar a casa paroquial e construir seu próprio canto, no que nos dispusemos a viabilizar-lhes a escritura do terreno, mexendo na lei que delimitava o perímetro urbano da cidade, para declarar oficialmente área urbana o local do pequeno imóvel rural que adquiriram para aquele fim. Terminada a construção da casa, na qual a Prefeitura teve participação, fizemos várias tentativas até conseguir com o então Governador do Estado a autorização para a instalação de energia elétrica na propriedade, com o fim especial de assegurar-lhes maior conforto e comodidade.
           

8. CRELA. O sonho e a realidade

            Desde o seu início a nossa administração procurou incentivar e investir na educação, inclusive com programa arrojado e pioneiro de transporte diário de estudantes do campo para a cidade. Isto acabou provocando um fluxo muito grande de jovens e adolescentes não só no Colégio, mas também na pequena cidade.
            Diante dessa constante movimentação, sentimos a necessidade de darmos maior amplitude ao projeto educacional, direcionando nossas atenções   para o esporte e o lazer como fontes excepcionais de congregação dos povos e, no caso específico, da juventude.                                      
Por outro lado, na condição de passaquatrense que outrora se viu obrigado a sair de sua terra em busca de estudo e trabalho lá fora, mas que nunca deixou de alimentar o amor e a estima pelo seu lugar de origem e por sua gente, eu tinha um sonho: fazer uma obra que pudesse chamar a atenção e trazer de volta os passaquatrenses que residiam em lugares diversos, mas que tinham ali fincadas suas raízes. Passava pela nossa cabeça que um clube para os lazeres de finais de semana poderia ser esse chamariz.
            Criamos então o Clube Recreativo e Educacional do Lajeado - CRELA. Para assentá-lo a Prefeitura adquiriu, por compra a Olaércio de Carvalho, 22 litros de terreno no Lajeado, à margem direita do córrego das Vacas, mas no perímetro urbano, onde seria construída sede própria com clube dançante, salão de jogos, quadra de esportes, campo de areia, gramado soçaite, piscina de água corrente e lanchonete.
            O sonho do CRELA infelizmente não chegou a virar realidade. Porém, a semente foi jogada e conseguimos alguns avanços. Um deles foi a planta da sede do clube, muito bem elaborada e depois doada à Prefeitura pela arquiteta Dra. Ângela Fernandes de Oliveira que, juntamente com seu marido Dr. Jaeme, eram fazendeiros no Município, na região do Capim Puba.
            Estava prevista ainda a construção de uma quadra de esportes polivalente. E no final do nosso mandato deixamos a quadra já na fase de acabamento.
            Uma comissão destinada à implantação e administração do CRELA chegou a ser criada através do Decreto Municipal nº 019, de 19 de junho de 1989, em que era presidente Manoel Inácio Canedo e secretário Leomar José de Castro. A referida comissão tinha poderes para elaborar o regimento interno do clube, promover festas, eventos esportivos e praticar os demais atos necessários à boa administração.


9. A sede da Prefeitura e da Câmara Municipal. A avaliação de dois anos de administração

            Concluídos os dois primeiros anos de uma administração que começou do nada, em 20 de fevereiro de 1991 a Prefeitura passou a funcionar em sede própria, na Praça Sebastião Gonçalves da Silva, nº 697. Pudemos então entregar à população um prédio moderno, construído com recursos próprios, localizado bem no centro da cidade. No ano seguinte foi a vez da Câmara Municipal que passou a ter funcionamento em local adequado, com compartimentos próprios, plenário para as discussões parlamentares, tudo com instalações modernas e bem trabalhadas.
            Recordo-me que por ocasião da inauguração da sede municipal concedi uma entrevista ao jornal “O Patrimônio” nos seguintes termos:

               PERGUNTA: “Como está hoje financeira e administrativamente São Miguel do Passa Quatro?”
               RESPOSTA: “Administrativamente o Município já está montado. Todos os órgãos já estão funcionando de maneira satisfatória e a cidade está bem servida. Grande parte daquilo que uma comunidade necessita já é feito aqui mesmo em Passa Quatro.
               Financeiramente estamos saindo de uma crise muito forte, uma recessão violenta, e entrando agora numa fase muito importante, que é uma fase mais amadurecida, após momentos de dificuldades, quando tivemos de paralisar nossas atividades durante três meses seguidos. Agora quitamos os débitos provenientes da aquisição da patrol e da pá-mecânica e estamos retomando o caminho das obras.”
              
PERGUNTA: “Qual a importância de uma sede própria para funcionamento da Prefeitura?”
               RESPOSTA: “Acho que é o atestado de autonomia, de independência do Município. Acho ainda que foi a prova de fogo, porque há dois anos atrás, quando assumimos o Município, não tínhamos lugar para instalar os órgãos municipais. Não possuíamos uma vassoura para começar a limpeza da cidade, nem uma enxada... Não tínhamos absolutamente nada, a não ser coragem e ousadia. Agora, depois de dois anos de luta, estamos inaugurando a sede própria da prefeitura. Isso significa  que o Município realmente já está consolidado. Isso para mim é a coisa mais importante.
               Eu achava que durante o meu mandato, nos quatro anos que estivesse à frente do Município, se conseguisse consolidar a emancipação de São Miguel do Passa Quatro eu me daria por contente, pois considerava estar cumprida minha missão. Agora vemos com satisfação que tudo que imaginei fazer em quatro anos fizemos em dois. Por isso é que vejo um futuro muito promissor, porque temos ainda dois anos de administração pela frente, já com o Município consolidado e os funcionários devidamente treinados e amadurecidos.
               É importante salientar que quando começamos nossa administração não trouxemos nenhum funcionário de fora. Servimo-nos dos préstimos dos jovens aqui do lugar, de bons antecedentes e que tinham terminado o segundo grau. Porém uma meninada, pode-se dizer. Foram rapazes e moças de 18 e 19 anos. E foi com esse pessoal que durante esses dois anos formamos uma equipe de trabalho de qualidade. Demos formação técnica e profissional a todos eles. Hoje a equipe está realmente madura. Os funcionários da Prefeitura, mesmo o pessoal da externa, são elogiados pela população. Há pouco tempo as pessoas chegavam a rir pelas ruas dos pedreiros da prefeitura, dizendo que eles não sabiam trabalhar. Agora, depois de pronto o prédio da Prefeitura, a cidade está boquiaberta de ver a qualidade técnica empregada naquela obra. É sinal de que nossa equipe realmente está pronta. É, portanto, um Município que está apto a começar a construir seu verdadeiro progresso.”
              
               PERGUNTA: “Algo muito notado por quem tem vindo a SMPQ, principalmente pela primeira vez, é quanto à limpeza da cidade...”
               RESPOSTA: “Interessante que foi uma promessa de campanha, quando afirmamos que a cidade era muito pequena e em pouco tempo queríamos fazer dela uma ‘tetéia’. E nós temos investido muito no seu embelezamento, na limpeza pública, abrimos várias ruas e avenidas e estamos investindo na ampliação da zona urbana, abrindo espaço para que as pessoas possam construir. Fizemos uma promoção, dando material para a pintura das casas, construímos passeios na praça central e na rua principal, tudo para mudar o visual urbanístico. Depois que nós entramos, em dois anos foram construídas cem novas casas. Olhe que foram vinte anos sem que tivessem sido construídas dez casas. Este é um fato bastante notável.”


10. Obras realizadas na cidade

            Em resumo, foram realizadas na cidade as seguintes obras:
  • Planejamento urbano: serviço de topografia, arquitetura e mapeamento;
  • Aprovação do Plano Diretor urbano, em dezembro de 1989;
  • Delimitação do perímetro urbano e denominação dos logradouros públicos;
  • Abertura, mediante negociação e indenização, da Av. das Palmeiras, de 27 metros de largura por 1.390 metros de extensão; da rua Levi Verônica Pinto, de 14 metros de largura por 210 metros de extensão; da Av. Perimetral, posteriormente Av. Graciano José da Silva, de 15 metros de largura por 700 metros de extensão; de trechos das ruas José Martins de Carvalho, José Calixto de Carvalho, Miguel Gregório de Souza, Horácio Cecílio Ceciliano, José Anastácio de Carvalho e José Pereira de Carvalho, de 12 metros de largura, cada uma, e 382 metros de extensão, ao todo;
  • Abertura das vias públicas do loteamento “Guarujá” e aquisição de 14 lotes no mesmo loteamento, para construção de casas populares para carentes, e mais a área pública ao lado do cemitério;
  • Construção das 14 residências para pessoas carentes, no loteamento “Guarujá”;
  • Aquisição de bem imóvel para sediar os Poderes Executivo e Legislativo; construção da sede própria da Prefeitura e da Câmara;
  • Construção e ajardinamento da Praça Sebastião Gonçalves da Silva, da Praça da Bíblia e da Praça São Miguel;
  • Aquisição e implantação do busto de São Miguel na entrada da cidade;
  • Reforma do Estádio Municipal José Batista da Paixão, incluindo recuperação e ampliação do gramado, construção de mini-arquibancada, colocação de bancos, arborização lateral e ampliação do vestiário;
  • Aquisição do terreno do CRELA, de 22 litros de área, e construção da quadra de esportes polivalente (inacabada);
  • Renegociação com a Go-gó para reaproveitamento da área de terras na saída para Bela Vista, loteamento e doação dos lotes a pessoas de baixa renda; doação por parte da Prefeitura, ora de materiais, ora de mão-de-obra para construção das casas, num total de 30, mais ou menos;
  • Aquisição de 12.000 metros quadrados de terreno na rua Guilherme Veloso, destinados à construção do hospital e fracionamento em lotes para construção de casas populares; construção da Creche José Calixto, nesta área;
  • Aquisição de 4.000 metros quadrados de terreno na Av. Alcides Pereira de Castro no cruzamento da rua Guilherme Veloso para futuras instalações de órgãos públicos;
  • Reforma e ampliação do prédio do Posto de Saúde;
  • Reforma total dos três pavilhões do Colégio Estadual Adonias Lemes do Prado, em convênio com a Prefeitura e Secretaria de Estado da Educação;
  • Reforma da quadra de esportes do Col. Est. Adonias L. do Prado (recursos da Prefeitura);
  • Aquisição de 1 (um) alqueire de terreno no perímetro urbano para construção de 93 casas populares (recursos da Prefeitura) e assentamento do Bairro São Francisco de Assis;
  • Construção de 37 casas no Bairro São Francisco de Assis, com participação da Prefeitura, do Governo do Estado e do povo;
  • Ampliação da rede elétrica da cidade, com implantação de redes trifásicas de energia (recursos da CELG);
  • Construção da casa paroquial, reforma da igreja e do Centro Comunitário, com a ajuda da comunidade;
  • Pavimentação de 595 metros quadrados na Av. Alcides Pereira de Castro (bloquetes);
  • Construção de 625 metros quadrados de passeios de concreto (calçadas) na Praça Sebastião Gonçalves da Silva e 485 metros quadrados na Av. Alcides Pereira de Castro;
  • Colocação de 2.000 metros lineares de meios-fios distribuídos em diversas ruas da cidade;
  • Construção do escritório da CELG (convênio - obra inacabada);
  • Reforma e manutenção do Cemitério Público;
  • Arborização do centro da cidade, com plantação de munguba;
  • Arborização da Av. das Palmeiras, com plantação de palmeiras;
  • Arborização da continuação da Av. das Palmeiras, rumo norte, mediante o plantio de 8.000 pés de eucaliptos, 90 jabuticabeiras, 90 mangueiras e 120 laranjeiras;
  • Serviço de limpeza constante da cidade, com coleta de lixo;
  • Abastecimento da cidade com rede de água tratada (Sistema Saneago);
  • Órgãos implantados e em funcionamento: Posto Bancário (BEG); Posto Telefônico (Telegoiás); Posto dos Correios e Telégrafos; Posto de Representação do INAMPS; Agenfa (sistema de fiscalização em convênio com o Estado); Serviço de Cadastramento do INCRA; Serviço de Alistamento Militar; Serviço de Alistamento Eleitoral; Serviço de Expedição de Carteira de Trabalho; Serviço de Xerox mantido pela Prefeitura; Posto da Emater-GO (convênio).

                                                  Capítulo V


           O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO,
                      DO ESPORTE E DO LAZER


1. O projeto educacional

Minha militância na área da educação, com experiência de sala de aula e de direção de colégio, foi-me valiosa. Conhecia de perto as deficiências humanas do lugar e as dificuldades físicas de funcionamento da escola, com sinais evidentes de precariedade em todos os setores. Sabia que era urgente promover a reformulação de todo o processo educacional global do Município, já que os problemas se faziam sentir não só na cidade, mas também nas escolas rurais.
Por outro lado, já havia a preocupação de imprimir  o desenvolvimento integrado da cidade e do campo, na esperança de que o progresso alcançasse o Município como um todo. E foi aí que nasceu a idéia de transportar os alunos da zona rural para estudar na escola da cidade. Aliás, o projeto foi considerado, na época, ousado e pioneiro na região.
Acreditava-se que era preciso desenvolver a cidade com urgência, porém não sem o cuidado de preservar o homem do campo no local onde fora criado e onde aprimorara suas potencialidades e conhecimentos, para que pudesse extrair da terra não só o sustento de sua família, mas também para contribuir de maneira mais eficaz com a geração de riquezas da qual o novo Município era tão carente.
Era desejo nosso ainda investir na qualidade do ensino, que se ressentia de um melhor cuidado devido principalmente à distância da sede do Município, antes da emancipação. E como nos mostra a história, a exemplo dos povos bem-sucedidos que fizeram da educação a sua bandeira, para nós era prioritário o projeto educacional, como ponto de partida para o nascimento de um Município forte e com perspectivas alvissareiras.
                                              

2. O transporte de estudantes

            Além dos objetivos educacionais, tínhamos em mente que o transporte de estudantes poderia resolver também outras duas distorções: a deficiente geração de riquezas no campo e a desintegração da família rural.
            Quanto à geração de riquezas no campo, era imperioso incrementá-las, seguindo as pegadas da vocação rural observada no Município. Não era vantajoso para o desenvolvimento municipal fechar os olhos para o êxodo rural e deixar que fluísse livremente, porque a cidade não oferecia nenhuma possibilidade de emprego que pudesse absorver qualquer mão-de-obra.
            Então era ali, na sua comunidade rural, que a família merecia alcançar os seus objetivos e trilhar os caminhos da felicidade. Mas para isso era necessário que o Poder Público facilitasse o acesso das crianças, adolescentes e jovens aos meios de educação, em igualdade de condições com os estudantes da cidade.
            Com relação à questão da desintegração da família rural, fui criado em um regime familiar que concebia o princípio segundo o qual, aconteça o que acontecer, marido e mulher deverão estar sempre juntos, acreditando assim que Deus se manifesta no relacionamento dos dois, emergindo daí a solução para cada um dos problemas que surgem, quer vindos da vida conjugal, quer da relação pais e filhos.
            E a realidade mostrava-nos a experiência de inúmeras famílias rurais que, na ânsia de dar escola e de perseguir um futuro melhor para os seus filhos, a esposa mudava-se com as crianças para a cidade, ficando o homem sozinho na roça, para trabalhar a terra e levar-lhes o sustento.
            Só nos finais de semana que a família se reunia por completo, o que era muito pouco para um projeto educacional familiar que deve ser contínuo. Era uma semana inteira em que ele não sabia direito o que estava acontecendo com sua mulher e com seus filhos. Os problemas de casa que requeriam solução imediata, especialmente com relação aos adolescentes, ela era obrigada a resolver sozinha, quando não ficavam acumulados à espera do marido.
            Além do mais, o exercício de estimulação conjugal ficava prejudicado com essa separação familiar provisória e forçada, dando lugar ao surgimento de eventual aventura amorosa, tanto da parte dele que estava sozinho na roça, quanto da parte dela, que se via assediada constantemente e indefesa, num mundo que não era propriamente o dela. E na maioria dos casos a família era flagrada pela triste realidade do esfacelamento.
            Foi aí que criamos o PAE - Programa de Assistência ao Estudante. E a partir daí a Prefeitura passou a investir pesado nesse setor, contratando viaturas para transportar alunos de todas as regiões do Município. Já no primeiro ano de administração foram transportados diariamente mais de uma centena de alunos da zona rural para a cidade.
            Como numa administração municipal uma coisa puxa a outra, tudo foi cuidadosamente calculado para que tivéssemos as condições necessárias não só para pagar os “carreteiros” dos estudantes, mas ainda para promover a abertura e conservação das estradas, fato este que custou altos sacrifícios para sua viabilização.
            Sobre o programa, assim se expressou a professora Dalva Batista de Lima, na época: “Quero parabenizar o Prefeito e a Primeira-Dama de nossa cidade pelo trabalho sério, competente e honesto que estão fazendo à frente de nossa Prefeitura. Não só têm feito ao Município, mas também junto ao Colégio, transportando alunos de vários locais para que possam ter um bom aproveitamento. Além do transporte de estudantes, estão dando o maior apoio aos professores e ao desenvolvimento de ações fortalecendo as escolas rurais.”
                                              
           
3. O reerguimento do Colégio
                                              
            Entendíamos também que para desenvolver a educação como imaginávamos, era preciso melhorar o nível do Colégio, tanto da estrutura física, “que era de dar vergonha”, quanto da qualidade do ensino ministrado pelos nossos professores.
            O ensino foi municipalizado. O prédio do Colégio foi reformado, tendo a Secretaria Estadual da Educação repassado à Prefeitura verba suficiente para a realização da obra.
            À época, em entrevista a um jornal, fizemos a seguinte colocação: “O PAE - Programa de Assistência ao Estudante, criado pela Prefeitura, é de uma importância incalculável para nossa administração. Um Município que está querendo caminhar para o futuro, deve começar melhorando a educação. Para construirmos o Município do futuro, de que temos falado tanto, teremos de iniciar pela melhoria do nível de ensino das nossas escolas. Por isso começamos transportando estudantes e contratando cinco professores de nível universitário” (Jornal Correio do Sudeste, julho/1990).
            Um desses professores, João Bosco Pires, formado em geografia pela UFG, após o primeiro ano letivo, observava: “Este ano o Colégio mudou da água para o vinho. Os professores estão cumprindo horário direitinho e até os alunos se conscientizaram de que a coisa melhorou. É gratificante para o professor ver que o Colégio saiu de uma situação precária, quase morrendo, para uma melhora de cem por cento sob o comando da Prefeitura. E o aluno, vendo que a coisa está sendo feita com seriedade, se esforça na sala de aula para ser sério também.”
Depoimento da aluna Vagna Maria da Silva, de 13 anos de idade e que cursava a 6ª série: “Ando diariamente 24 quilômetros numa camionete, do Rio dos Bois até a cidade. A viagem até a escola torna-se mais cansativa ainda porque tenho de andar mais 2 quilômetros a pé, até o ponto de espera. Porém, mesmo com tanto esforço, vale a pena. O Colégio este ano está bem mais organizado. Não há mais aquela questão de você viajar com sacrifício e não haver aula. Ficou mais difícil o ensino, mas está melhor assim.”
Houve um momento em que a Secretaria Estadual da Educação decidiu fechar o curso de 2º grau. Seria um retrocesso muito drástico para a vida da população. Fomos atrás, protestamos, mas não houve recuo por parte do órgão superior de ensino.
Diante daquela contingência, não tivemos nenhuma hesitação. A Prefeitura assumiu a responsabilidade do pagamento dos professores e prometeu bancar os demais custos que o curso exige, para que não fosse ele extinto. Diante disso, a Secretaria Estadual da Educação não teve argumentos para fechar o curso.


4. Os principais investimentos na área da educação

  • Implantação do Programa de Assistência ao Estudante - PAE, com transporte diário de estudantes da zona rural para a cidade, cujo número de jovens e adolescentes atendidos passou de 200 no ano de 1992, com abrangência de todo o Município.
  • Merenda escolar para toda a rede municipal de ensino, em convênio com SEMAE.
  • Fornecimento de materiais escolares para toda a rede de ensino, com distribuição de cadernos personalizados, lápis, borrachas e livros.
  • Distribuição de “kits” escolares para o ensino fundamental, constituídos de mochila, quatro cadernos, uma cartilha de aritmética e uma coleção ecológica. 
  • Cursos periódicos de reciclagem e aprimoramento para merendeiras e professores, mantidos pela Prefeitura.
  • Convênio para sustentação dos Projetos Lumem e Supletivo, para abrir maiores possibilidades de aprendizagem aos interessados.
  • Sustentação pela Prefeitura de oito professores estaduais, três auxiliares de secretaria e o Diretor do Colégio.
  • Aquisição de uma fanfarra para o Colégio, composta de 12 elementos.
  • Criação e manutenção da Biblioteca Pública Municipal.
  • Constante promoção de gincanas, jogos estudantis, desfiles escolares etc., todos com recursos municipais.
  • Reforma da quadra de esportes do Colégio.
  • Ativação e reforma total da Escola Sinhá de Lulu.
  • Criação da Escola Municipal Jovita Alves, na região da Mumbuca.
  • Reforma e ampliação, com residência para professor e cantina: da Escola N.S.de Fátima (Passa Quatro dos Brandão); da Escola João Ramos de Souza (Aborrecido); da Escola Ver. Alcides P. de Castro (Buriti).
  • Reforma simples e pintura: da Escola Deodoro Luiz Brandão (Capim Puba); da Escola União (Passa Quatro de Cima); da Escola Nico Tavares (Monjolinho); da Escola Antonio Vieira da Mota (Rio Preto); da Escola Ranulfo Rodrigues Pereira (Zé Alonso); da Escola Maria Ribeiro Magalhães (Aborrecido de Cima); da Escola Santa Luzia (Água Vermelha de Cima); da Escola Alfreu Ribeiro de Miranda (Água Vermelha dos Ciríaco); da Escola Canavial (Canavial); da Escola Estrela Dalva (Matoso); Aquisição de uma Kombi zero-quilômetro, para viabilizar o atendimento às escolas municipais.


5. A biblioteca

            O poeta Salomão Sousa escreveu que “A palavra é o início de todo gesto criativo. A palavra desenvolve o pensamento, constrói a casa, abre o caminho que vai ao rio. A palavra determina, provoca a nossa decisão. Caso não existisse a palavra, seríamos simplesmente um animal agindo. Já que temos a palavra, não só agimos, somos.”
            Na esperança de que o passaquatrense, especialmente a população estudantil, aprendesse a conviver com a palavra através da leitura, criou-se a Biblioteca Pública Municipal Dom Fernando Gomes dos Santos.
            Sobre a biblioteca noticiou o jornal “O Patrimônio”:
                       
“Está inaugurada a nossa biblioteca. A festa aconteceu no final de junho e contou com a presença de muita gente e de atrações como lambada e quadrilha. O acervo é riquíssimo. Há ali livros importantes para pesquisa, lazer ou enriquecimento da cultura. Faça uma visita. A Biblioteca Dom Fernando Gomes dos Santos é um presente para quem quer se instruir” (edição de julho/agosto-90);
“No início de junho o Prefeito Elson Gonçalves esteve na Secretaria da Cultura do Estado para cumprimentar o amigo Geraldo Coelho Vaz, que tem propriedade em São Miguel. Ele vem lutando na Secretaria para dar vida ao seu projeto de interiorização da cultura, embora contando, por enquanto, com minguados recursos. Durante a visita de Elson, Geraldo Vaz doou para a biblioteca do Município cerca de cem livros de autores goianos” (edição de julho/agosto-91);
“A nossa juventude está lendo mais. Esta é uma notícia que deve ser recebida com festa. Os livros da Biblioteca Dom Fernando Gomes dos Santos estão sendo procurados cada vez mais pelos jovens passaquatrenses tanto da zona urbana quanto rural. Isso significa que São Miguel do Passa Quatro está plantando um futuro mais brilhante e promissor. Os investimentos da Prefeitura na área da educação hoje significam a maior realização da atual administração” (edição de outubro-91).


6. A Bandeira do Município

            Na presença do Secretário da Cultura de Goiás, Geraldo Coelho Vaz, do escritor Valdivino Braz, da grande maioria dos vereadores, estudantes e o povo em geral, todos reunidos em grande festa, fizemos a entrega da Bandeira do Município de São Miguel do Passa Quatro à população. Ela foi escolhida através de concurso público vencido pela silvaniense Maria Alice e Pereira.
            Maria Alice e Pereira, uma silvaniense de 41 anos de idade e curso superior em licenciatura, desenho e plástica, foi a vencedora do concurso para a escolha da Bandeira do Município, promovido pela Prefeitura Municipal e pelo Colégio Estadual Adonias Lemes do Prado. A vencedora recebeu da Prefeitura um prêmio simbólico de um salário mínimo. 
            A comissão julgadora foi composta de cinco membros: Gilberto Vieira Machado (Secretário da Prefeitura e presidente da comissão), Eudécio Gonçalves de Melo (odontólogo e professor), Antonio Pires Basílio (professor), Dalva Batista de Lima (professora) e César Antonio de Oliveira (vereador).
            O significado do desenho e das cores da Bandeira:

Verde - aspecto ecológico da região, como matas e cerrados e as riquezas das pastagens;
Branco - fé, paz e união existentes entre os moradores de São Miguel do Passa Quatro e ainda a grande produção de leite do município;
Galhos de arroz e soja - riqueza agrícola da região;
Azul - luta de um município em desenvolvimento;
Livro aberto - educação e cultura no centro de todo o empreendimento administrativo;
Triângulo - os três princípios básicos de um povo: liberdade, igualdade e fraternidade;
Sol - representa o nascimento de um município, refletindo a luz do alto que dá força, coragem e dinamismo para enfrentar todos os obstáculos na luta pela união e crescimento.


7. O futebol como fonte de lazer e de integração municipal

            Durante a campanha eleitoral com vistas à Prefeitura, tivemos a oportunidade de visitar cada canto do Município recém-criado, de conhecer melhor seus habitantes, seus usos e costumes, a riqueza e a vocação para o crescimento mostradas por cada região.
            Um fato que nos chamou a atenção desde o início foi a falta de integração populacional. Assim, a região do Passaquatinho e da Cachoeira tinham ligações comerciais e afetivas com Bela Vista e não com o restante do Município; o Rio Preto ainda continuava preso a Silvânia, para onde era escoada a produção leiteira; o Rio dos Bois de Cima e o Aborrecido eram mais ligados comercialmente a Vianópolis; as regiões do Matoso e do Buriti tinham grande parte de seu eleitorado vinculada a Cristianópolis.              Via-se, pois, que do ponto de vista sociológico o novo Município era desintegrado e não havia ainda um sentimento de municipalidade, de patriotismo e muito menos de bairrismo com relação à unidade municipal. Esta, inclusive, simplesmente não existia. Contudo, percebia-se uma enorme perspectiva e até mesmo curiosidade das pessoas para com a nova realidade, fato que nos fazia vislumbrar um campo fértil para um trabalho nesse sentido.
            Com base nessa constatação, sabíamos que uma das primeiras providências à frente da administração municipal deveria ser a promoção da integração social, cultural e econômica do Município. E era urgente fazê-lo, enquanto se achava viva a euforia da população. Mas como? Esta era a grande pergunta que nos tirou o sono durante largo espaço de tempo.
            A resposta veio em seguida: através do futebol. E decidimos unir o útil ao agradável para fazer o primeiro teste. E foi assim que no dia festivo da posse e instalação do Município fizemos constar do programa um encontro futebolístico entre a seleção local e a de Vianópolis. E convidamos como atração principal três jogadores profissionais como reforços para o time de Passa Quatro, que aparentemente era mais fraco: os jogadores Marçal, do Atlético Goianiense (filho de Passa Quatro); Cláudio, do Goiatuba-GO; e Carlos Alberto Santos, ex-Goiás e jogando no Botafogo do Rio de Janeiro. Os dois últimos, filhos de Vianópolis.
            Foi uma festa memorável. Havia pessoas de todas as partes do Município, numa forte evidência de que estávamos no caminho certo. Passa Quatro venceu por 5 x 0 com gols de Carlos Alberto 2, Marçal 2 e Agnaldo 1.
            O time de Passa Quatro formou-se com Zé Tatu (Nivon), Felisberto (Alberto), Jackson, Toinho, Jeocivaldo (Dinair), Rubens, Zé Mendes (Agnaldo), Carlos Alberto, Leomar, Marçal e Cláudio. Técnico: Manoel Tobias da Silva. A esquadra de Vianópolis formou-se com Silvio, Jales, Edney, Waldevade, Geraldinho, Wilson, Silvano, Hirley, Egmar, Zé Burrego e Morival. Técnico: Edinho.
            Passada essa fase, pensamos então na promoção de um campeonato municipal que viesse agregar todas as regiões do Município. E qual não foi a nossa satisfação em presenciar o intercâmbio da população através do futebol. Regiões que antes nunca haviam se comunicado, como Passaquatinho, Buriti e Matoso, por exemplo, dos extremos norte e sul respectivamente, congraçavam-se em idas e vindas, em cumprimento da tabela do campeonato. E a integração municipal ia-se fazendo aos poucos, gradativamente e sem pressa, de maneira festiva mas sem interrupção do processo desenvolvimentício municipal.

8. O campeonato municipal de futebol

            Para promover o campeonato municipal de futebol foi criada uma comissão de esportes, através de ato do Prefeito, que ficou assim constituída: Presidente - Ver. Manoel Tobias da Silva; Vice-Presidente - Jaeme Marçal Chaveiro; 1º Secretário - João Batista; 2º Secretário - Ver. César de Oliveira; Membros Executivos -  Domingos Paixão, Nelcely e Dinair.
            Nessa mesma ocasião foram livremente criados dez clubes para participarem do primeiro campeonato: Cruzeiro, São Miguel, Chapada, Estrela Dalva, Juventude, Ipiranga, Passa Quatro, Buriti, Prefeitura e Aborrecido.
            O Torneio Início que abriu a temporada de disputa do primeiro Campeonato Municipal de Futebol Amador de São Miguel do Passa Quatro foi realizado no dia 30 de abril de 1989, mediante a entrega de dez jogos de camisa e dez bolas aos times participantes, numa cortesia da Prefeitura Municipal e do então Deputado Rubens Cosac.
            No dia 5 de novembro de 1989 o campeonato chegou ao fim, com o time do Cruzeiro sagrando-se o 1º campeão da história futebolística do Município, quando venceu o São Miguel por 1x0, em partida tensa, bastante disputada, mas com timbre de cordialidade.

Formação do Cruzeiro Futebol Clube: Nelson Catita, Wilmar Ferreira (Hélio Madola), Jonas, Felisberto, Geocivaldo, Manoel Tobias (Klender), Romero (Jean), Almerindo, Jander, Joaquim Tolete e Waber;
Formação do São Miguel Futebol Clube: Zé Tatu, Alberto, Jakson, José Fernandes, Toim do Zé Orlando (Nilcinho), Rubens, Zé Mendes, Leomar, Chico Santa Bárbara, Agnaldo e Altair.


9. Investimentos no esporte

  • Reforma do Estádio Municipal José Batista da Paixão, incluindo recuperação e ampliação do campo gramado, construção de miniarquibancada, colocação de bancos personalizados, arborização lateral e ampliação do vestiário;
  • Construção e preservação de campos de futebol nas comunidades do Grupo União, Capim Puba, Rio dos Bois de Cima, Aborrecido, Matoso, Água Vermelha de Cima, Chapada, Rio Preto e Buriti;
  • Criação e manutenção do Campeonato Municipal de Futebol Amador, como fomento ao esporte e principalmente como meio de integração populacional, na esperança de que o entrelaçamento, o entretenimento e a amizade viessem incutir nos passaquatrenses o sentimento de patriotismo e de municipalidade;
  • Criação e manutenção da escolinha para a formação de atletas do futebol, recebendo crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos de idade, tendo sido contratado o ex-atleta profissional Murilo para o encargo.


Capítulo VI

                    A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
                          ATIVIDADES RURAIS



1. O transporte de estudantes. A precariedade e a inexistência de estradas

Concebido o Programa de Assistência ao Estudante - PAE, talvez uma das maiores conquistas do produtor rural que quer continuar no campo, era preciso viabilizá-lo.
As dificuldades eram de toda monta. As estradas eram em número insuficiente e por isso era urgente a ampliação da malha viária municipal. As existentes eram quase intransitáveis, porque já havia uns seis anos que não recebiam reforma nem qualquer outra providência para sua conservação. E o que era pior: a Prefeitura não contava com nenhuma máquina nem recursos previsíveis para possibilitar o enfrentamento da situação.
O primeiro passo foi promover gestão junto ao CRISA, órgão do Governo do Estado, onde conseguimos uma ajuda significativa para patrolamento das estradas, incluindo máquinas, combustíveis e pessoal, resolvendo em parte o problema imediato.
Contudo não foi suficiente. Recorremos, então, aos nossos municípios vizinhos, que foram sensíveis aos argumentos que apresentamos e entenderam nossas dificuldades, enviando-nos patróis, caminhões e funcionários em regime de mutirão. Participaram os municípios de Cristianópolis, Bela Vista, Vianópolis, Orizona, Silvânia, Leopoldo de Bulhões, Pires do Rio, Palmelo e Santa Cruz.
Era comum a constatação em diversas regiões do Município, de crianças de 12, 15 anos de idade, que nunca tinham visto uma patrol antes. O susto e a perplexidade eram enormes, porque a presença dessas máquinas tornava-se um acontecimento inusitado, tal era o distanciamento dessas localidades com o progresso.


2. Aquisição de máquinas

            Aos poucos fomos equipando a Prefeitura com as máquinas essenciais para o desenvolvimento do setor mais produtivo, o rural.
            Primeiro adquirimos uma motoniveladora zero km, comprada com recursos próprios. Aquele negócio foi considerado na época como uma ousadia sem precedentes, visto que diversos municípios vizinhos, de tradição, não possuíam uma patrol ou a que tinham era muito velha para atender a demanda municipal.
            Em seguida compramos uma pá mecânica de grande porte e logo depois um caminhão basculante, todos com recursos municipais. Mencione-se que até o final do nosso mandato nenhuma dívida restava mais das máquinas adquiridas.
            É de se observar que, antes de contrair qualquer dívida concernente à aquisição dessas máquinas, chamávamos os funcionários da Prefeitura e os vereadores e colocávamos para eles, com antecedência, o que iríamos fazer. E os advertíamos das conseqüências que poderiam advir daquele ato, inclusive o atraso da folha de pagamento. Adiantávamos que era uma questão de idealismo, de estarmos dispostos ao sacrifício para apressarmos a implantação do Município.
            Era gratificante verificar que todos entendiam a nossa linguagem, porque deles sempre tivemos a autorização incondicional para praticar todos os atos que redundaram no aceleramento do progresso de Passa Quatro.
            As reclamações vieram somente no final do nosso mandato, porque foram exploradas de maneira maldosa, irresponsável e impiedosa pelos ex-companheiros político-partidários que se tornaram nossos adversários, diante da política administrativa por nós implantada de priorizarmos o bem coletivo em detrimento do interesse individual. Não vendo atendidos seus pleitos em proveito próprio, acabaram-se rebelando. Lamentavelmente, enquanto vivíamos vinte e quatro horas por dia com o pensamento voltado para a implantação do Município, alguns desses pseudos companheiros trabalhavam nos bastidores, difamando-nos covardemente junto às famílias mais ilustres, especialmente as dos meus amigos de infância, a fim de nos desacreditar perante a população.


3. As estradas e outros serviços prestados na zona rural. O PAPR

            Depois de equipada, a Prefeitura passou a dar assistência intensiva a todo o Município. Já no segundo ano da nossa administração, toda a zona rural era criteriosamente atendida com patrolamento de todas as estradas municipais, incluindo-se ainda a abertura de esgotos pluviais.
            Atendido todo o Município e já com a situação devidamente controlada, passamos ao aprimoramento dos trabalhos com o encascalhamento dos principais trechos das estradas municipais, notadamente as mais atacadas pela erosão.
            Uma das situações mais angustiantes na época era a ligação precária entre a cidade e a região do Rio dos Bois, passando pelo Buriti. Tratava-se de um dos maiores contingentes populacionais do Município, ligado ao núcleo urbano por uma estradinha estreita, cheia de curvas perigosas, e colchetes e porteiras quase que de cem em cem metros de distância uns dos outros.
            Planejamos então a abertura de uma estrada compatível com o fluxo do transporte, a chamada Estrada do Buriti. Tivemos muito trabalho para dar viabilidade ao projeto, devido ao desserviço prestado por um Vereador de oposição que, em nome de seus ciúmes politiqueiros - já que a estrada beneficiava seu reduto eleitoral, - cismou de tramar junto aos moradores da localidade um movimento para impedir que o benefício fosse para lá destinado.
            Louve-se aqui a atitude do Vereador Manoel Tobias da Silva, que assumiu a frente das negociações e acabou tornando-se o principal responsável pela execução da obra, que era de fundamental importância para alavancar o progresso regional.
            Por outro lado, como a grande fonte de renda do Município era a bacia leiteira e os produtores rurais reclamavam de maior assistência às suas propriedades, resolvemos atender suas justas reivindicações e lançamos o Programa de Assistência ao Produtor Rural - PAPR.
            Através do PAPR, pudemos providenciar diversos benefícios com custo zero para o produtor, como:
  • O encascalhamento de currais nas propriedades de Dr. João Paixão, Fazenda João de Barro, Fazenda do Watanabe, Fazenda do Paulo (cabeceira do Buritizinho), Fazenda do Dr. Sebastião Viana, Fazenda do Benedito Gregório, Fazenda do Joaquim Aleluia, Fazenda do Lenine, Fazenda do Inácio Aleluia e Fazenda Tavarina (Dr. Carlos), e outros.
  • Corte e nivelamento de terrenos nas propriedades de Abimael, de Walter Pinto, de Vicente Rosa, do Dr. Luiz (campo de pouso), do Dr. Carlos (Fazenda Tavarina), do Manoel Paixão, do Dr. Shenko, do Dr. Humberto, do Marcelo Batista, do Dr. Ernane (Rio Preto), de Jaeme Fernandes (Capim Puba), de Joaquim da Lica (Água Vermelha), e outros.
  • Represas de pequeno porte e barragem nas propriedades do Dr. Betinho, do Celinho do Zé Orlando, do Antonio Rosa, do Luziano, do Natal da Lica, do Elias da Pepita, do Paulo do Abel, do José Silva, do João do Otacílio, do Pedrão (fazenda de criação de gado holandês de raça), do Dr. José Antonio, do José Tobias, e outros.

4. Incentivos

            Através ainda das ações do PAPR, Programa de Assistência ao Produtor Rural, a Prefeitura procurou dar incentivos gerais à produção e à pequena indústria, da seguinte ordem:
  • Serviços de patrolamento e nivelamento de terreiros para olaria do Senitinho, Guito, Seu Ilídio, Elias da Pepita, filho do André, Pifânio, filhos do Joaquim Abrão, Pedro Aleluia, fazenda do João do Otacílio e Passaquatinho (diversos) e outros.
  • Doação de terreno (regime de comodato) para construção da Cerâmica do Jaeminho.
  • Doação de terreno (regime de comodato) para marcenaria do Waldemar e do Adauto.
  • Doação de cochos para confinamento de bois, sendo que apenas dois produtores apresentaram projeto satisfatório: Dr. Garcindo (para 300 bois); Dr. Tyrone (para 100 bois).
  • Serviço de corte com pá mecânica para silo, nas propriedades de Inácio Aleluia, Toinho do Zé Orlando, Armindo Pedro, Claudecy, Pedrão e outros.
  • Serviço de eletrificação rural subsidiado, conseguido junto à CELG: 1ª fase, 36 km; 2ª fase, 40 km. Só na primeira fase o benefício estendeu-se a cem propriedades rurais, num esforço conjunto da Prefeitura e do Deputado Geraldo de Souza.


5. A agricultura

Sabendo que o Município apresentava acentuada vocação não só para a pecuária, mas também para a agricultura, era preciso pensar no avanço dessa área como arma vital para o progresso e para a melhoria de vida da população.
Os produtores de soja, que já começavam sua expansão na parte norte e plana do Município, nada mais reivindicavam do que estrada para o escoamento do produto. E esse foi nosso principal cuidado naquele local. Após a aquisição das máquinas esse atendimento tornou-se viável por parte da Prefeitura.
Pensando no pequeno agricultor, naquele que não planta nem para o gasto porque não dá conta de pagar o preparo da terra, fomos em busca da solução para o problema. E no dia 27 de julho de 1989, portanto bem no início da nossa administração, conseguimos apresentar à população uma Patrulha Agrícola, composta de trator, carreta, grade e arado, doada pelo Governador do Estado, Henrique Santillo, oportunidade em que fizemos o lançamento do Programa de Assistência ao Produtor Rural - PAPR, com a finalidade de atender a todos os produtores rurais do Município.
A Patrulha Pgrícola tinha o objetivo específico de prestar serviços de aração e gradeação aos pequenos agricultores, obedecendo à ordem de instrução baixada pela Superintendência Municipal da Agricultura, no limite máximo de 15 horas individuais de trabalho a preço equivalente ao combustível gasto.
Desta forma, foram prestados os seguintes serviços de aração e gradeação: em 1989, 650 horas; em 1990, 620 horas; em 1991, 680 horas; em 1992, 690 horas.


6. A lavoura comunitária e a Emater

“Estamos lançando esse programa, juntamente com a Emater, em São Miguel do Passa Quatro, porque o Município tem um prefeito competente que se adiantou, com relação aos outros prefeitos, para o seu início. Seu dinamismo está demonstrado nos 15 tratores que aqui estão trabalhando no preparo da terra para receber o adubo e a semente, cujo plantio será feito por métodos modernos, para que não haja perda de tempo.”
Assim manifestou Nair Xavier, presidente da LBA, que pelos motivos acima explicados escolheu Passa Quatro para o lançamento do Programa de Lavoura Comunitária do Estado, marcado com um animado mutirão de máquinas e pessoal da comunidade rural. Isso em final de 1991. O Programa utilizou 30 hectares de terreno cedido pelo Sr. Garcindo Martins Pereira, para o plantio de arroz, com atendimento previsto para 40 famílias de baixa renda. O programa tinha a participação da LBA, que entrava com os insumos, a Emater, a Secretaria Estadual da Agricultura, a Prefeitura e a AGM (Associação Goiana dos Municípios).
No dia do lançamento do Programa da Lavoura Comunitária aconteceu também a inauguração do escritório local da Emater, viabilizado através de esforço incondicional do Dr. Garcindo, alto funcionário da Emater e proprietário no Município.


7. Pontes e bueiros

            Se na época da instalação do Município não havia estradas, diferente não era com relação a pontes. Era urgente construi-las. E para isso montamos uma equipe, dentre os funcionários da Prefeitura, para desincumbir-se da tarefa. E a duras penas, sem recursos suficientes, conseguimos desenvolver os seguintes serviços:
  • Construção de pontes: no Rio Passa Quatro, Fazenda do Zacarias; no ribeirão sem nome, na Fazenda do Evandro Vieira; ponte do Genésio Leão, no ribeirão Buritizinho; ponte do Francisco, no ribeirão Aborrecido; ponte do Dr. Múcio, no Rio Preto; ponte do Natal da Lica, no ribeirão Água Vermelha; ponte do Paulo do Abel, no ribeirão da Lama; ponte do Clarindo, no ribeirão Água Vermelha; ponte do Afonso Bernardes, em afluente do Rio Passa Quatro; ponte do João Pedro, em afluente do Rio dos Bois.
  • Reforma de pontes: no Rio Passa Quatro, ponte do Benedito Gregório (encabeçamento, vigamento e estivamento); no ribeirão Capim Puba, ponte do Jaeme (encabeçamento, vigamento e estivamento); no Rio dos Bois, ponte do Tobias Alves (estivamento); no Rio Preto, estrada para Silvânia (estivamento); no Rio Preto, Fazenda do Antonio Francisco (estivamento); no ribeirão Água Vermelha, ponte do Abel Fernandes (estivamento); no Rio Passa Quatro, ponte do Dovenir (estivamento).
  • Gestão junto ao Estado para construção da ponte sobre o Rio dos Bois, estrada para Orizona.
  • Construção de bueiros: afluente do rio Passa Quatro, na fazenda do Zacarias; região do Aborrecido, na fazenda do Vicentinho; região do Aborrecido, na fazenda do Miguel Rodrigues; região do Aborrecido, na fazenda do Geraldinho; região do Aborrecido, na fazenda do Emílio Farias; região da Mumbuca, na fazenda do Joaquim Aleluia; região do Rio dos Bois, na fazenda do Nego do Beleco.


8. O asfalto

            No terceiro ano de administração sentíamos que o Município já estava quase pronto para sua verdadeira arrancada rumo ao progresso. A base estava formada. Faltava, porém, ligar Passa Quatro à capital do Estado, por meio de rodovia asfáltica, com vistas principalmente ao efetivo escoamento da produção.
            E em outubro de 1991, depois de sucessivas gestões juntamente com outros prefeitos interessados, bem assim com os deputados representativos da região, conseguimos a promessa oficial do Governador do Estado nesse sentido.
            O jornal “O Patrimônio” acompanhou a conversa e publicou a matéria em edição de outubro/91, nos seguintes termos:

               “IRIS GARANTE QUE ASFALTO SAI LOGO


A maior reivindicação hoje de São Miguel do Passa Quatro, o asfalto ligando a cidade de Cristianópolis a Vianópolis, deverá ter parte dela atendida nos próximos meses. Pelo menos foi o que garantiu o Governador Iris Rezende ao Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira.

               Iris participava das comemorações do aniversário de Vianópolis quando, em praça pública, dirigiu-se particularmente ao Prefeito de Passa Quatro e afirmou que, devido à situação do Estado, não deverá implantar imediatamente todo o trecho solicitado, mas que pelo menos o primeiro trecho, de 18 quilômetros de Passa Quatro a Cristianópolis, será feito.

               Animado com as declarações de Iris, o Prefeito Elson acredita que assim o Município poderá crescer com mais rapidez. Essa primeira fase já atende grande parte das reivindicações de Passa Quatro.”




Capítulo VII

            O TRABALHO NA ÁREA SOCIAL E NA SAÚDE


1. A Política Social

Por ocasião da campanha política rumo à Prefeitura, tivemos a oportunidade de visitar todos os quadrantes do Município, entrando em contato direto com a classe menos favorecida, que sofre na pele as consequências da pobreza, da miséria e do abandono. Pudemos sentir de perto o enorme desequilíbrio social existente na zona rural, longe de ser menor do que na zona urbana. Pessoas carentes de tudo: de roupa, de alimentação básica, de escola, de assistência à saúde, de moradia e até mesmo de espírito.
Diante de tais constatações, fizemos um pacto com os nossos princípios humanísticos e religiosos de implantar uma política voltada para o social acima de tudo. A árdua tarefa foi entregue à primeira Primeira-Dama do Município, Aparecida Pires de Oliveira, mais conhecida por Dona Cotinha, que sempre foi uma vocacionada para o setor.
Certa vez um repórter lhe perguntou o que significava para ela ser Primeira-Dama. A resposta veio sem hesitação: “Não gosto dessa expressão, porque ela tem uma conotação de nos colocar num pedestal, distante das pessoas. Contudo, para mim, ser Primeira-Dama é poder fazer algo para os mais carentes; é me descobrir e me superar sempre mais para poder desempenhar um trabalho de doação em favor do meu semelhante; é ter condição de trabalhar e servir à comunidade; é encontrar a alegria e a felicidade no relacionamento com os mais humildes e os mais necessitados.”
O trabalho começou pelo cadastramento das famílias mais marginalizadas, o que exigiu da equipe da promoção social um levantamento criterioso, com incessantes visitas, acompanhamentos e até familiarização com os cadastrados.


2. O atendimento na área da saúde

O Município não possuía nada no campo da assistência social nem no da saúde. Assim, o trabalho assistencial foi iniciado mediante visitas de casa em casa, na cidade e na zona rural, com ajuda às famílias carentes de todas as maneiras possíveis.
Daí começaram a surgir os encaminhamentos de aposentadorias, com preparação dos papéis e acompanhamento até o resultado final. Na assistência à saúde, as pessoas eram, no início, transportadas em veículos cedidos por amigos ou mediante corridas especiais pagas pelos cofres públicos, porque a Prefeitura não dispunha ainda de ambulância e só possuía um veículo utilitário que servia ao mesmo tempo às emergências da saúde e ao gabinete do Prefeito.
A precariedade no setor da saúde constituía o maior dilema da administração recém-iniciada. Não havia condições assistenciais. Encontrou-se apenas um posto de saúde, cujo prédio, acanhado e muito antigo, estava quase caindo. Somente dois servidores do Estado prestavam serviços ali e a população não contava com atendimento médico nem odontológico. O posto não dispunha nem mesmo de materiais para primeiros socorros ou outros casos emergenciais.
Imediatamente a Prefeitura contratou um médico, que passou a atender quatro dias na semana; adquiriu um gabinete dentário completo e contratou um dentista.
Os serviços odontológicos passaram a ser prestados à população em geral, porém com prioridade aos estudantes, tanto da zona urbana quanto da zona rural. Dava-se também atenção especial ao trabalhador que se deslocava da roça a pé ou a cavalo, para compensar o fácil acesso dos moradores da cidade.
Certa vez, o jovem odontólogo responsável pelo setor, Eudécio Gonçalves de Melo, em entrevista ao jornal “O Patrimônio”, declarou que o tipo de atendimento talvez seja o ponto mais forte do posto de saúde de Passa Quatro, por dois motivos básicos: um deles porque a esterilização, algo muito discutido e que nem todos os serviços públicos levam a sério, ali era observada com rigor; outro porque o paciente era tratado como ser humano, isto é, com respeito, “coisa que normalmente na saúde pública não acontece, tendo em vista que simplesmente trabalham, sem se importar muito com o ser humano que está sentado na cadeira”.   
Além de todo esse trabalho, Dona Cotinha promovia o aviamento de receitas médicas a quem não podia comprar remédios; encaminhamentos para cirurgias, marcapassos; cadeiras de roda, tecidos para agasalhos a pessoas carentes, enxovais para recém-nascidos, colchonetes, filtros de água etc.
Somente em novembro de 1989, após muita insistência junto aos órgãos governamentais, foi conseguida uma ambulância zero-quilômetro para dar prosseguimento e garantir melhor qualidade ao atendimento na área da saúde. Pouco mais tarde, a Prefeitura adquiriu com recursos próprios uma kombi nova para o mesmo fim.
Já no segundo ano da administração a Prefeitura, usando recursos próprios, ampliou o prédio do acanhado posto de saúde, transformando-o em Centro de Saúde de maiores proporções, com equipamentos modernos fornecidos pelo Governo Estadual. A Prefeitura contratou quatro médicos, que se revezavam para proporcionar à população um atendimento diário e ininterrupto.
Além disso, o Centro de Saúde passou a estar sempre bem-servido de remédios para melhor atender à população carente. Vacinações eram realizadas no Município todo sistematicamente e a medicina preventiva transformou-se em realidade.


3. O atendimento na área social

No mês de dezembro de 1989 foi implantado um programa que previa a criação de um microssalão de corte e costura, onde, dentre outras atividades, deveria ser ensinado às mães gestantes carentes a fazer o enxoval dos próprios bebês, com tecido e material fornecidos pela ação social.
Ainda em dezembro de 1989, Papai-Noel também esteve presente na cidade, pela primeira vez em toda sua história. Mais de quatrocentas crianças receberam presentes, participaram de brincadeiras infantis e se deleitaram diante daquele fato inusitado. Para isso, no entanto, Dona Cotinha teve de empreender verdadeira maratona de coleta de doações junto aos comerciantes de Goiânia.
No Natal do ano seguinte não foram apenas as crianças que ganharam presentes. Mais de duzentas cestas básicas contendo arroz, feijão, óleo, bombril, café, açúcar, bolacha, macarrão, verduras, roupas, brinquedos, balas, balões e carne foram distribuídas à população carente do Município. E novamente o trabalho para arrecadar tudo isso não foi fácil, mas satisfatório. A Primeira-Dama buscou ajuda junto aos fazendeiros e comerciantes da região. Além de dinheiro em espécie, reuniram-se em doação seis vacas, três novilhas, dois porcos gordos, várias arrobas de arroz e de feijão, sem falar nos alimentos enlatados.
Registrem-se também os mutirões de fiandeiras que eram realizados freqüentemente. Um deles, ocorrido em maio de 1991, foi dos mais expressivos. Oitenta fiandeiras trabalharam alternadamente em 35 rodas de fiar, sem atropelos e com muita festa e união. As cardadoras também tiveram de alternar o seu trabalho, assim como as descaroçadoras de algodão, devido à grande quantidade de gente. Só batedoras de algodão havia 20; catadoras, 20 também. Foram beneficiadas mais de três arrobas de algodão, o que significa cerca de oito quilos de linha num só dia. Mais de 20 pessoas fizeram pintura em tecido e bordado. Dez máquinas de costura foram poucas para as quase 60 costureiras presentes. Também participaram do mutirão 15 crocheteiras.
Nesse mesmo dia as 42 alunas do curso de corte e costura também compareceram e, após o trabalho do dia, receberam os diplomas. Aproximadamente cem peças de agasalho foram confeccionadas, expostas e vendidas durante o mutirão, para beneficiar as pessoas carentes do Município.
Em 1992, no Dia das Mães, foram distribuídos para as mamães cerca de 300 cortes de tecidos, oferecidos pela Primeira-Dama. Houve celebração religiosa bastante participada. A barraca de piteira e bacuri causou sensação e curiosidade aos presentes, assim como o cartão em formato de coração com mensagens de amor e paz.


4. Creche José Calixto

Uma das maiores obras da Promoção Social foi a construção do prédio da Creche José Calixto, localizado na rua Guilherme Veloso, esquina com a rua 9 de janeiro, que exigiu de Dona Cotinha e sua equipe um trabalho intenso de mobilização da comunidade.
Conseguiu-se angariar junto aos fazendeiros cerca de 40 bezerros e um touro reprodutor, tudo para ser leiloado, e o dinheiro, aplicado na obra.
O funcionamento da creche começou quase que por acaso, com o atendimento a cinco crianças que estavam morrendo subnutridas, segundo alerta dos médicos. Com esse acontecimento, outras mais chegaram para serem atendidas e o número delas foi-se avolumando surpreendentemente. No início de 1992 a creche já contava com 70 crianças. E o novo prédio tinha capacidade para 300.
Praticamente todas as datas importantes eram comemoradas com as crianças da escolinha da creche, com suas respectivas mães e os funcionários. Na Páscoa eram distribuídos coelhinhos e ovos para mães e filhos. Teatrinhos eram constantemente apresentados, com a participação das próprias crianças da creche, para alegria de todos.


5. “Trabalho da Primeira-Dama não tem férias”

Com esse título o jornal “O Patrimônio”, edição de julho/agosto de 1990, traduzia o trabalho desenvolvido  na Promoção Social, já após um ano e meio de administração.
“O trabalho da promoção social de São Miguel do Passa Quatro, comandado pela Primeira-Dama do Município, dona Aparecida Pires de Oliveira, ou simplesmente Dona Cotinha, em vez de diminuir parece se superar de mês para mês, sempre na busca de melhor saúde e educação para os mais necessitados.
As atividades da Ação Social no mês de julho tiveram início com o atendimento a um senhor doente e pobre, sem condições para o trabalho. Toda assistência foi dada a ele, com medicamento em sua casa, doação de remédios e alimentos necessários à sua recuperação.
Duas crianças tiveram de ser internadas em hospital de Bela Vista. Uma, deficiente mental, passou muito mal, estando bem agora; a outra, com infecção nos ossos, devido a uma fratura mal cuidada, ainda está internada, mas passa bem.
A Promoção Social ainda alimentou duas famílias numerosas, de várias crianças, que passavam necessidade, e continua aviando receitas para os mais carentes. A Primeira-Dama conseguiu também da Prefeitura verba para cirurgia de algumas senhoras pobres.
Foram doados cobertores para os mais necessitados. Dona Cotinha tem visitado os bairros mais pobres para se inteirar das dificuldades do povo de Passa Quatro e assim poder ajudar de maneira objetiva a nossa gente.
Prosseguem as viagens da kombi a Goiânia, conduzindo pessoas para exames e encaminhamentos de aposentadorias. Os exames feitos são de raio X, ECG, sangue, urina, fezes, EEG e outros. Uma horta comunitária está permitindo à Promoção Social fazer refeições todas as sextas-feiras para as pessoas carentes.
Em julho a distribuição de remédios, alimentos, cobertores, agasalhos infantis e aviamento de receitas não pararam. O curso de costura, uma promoção da Primeira-Dama, já produziu os primeiros cobertores infantis.
Sobre a horta comunitária, resta dizer que todos os domingos está sendo feita, na praça central, uma feira para vender as verduras colhidas na semana, sendo que o dinheiro arrecadado ajuda a complementar as refeições das sextas-feiras.
Uma família de Bela Vista foi acolhida pela Promoção Social, recebendo agasalhos, alimentos e remédios. E já foi iniciada a preparação para o Natal, com a Primeira-Dama fazendo visitas aos fazendeiros do Município pedindo ajuda para a grande festa que planeja fazer este ano para a população de Passa Quatro.
Além de tudo isso, sobra à Dona Cotinha tempo para ajudar pessoas de municípios vizinhos que lhe procuram, quando o caso é muito sério. Uma senhora de Vianópolis precisou ser levada a Goiânia com urgência. Lá ela foi submetida a vários exames, tendo, finalmente, que se submeter a uma cirurgia para retirada de um tumor no crânio.”


6. Aposentados homenageiam Primeira-Dama

No final de 1990 Dona Cotinha foi homenageada pelos aposentados. Na oportunidade o jornal “O Patrimônio”, edição de março de 1991, fez a cobertura jornalística:

“Dona Cotinha tem trabalhado bastante para amenizar o sofrimento dos mais carentes. E foi por esta razão que os muitos velhinhos para os quais ela conseguiu aposentadoria, resolveram, juntamente com o presidente da associação que formaram, Seu Josemir, homenageá-la com uma festa no final do ano passado, entregando-lhe uma placa com palavras carinhosas de agradecimento.
A Primeira-Dama agradeceu a homenagem emocionada, lembrando que todo seu empenho se deve ao seu desejo de ver a todos felizes. Seu Josemir, na oportunidade, falou dos trabalhos que vêm sendo executados pela “mãe” dos aposentados e carentes do Município. A palavra “mãe”, por sinal, faz parte do texto inscrito na placa de agradecimento que lhe foi outorgada. Seu Josemir lembrou as doações de óculos conseguidas por Dona Cotinha e distribuições de cestas básicas semanais com recursos da própria Promoção Social, que arrecada verbas mediante venda de verduras de sua horta comunitária.”
No ano seguinte a homenagem se repetiu, tendo o jornal “O Patrimônio” traduzido o acontecimento da seguinte maneira:
“Aposentados de São Miguel do Passa Quatro promoveram dia 28 de dezembro festa para homenagear a Primeira-Dama do Município, Aparecida Pires de Oliveira, e o Prefeito Elson Gonçalves de Oliveira. Foram entregues placas aos dois e, uma surpresa dos aposentados, também ao Seu Josemir,  responsável pela organização da festa e pelas dezenas de aposentadorias conseguidas pela Promoção Social.

Josemir discursou elogiando o trabalho pioneiro de Dona Cotinha. Ele disse que os moradores de São Miguel e os aposentados em geral têm na Primeira-Dama uma verdadeira mãe. Chorando de emoção, pediu a Deus amor e paz ao casal e a todos os passaquatrenses.                                    

Cotinha, também chorando emocionada, agradeceu a homenagem, a segunda em três anos, e reafirmou  que  se  preocupa  muito com a população carente do Município.”

 

 

7. Resumo do que se fez na área social

·        Reforma e ampliação do Posto de Saúde, transformando-o em Centro de Saúde;
  • Aquisição de um gabinete dentário completo (recursos da Prefeitura);
  • Atendimento odontológico diário a pessoas carentes;
  • Aquisição de equipamentos para prevenção e pequenas cirurgias;
  • Assistência médica diária à população pobre;
  • Assistência com remédios a pessoas necessitadas;
  • Deslocamento diário de doentes para Bela Vista, Goiânia, Brasília, em busca de melhores recursos para casos especiais, exames, radiografias, cirurgias etc., contando o Centro de Saúde, para tanto, com uma ambulância e uma kombi;
  • Construção de onze casas populares em regime de mutirão;
  • Distribuição de 36 lotes a famílias de baixa renda, para construção da casa própria;
  • Reforma de casas e fornecimento de materiais de construção para moradores de baixa renda;
  • Elaboração e acompanhamento de processos de aposentadoria, incluindo o transporte do segurado a Goiânia para os exames periciais;
  • Criação da Fundação José Calixto, à qual ficou subordinada a creche;
  • Creche com 70 crianças pobres, mantida com a ajuda da Prefeitura, Semae e a população em geral que fornecia constantemente víveres e leite para a alimentação básica;
  • Fornecimento de aproximadamente 20 cestas básicas mensais para famílias carentes do Município;
  • Promoções constantes de registros de nascimento, identidade, passagens de ônibus, auxílio a pagamento de energia e contribuição ao INAMPS; agasalhos, enxovais para recém-nascidos, urnas para sepultamentos de indigentes, assistência em oftalmologia (consultas, cirurgias e óculos) e prestação de serviços de costura de roupas para pessoas carentes;
  • Outras promoções, como mutirões de fiandeiras, bingos, desfiles de moda, leilões, curso de corte e costura, sendo que toda  a renda e benefícios eram revertidos às pessoas pobres;
  • Festas comemorativas do Dia das Mães, dos Pais, festas juninas e natalinas;
  • Assistência efetiva aos doentes, com participação do Apostolado da Oração e de outras igrejas;
  • Transporte e acompanhamento de doentes pobres a Goiânia e a São Paulo, com liberação de cirurgias conseguidas junto à Secretaria de Saúde do Estado.


8. Dois fatos dignos de registro. A vinda de Emanuel


Durante todo o seu trabalho à frente da Promoção Social de Passa Quatro, Dona Cotinha fala de dois fatos notáveis que de certo modo mudaram sua vida.
O primeiro trata-se do atendimento a uma criança deficiente e pobre, filha do Seu Lazinho, que, segundo os médicos, não tinha a menor chance de andar. Mas ela acreditou no caso e a Prefeitura passou a levá-la a Brasília regularmente, às vezes de oito em oito dias. E devido à insistência da Primeira-Dama, no final do tratamento desenvolvido pela Rede Sarah de Hospitais a criança pôde receber o sagrado direito à autolocomoção.
O segundo fato começou com a descoberta da gravidez de Ina, uma doente mental de comportamento pacífico, já nos seus 36 anos de idade. Dona Cotinha acompanhou o caso até o nascimento do bebê, dando-lhe atendimento médico e tudo o que se fazia necessário. A criança nasceu sadia, mas no terceiro dia de vida apresentou distúrbios respiratórios e foi levada às pressas de Bela Vista a Goiânia, por carros da Prefeitura. Dez famílias estavam na lista para adotá-la, porque a mãe não reunia condição alguma para criá-la.
Após vinte dias de UTI no Hospital da Criança, no entanto, eis a notícia: o menino está de alta, mas tem problemas mentais. Diante disso, ninguém mais quis tê-lo em sua companhia. Reunimo-nos então com os nossos três filhos, que à época eram adolescentes, e no final da conversa decidimos adotá-lo.
Em janeiro de 1998 Valder Emanuel, o nome que lhe demos, fez 8 anos de idade. Jamais deixou de receber cuidados especialíssimos e diuturnos, notadamente por parte de Dona Cotinha, que nunca se furtou em dedicar pessoalmente tempo integral ao bem-estar e à saúde do menino, transpondo os obstáculos que se lhe apresentem e vencendo dificuldades as mais diversas, agarrada especialmente na força da oração.
Ao pequenino Emanuel não foi permitido ser uma criança normal como outra qualquer, mas também jamais deixou de ser a pessoa mais importante de nossa casa. Olho para aquele anjo inerte sobre a cama especial que mandamos confeccionar só para ele e me ponho a pensar sobre as coisas da vida para as quais a gente não encontra explicação e se vê lançado no calabouço da impotência humana. Porém, nunca foi tirada de nós, a certeza de que Emanuel existe não para ele, mas para nós, para nos fazer felizes. Porque ele se tornou o altar, o ponto convergente das nossas reflexões e o motivo da verdadeira alegria lá de casa. Alegria que é fruto do amor de Deus refletido nele. Alegria do Ressuscitado que superou a cruz e venceu a morte.
No dia 19/12/2007 ele nos deixou. Retornou ao convívio celeste de onde veio um dia. Não chorou, não fez cara feia, não teve convulsão. Na serenidade de seu rosto, na candura de sua expressão facial e na meiguice de seu semblante, a sua respiração foi desaparecendo de maneira lenta e silenciosa, até cessar de vez. Morreu tranquilo, no colo da mãe e na paz do Senhor.
Sua mãe chegou pouco antes e pressentiu que o pior estava por acontecer. Cautelosa e rogando aos céus as forças necessárias para enfrentar aquela situação de dor, foi até a pia e lavou e enxugou bem as mãos. Tomou o menino nos braços, ergueu-o o quanto pôde e entregou-o ao Pai Celeste, dizendo: “Pai, é com muita dor no coração que faço a entrega do meu filho e da minha missão. Se tiver chegado a sua hora eu o entrego. É duro pra mim, mas o Senhor sabe o que faz!”. Em seguida, sentou-se, agasalhou-o no colo e presenciou a sua respiração ir diminuindo aos poucos até parar de vez, enquanto lhe acariciava o rosto e pronunciava palavras carinhosas e ternas. Assistiram a tudo e deram forças à avó os netinhos Gabriel, Lucas, Wagner Neto e Mariana, crianças pequenas ainda. Eu cheguei em seguida, na hora que o padre Miguel (Miguel Carlos Dametto) ministrava a unção dos enfermos.


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